Luta pela química brasileira Grupo Braskem atrai licitantes estrangeiros – e o governo Lula

Uma disputa está em andamento para controlar a Braskem, a maior produtora de petroquímicos da América Latina, com os principais concorrentes, incluindo a gigante americana de private equity Apollo, uma empresa de petróleo do Golfo e uma das famílias empresariais mais proeminentes do Brasil.

O bloco tem participação majoritária em uma empresa de US$ 3,7 bilhões que opera fábricas em todo o país, bem como no México, nos Estados Unidos e na Alemanha, e fornece matérias-primas para tudo, de plásticos a tintas.

Além da Apollo, a venda atraiu a estatal de petróleo de Abu Dhabi, a dinastia por trás da produtora de carne bovina JBS, a também fabricante química brasileira Unipar Carbocloro – e até mesmo o governo brasileiro.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera o futuro da cidade paulista de Braskem de importância estratégica nacional, o que pode ter um impacto significativo no resultado.

Aos olhos de alguns no mundo corporativo do Brasil, o teste deve ser um teste decisivo de até que ponto o líder de esquerda está disposto a expandir o acesso do país à economia.

“Será uma pista se voltaremos a um governo que se intromete na dinâmica da concorrência privada, ou a um governo que fica fora do mercado”, disse um dos envolvidos no processo, que pediu para não ser identificado. . “É muito mais do que apenas vender uma participação em uma grande empresa.”

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Futuro da Braskem é considerado de importância estratégica nacional pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva © Mauro Pimentel / AFP via Getty Images

Um bloco de 38,3 por cento das ações da Braskem, que detém pouco mais da metade dos direitos de voto, é alienado pelo conglomerado brasileiro de construção e engenharia Novonor. Ela está em recuperação judicial e qualquer negócio exigiria a aprovação de cinco bancos com direitos sobre as ações como garantia de dívidas de cerca de R$ 15 bilhões (US$ 3 bilhões).

No entanto, a complexa estrutura de propriedade e a agenda industrial pragmática do governo Lula tornam as negociações longe de serem diretas. As negociações com outro potencial comprador, o LyondellBasell Chemicals Group, listado nos EUA, fracassaram em 2019.

A chave para o desenrolar da situação é a petroleira brasileira Petrobras, o outro grande investidor da Braskem com uma participação de 36,1 por cento.

Atendendo ao chamado de campanha de Lula, o negócio de energia controlado pelo estado está procurando diversificar além de seu negócio principal de bombear petróleo offshore. Uma das áreas visadas é a petroquímica, da qual saí no passado. Se a Novonor concordar em vender sua participação na Braskem, a Petrobras terá o direito de preferência.

A regulamentação da Braskem também estabelece que qualquer comprador deve estender sua oferta a todos os acionistas, incluindo a Petrobras e pequenos investidores minoritários.

Até agora, a Apollo fez parceria com a Abu Dhabi National Oil Company, ou Adnoc, com uma oferta de R$ 47 por ação. Consistia em R$ 20 em dinheiro, R$ 20 em bônus perpétuos com juros de 4% e R$ 7 em pagamentos diferidos na forma de garantias. A Goldman Sachs assessora o consórcio.

A oferta inclui uma avaliação de R$ 37,5 bilhões (US$ 7,7 bilhões) para a totalidade da Braskem – bem acima de seu valor de mercado de R$ 18,6 bilhões. Conforme estimado pelos analistas do BTG Pactual, é equivalente a menos de R$ 30 por ação com base no VPL.

Para a estatal Adnoc, a atração é uma entrada nas Américas, uma vez que embarca em uma investida internacional em produtos químicos, de acordo com uma pessoa familiarizada com a licitação.

A refinaria Duque de Caxias Petróleo Brasileiro SA no Rio de Janeiro, Brasil
A petroleira brasileira Petrobras é a outra grande investidora da Braskem © Andre Coelho / Bloomberg

Uma oferta de R$ 36,50 por ação do caixa foi feita pela Unipar, empresa industrial menor que a Braskem. Pretende adquirir 34,4% por R$ 10 bilhões e deixar 4% para a Novonor. A Unipar está sendo assessorada pelo banco de investimentos local BR Partners.

Outra oferta em dinheiro pela totalidade da participação de R$ 10 bilhões veio da J&F Investimentos. É a holding dos bilionários irmãos Batista, cuja família fundou a JBS, o maior frigorífico do mundo.

Enquanto o tamanho da licitação Adnoc/Apollo prevê a liquidação dos bancos credores, segundo pessoas a par dos detalhes, ainda que apenas em parte em dinheiro, nas outras duas licitações, uma parcela significativa da dívida de R$ 15 bilhões ainda seria paga.

Com as ações da Braskem listadas em São Paulo sendo negociadas em torno de R$ 23, o mercado acionário parece cético quanto às chances de uma aquisição.

A Petrobras disse que está realizando due diligence na Braskem, mas ainda não tomou uma decisão. Seu presidente-executivo, Jean-Paul Prats, ex-senador nomeado por Lula depois que assumiu o cargo em janeiro, disse recentemente ao Financial Times que a Braskem deve permanecer “sob o controle brasileiro”.

Pessoas envolvidas ou próximas à venda dizem que isso pode ser alcançado preservando os interesses da Petrobras junto com um co-investidor local ou estrangeiro.

O outro ator governamental envolvido é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é um dos financiadores que deve aprovar qualquer proposta. Seu chefe, também um aliado próximo de Lula, sugeriu que o próprio presidente deveria ter a palavra final.

Separadamente, um alto funcionário do governo, que falou sob condição de anonimato, disse que o caso está sendo analisado com cuidado. “Está em análise com o objetivo de impulsionar a indústria petroquímica no Brasil”, disse a pessoa.

A ação de Novounor teve suas raízes em um grande escândalo de corrupção ocorrido na última vez em que o partido de Lula esteve no poder. Mais tarde conhecida como Odebrecht, ela liderou um consórcio de empreiteiras que pagou propinas em excesso à Petrobras, executivos e funcionários públicos.

Dezenas de empresários e políticos foram presos, incluindo Lula – embora sua condenação tenha sido anulada posteriormente. Ela deixou a Odebrecht financeiramente e deu as ações da Braskem como garantia dos empréstimos.

As figuras centrais de cada uma das duas licitantes brasileiras em jogo também foram repreendidas. Os irmãos Joesley e Wesley Batista assinaram acordos de leniência com os queixosos e cumpriram pena na prisão.

O acionista controlador e ex-CEO da Unipar, Franck Geyer Aboubakar, foi multado por infrações, segundo ele, relacionadas à criação de uma empresa que posteriormente foi vendida para a Braskem.

“Cometi um erro em uma situação muito difícil, quase 15 anos atrás. Admiti, superei e aprendi com isso.”

Geyer argumentou que a oferta da Unipar representava o “melhor preço” e disse que tinha R$ 10 bilhões em compromissos de financiamento bancário. Ele disse que a experiência da empresa no setor, fundada por sua família há mais de meio século, a tornaria uma boa parceira de longo prazo.

“A Unipar possui a cultura e o conhecimento do setor”, acrescentou. “Gerenciamos as plantas petroquímicas e montamos as plantas que hoje fazem parte da Braskem.”

Jean Paul Pratis
O CEO da Petrobras, Jean-Paul Prats, disse ao Financial Times em uma entrevista recente que a Braskem deve permanecer “sob controle brasileiro” © Dado Galdieri / Bloomberg

Braskem, Novonor, J&F, Apollo e Adnoc se recusaram a comentar.

Qualquer novo proprietário enfrentaria um mercado petroquímico global fraco. A Braskem registrou prejuízo líquido de R$ 771 milhões no segundo trimestre, com queda de 30% na receita.

Um potencial complicador são as consequências de um desastre ambiental na cidade de Maceió, onde a Braskem operava uma mina de sal-gema. Devido a distúrbios geológicos, cerca de 60.000 residentes foram permanentemente evacuados.

Apesar de já efetuar os pagamentos, a empresa enfrenta mais pedidos de indenização e o pedido do governador do estado para suspender o processo de desinvestimento.

Dada a dimensão política e o consenso exigido de vários stakeholders, os envolvidos dizem que a propriedade da Braskem dificilmente será resolvida rapidamente.

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