(Bloomberg) — O Banco de Desenvolvimento do Brasil pretende emitir títulos isentos de impostos para dobrar as operações de crédito para quase US$ 40 bilhões sem ajuda do Tesouro, segundo o diretor de planejamento e estruturação do projeto.
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Nelson Barbosa, que foi ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff e agora integra o BNDES, disse que os títulos serão vinculados a projetos de desenvolvimento em áreas que a instituição quer investir, como transição energética, inovação e infraestrutura . . Também estará disponível para investidores pessoa física, com isenção de imposto de renda.
“Uma de nossas metas é recuperar o tamanho histórico do BNDES, o que significa dobrar o tamanho do banco”, disse Barbosa em entrevista de seu escritório em Brasília. “Ao invés do Tesouro pegar emprestado e repassar o dinheiro para o BNDES, o próprio banco vai arrecadar o dinheiro.”
Segundo Barbosa, o BNDES historicamente pagou cerca de 2% do PIB do Brasil em empréstimos, ou 200 bilhões de reais (US$ 38,5 bilhões) em termos atuais. Para isso, será preciso dobrar o volume das operações de crédito, hoje pouco menos de US$ 20 bilhões, até o final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas, desta vez, o governo quer evitar os erros do passado, incluindo injeções massivas de recursos públicos que prejudicaram as finanças públicas e a credibilidade fiscal do Brasil. Financiada pelo Ministério da Fazenda durante os dois primeiros mandatos de Lula, a carteira de empréstimos do BNDES foi se expandindo gradativamente, chegando a US$ 200 bilhões no governo Dilma Rousseff, mais do que o Banco Mundial na época.
Grande parte do financiamento apoiou grandes empresas, como a gigante petrolífera estatal Petróleo Brasileiro SA e o frigorífico JBS SA, à medida que embarcam em aquisições ambiciosas e expansões globais. Junto com a chamada política de heróis nacionais, surgiram denúncias de que o banco favorecia aliados políticos e oferecia bônus generosos a seus funcionários com base no volume de operações de crédito que fechavam, o que gerou investigações de corrupção. As investigações internas do banco não encontraram irregularidades.
Agora, o BNDES vai direcionar seus recursos para atividades econômicas específicas que julgar necessárias para estimular o crescimento e o emprego, e não para empresas específicas. Barbosa disse que se o dinheiro acabar beneficiando um pequeno número de empresas de um determinado setor, será resultado do foco já feito, não da estratégia do banco.
“Nosso foco é mais em atividades do que em empresas”, disse. “Queremos estimular a inovação, a remanufatura e a inteligência artificial”.
Americana, Subsídios
Barbosa disse que o governo ainda está avaliando o impacto da implosão da varejista Americana SA no mercado de crédito do país. A empresa entrou com pedido de concordata no mês passado, depois de revelar um rombo de US$ 3,8 bilhões em seu balanço.
“Atualmente, há uma crise de liquidez concentrada no setor de varejo que pode ser resolvida pelo banco central e pelo próprio sistema bancário”, afirmou.
No entanto, o governo detectou uma desaceleração do crédito que pode ou não ser estrutural, disse, acrescentando que o BNDES intervirá se necessário, oferecendo linhas de crédito para micro, pequenas e médias empresas, bem como para quem precisa de trabalho. capital.
O banco também considera a cobrança de taxas de juros diferenciadas de acordo com o perfil do cliente. Apenas em alguns casos o preço será subsidiado.
“Os subsídios não devem ser demonizados, mas precisamos encontrar seu tamanho ideal e usá-los de maneira eficaz e transparente”, disse Barbosa, citando setores como inovação, sustentabilidade climática e transição energética como potenciais candidatos. “Se houver apoio do BNDES, será feito de forma transparente e para alguns setores selecionados.”
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