Os evangélicos devem observar a Quaresma? O que dizem os seis teólogos brasileiros

No Brasil predominantemente católico, o maior festival cultural é o Carnaval, um espetáculo de fantasias atraentes, samba e desfiles barulhentos na semana que antecede a Quarta-feira de Cinzas. Devido à sua popularidade, todos no país sabem quando começa a Quaresma.

Estabelecida em 325 no Primeiro Concílio de Nicéia, a Quaresma foi observada por muito tempo na época em que os portugueses desembarcaram no que hoje é o Brasil no ano de 1500. Mas, apesar de sua longa história, o recente crescimento explosivo de evangélicos – especialmente pentecostais e neopentecostais – no Brasil levou a um declínio na observância da Quaresma. Ao contrário da Páscoa, a Quaresma pouco interessa aos protestantes, seja porque dão menos importância aos rituais litúrgicos, seja porque querem se distanciar das tradições católicas.

A CT perguntou a seis líderes e pastores brasileiros de diferentes denominações: Os evangélicos brasileiros devem deixar a Quaresma para os católicos? As respostas são ordenadas de não a sim.

Equisias Soares, pastor da Assembleia de Deus em Jundiaí, São Paulo, e líder da Sociedade Bíblica Brasileira

As Assembleias de Deus brasileiras não observam a Quaresma porque não seguem o calendário litúrgico cristão como as tradições católica e reformada. No entanto, celebramos feriados cristãos tradicionais como o Natal e a Páscoa e, em alguns lugares, estamos começando a dar lugar ao Pentecostes.

Além disso, os fundadores do pentecostalismo queriam distinguir claramente o catolicismo romano das igrejas que vieram da Reforma Protestante. Por exemplo, a Assembléia Geral das Assembléias de Deus de 1937 discutiu o uso da cruz na fachada das igrejas. Embora a cruz seja usada por igrejas evangélicas em outros países, Eles decidiram Não usar nenhum símbolo devido à “cultura pagã brasileira, que é cheia de ídolos, estátuas, ídolos e símbolos”.

Estas são provavelmente algumas das razões pelas quais não seguimos o calendário litúrgico.

Vanessa Belmonte, Palestrante em Formação Espiritual, Colaboradora do Labri Brasil

Os evangélicos não devem seguir esta tradição como um dever ou obrigação. No entanto, eles podiam vê-lo como uma fonte de formação espiritual. Não estou sugerindo que observem a Quaresma isoladamente, mas considerem adotar o calendário cristão completo, com cada estação destacando um tema diferente da narrativa da redenção.

Adoramos a época da Páscoa e a celebração da Ressurreição. Porém, não haveria Páscoa sem jejum, porque não há ressurreição sem cruz. A Quaresma pode nos enriquecer, permitindo-nos refletir sobre nossa fragilidade, nossa vulnerabilidade e nossa dependência de Deus. Somos encorajados a refletir sobre o sacrifício de Jesus por nós e a abrir espaço em nossa rotina para o autoexame, o jejum e a oração. A Quaresma é um tempo para praticar a abnegação e a doação no amor. É um período em que podemos nos preparar para a celebração da Páscoa e nos certificar de que entendemos o significado do que estamos praticando.

Tiago de Melo Novaes, Editor Associado da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência e Professor Visitante do Seminário Teológico Batista de Campinas

Ao contrário de outros períodos do calendário cristão, como Natal e Páscoa, nós, evangélicos, não estamos familiarizados com a tradição da Quaresma – mas deveríamos estar! Este período que antecede a Páscoa é particularmente importante porque nele reservamos 40 dias para uma prática contínua de autoavaliação e arrependimento diante de Deus, que nos prepara para reviver o ponto culminante da nossa história: a morte e ressurreição do Salvador.

Além disso, em tempos em que a exigência de produtividade domina nossos dias e nos obriga a buscar o lucro e o consumo, temos a oportunidade de vivenciar um tempo alternativo, marcado pelo descanso, jejum e oração. Ironicamente, o jejum durante a Quaresma sacia a fome de nossas almas, permitindo-nos meditar profundamente na Cruz e na Ressurreição. Quando os evangélicos praticam a Quaresma, é sinal de um coração penitente, contente e pronto para fazer a vontade de Deus.

Daniel Vieira, diretor meu projeto de escrita

A Quaresma, como toda tradição litúrgica, dirige nossa imaginação para o Reino. Os cristãos que seguem todo o calendário da Igreja entendem que ele nos ajuda a seguir Jesus semana após semana, desde o início de Sua missão no reino na Galiléia, até Suas jornadas pelas terras dos gentios, até Sua jornada para a Judéia.

A Quaresma é uma época que nos prepara para reviver a história de Cristo que entrou em Jerusalém montado em um jumento e recebeu o julgamento no Templo, antes de ser preso, julgado, julgado e crucificado em uma cruz romana, garantindo a vitória do reino de Deus.

Lo Muniz, pároco da Trinity Anglican Church em Vitória

Na tentativa de demarcar a distância estética e teológica de Roma, os evangélicos costumam fechar as portas que nos conectam com a história da Igreja e dão profundidade à nossa fé. A Quaresma costuma ser uma dessas portas. Essa abordagem diminui um dos parâmetros de nossa fé: a celebração da Páscoa, ou seja, a morte e ressurreição de nosso Salvador.

A Quaresma é um convite a viver esta data com toda a força e intensidade que ela merece. Num movimento de conversão, imersão e crescimento, entramos na história da vida de Cristo. Experimentamos expectativa e dor porque entendemos o valor e o custo da cruz. Há uma riqueza nesta experiência que todos os evangélicos devem compartilhar.

Gutierrez Fernandez Sequeira, escritor e jornalista

A importância da Grande Quaresma reside no desenvolvimento do tempo de penitência. Nós, evangélicos, tendemos a nos deixar levar pelo triunfo e ver a fé como entretenimento e celebração. Mas também é preciso cultivar tempos de memória, lamentação e silêncio. A Quaresma preenche este papel.

Reportagem adicional de Marisa Lopez.

[ This article is also available in
Português. ]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *