Supremo Tribunal do Brasil fortalece direitos indígenas em decisão histórica

  • Escrito por Vanessa Buchschlotter
  • BBC Notícias

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A tribo Xokleng vem travando uma longa batalha legal para tentar reivindicar terras que dizem ser suas

O Supremo Tribunal Federal do Brasil rejeitou esforços para restringir os direitos dos povos indígenas às reservas em suas terras ancestrais.

Seis dos 11 juízes decidiram na quinta-feira a favor da devolução das terras ao povo Shokling despejado.

Esta decisão estabelece um precedente para centenas de reivindicações de terras indígenas e espera-se que tenha consequências abrangentes para os direitos às terras indígenas.

A decisão foi recebida com comemorações e lágrimas de alegria por membros de grupos indígenas de todo o país.

Quem são os Xokleng?

Os Xokleng são um grupo indígena de cerca de 2.300 pessoas que vivem nas terras altas do estado de Santa Catarina, no sul do Brasil.

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O povo Xokleng foi expulso de suas terras por colonos no final do século XIX e início do século XX.

Foram vítimas de um dos desmatamentos mais brutais do final do século XIX e início do século XX.

Antropólogos documentaram como mercenários contratados para expulsar a tribo Xokleng de suas terras ancestrais coletavam as orelhas daqueles que matavam como recompensa.

A tribo Xokleng vive atualmente nas terras de Ibirama La-Klánõ junto com outros dois grupos indígenas.

Esses grupos receberam oficialmente direitos sobre a área de Ibirama La Clano – um terreno de 15.000 hectares (37.000 acres) – em 1996.

Mas eles dizem que suas terras ancestrais eram muito maiores antes de serem expulsos à força.

A sua luta por estas terras colocou-os em conflito com os produtores de tabaco e agricultores, que afirmam que trabalham a terra há décadas e não devem ser expulsos.

Qual é o problema?

Este caso específico remonta a 2009, quando o Instituto Ambiental de Santa Catarina desalojou o povo Xokleng de terras que fazem parte de uma reserva natural.

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Grupos indígenas instaram a Suprema Corte a decidir a favor de Xokleng

A tribo Xokleng recorreu da decisão com a ajuda da agência de assuntos indígenas do Brasil, Funai.

Num recurso interposto em 2013, as autoridades do estado de Santa Catarina utilizaram um argumento jurídico conhecido como “marco temporale” para defender o despejo de Xokleng.

Os proponentes do “Marco Temporal” argumentam que para que os grupos indígenas reivindiquem legalmente qualquer terra, eles devem provar que viviam nessa mesma terra quando a Constituição brasileira foi assinada em 1988.

O tribunal decidiu contra a família Xokleng, argumentando que eles não viviam lá em 1988 e não tinham quaisquer direitos sobre a terra.

Os apoiantes de Xokleng disseram que a decisão ignorou o facto de terem sido removidos à força há décadas para dar lugar a colonos maioritariamente alemães.

Xokleng levou o recurso até a Suprema Corte.

Por que a governança é importante?

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal do Brasil disse que o caso de Zuckling abriria um precedente. A sua decisão terá repercussões em centenas de conflitos semelhantes.

Com o Supremo Tribunal a decidir efetivamente contra o “marco temporo”, todas as disputas de terras em que este argumento foi utilizado podem ser contestadas em tribunal.

Será visto como um impulso aos direitos indígenas, que foram atacados durante a presidência de Jair Bolsonaro.

Bolsonaro disse que os direitos indígenas foram “longe demais” no Brasil e que um pequeno número de povos indígenas controla vastas extensões de terra que ele acredita que deveriam ser usadas para madeira, mineração ou agricultura.

Embora Bolsonaro tenha sido derrotado por seu rival de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições presidenciais do ano passado, o partido de Bolsonaro ainda tem influência na política.

O partido domina as duas casas do Congresso brasileiro e conseguiu bloquear a legislação proposta pelo presidente Lula.

No início deste ano, o Congresso reduziu as competências do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério do Indígena recém-criado pelo presidente Lula.

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