Supremo Tribunal Federal defende proteção de terras indígenas na vitória de Lula

(Bloomberg) — A Suprema Corte do Brasil rejeitou um esforço para limitar a criação de novos territórios indígenas, um impulso para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as comunidades tribais que ele prometeu proteger.

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Na quinta-feira, os juízes do tribunal decidiram por 9-2 contra um esforço legal que os líderes tribais disseram que teria limitado a sua capacidade de recuperar terras tradicionais, ao mesmo tempo que aumentaria as ameaças às suas comunidades e ao ambiente.

A decisão dará a Lula uma vitória no meio de uma série de eventos internacionais – incluindo a Assembleia Geral das Nações Unidas, que começou terça-feira em Nova Iorque – que ele está a usar para pressionar por financiamento global para a sua luta para proteger a floresta amazónica.

“Este resultado define o futuro da demarcação de terras indígenas no Brasil”, disse a Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, em comunicado. “Então vamos comemorar o resultado do grande poder dos povos indígenas do Brasil.”

O caso envolveu uma interpretação jurídica de parte da Constituição do Brasil de 1988 que estipula o direito das tribos indígenas de reivindicar terras que tradicionalmente ocupavam. A chamada teoria temporal de Marco teria limitado as reivindicações tribais às terras que ocupavam ou contestavam legalmente no dia em que a Constituição foi ratificada.

“É necessário reconhecer claramente os direitos dos povos indígenas e evitar qualquer retrocesso que reduza a sua proteção constitucional”, disse o juiz Cristiano Zanin, nomeado por Lula que votou contra as fronteiras propostas, durante uma audiência anterior.

O influente setor do agronegócio brasileiro e outras indústrias têm apoiado esses esforços. Mas os líderes tribais e grupos de direitos humanos apontaram para o facto de muitos povos indígenas terem sido forçados a abandonar as suas terras para protestar contra a mudança que, segundo eles, levaria a mais mineração, agricultura e exploração madeireira nessas terras.

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“Isso seria um retrocesso inimaginável, violaria os direitos humanos e sinalizaria que o Brasil não está cumprindo suas obrigações de proteger as comunidades que comprovadamente protegem melhor nossas florestas”, disse Maria Laura Canino, diretora da Human Rights Watch no Brasil. Enquanto o processo judicial continua e o Congresso está considerando legislação para codificar a teoria em lei, disse ele em comunicado em maio.

A batalha legal que durou anos se desenrolou num contexto de crescentes disputas sobre terras indígenas, especialmente durante a era do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O líder de direita, que prometeu não demarcar quaisquer novos territórios tribais durante o seu mandato, tem supervisionado o aumento das taxas de desflorestação na região Amazónica. O seu governo também enfrentou alegações de retaliação contra funcionários e grupos externos que apoiavam a protecção dos novos territórios, de acordo com um relatório da Human Rights Watch.

Lula assumiu o cargo em janeiro comprometendo-se a proteger os territórios existentes e a criar novos. Mas ele enfrentou oposição do Congresso conservador do Brasil, que em maio passado revogou alguns poderes do Ministério do Meio Ambiente.

A Câmara dos Deputados também aprovou o projeto de lei que tornaria o Marco uma lei temporária. Mas o Senado adiou a votação desta medida.

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Os legisladores conservadores que apoiaram o esforço indicaram que provavelmente pressionariam por uma mudança na constituição após a decisão do tribunal.

Marcos Rogério, relator do projeto no Senado, disse em nota que a decisão “causa preocupação” ao agronegócio. “O Congresso deve dar-lhes segurança jurídica.”

Nos últimos meses, Lula tornou o clima e o meio ambiente mais centrais em sua agenda no país e no exterior.

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Em agosto passado, seu governo divulgou programas de investimento em infraestrutura e outras iniciativas que descreveu como o início de uma transformação verde para a economia brasileira. Ele também organizou uma cúpula de países amazônicos para discutir estratégias de proteção das florestas e combate ao crime na região.

Lula aproveitou o evento para aumentar a pressão sobre os países mais ricos para que cumpram os compromissos financeiros que assumiram para ajudar o mundo em desenvolvimento a combater as alterações climáticas. Ele continuou a sua campanha na cimeira da ONU em Nova Iorque, onde se juntou a altos funcionários do governo para exortar os investidores e outros líderes mundiais sobre os planos verdes do governo.

Ainda este ano, Lula viajará a Dubai para participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), a cúpula anual do clima realizada pelas Nações Unidas.

-Com assistência de Beatrice Reis.

(Atualizações com a contagem final dos votos e comentários de Sonia Guajajara e do senador Marcos Rogério a partir do segundo parágrafo.)

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