Cientistas brasileiros descobrem uma nova forma de capturar carbono da atmosfera – MercoPress

Cientistas brasileiros encontram uma nova maneira de capturar carbono da atmosfera

Sábado, 16 de abril de 2022 – 09:48 UTC

Solo bem gerido é uma forma eficaz de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa
Solo bem gerido é uma forma eficaz de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa

De acordo com um relatório publicado pela Agência Brasil nesta sexta-feira, um grupo de cientistas deste país apresentou novas tecnologias que podem ser úteis para restaurar florestas e aumentar a absorção de carbono da atmosfera. 15 de abril foi o Dia Nacional da Conservação do Solo no Brasil.

Pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV) de Belém identificaram marcadores moleculares capazes de medir genes e proteínas que favorecem práticas de manejo e aumentam os estoques de carbono do solo.

O estudo inédito de genes e proteínas relacionados à ciclagem de nutrientes, fixação de carbono e saúde do solo começou em 2016 e está dividido em três vertentes: mapeamento de solos naturais, monitoramento de restauração de áreas degradadas e avaliação da qualidade do solo em projetos de arborização e sistemas agroflorestais. Nesta última etapa, o levantamento está vinculado à meta de restaurar mais 500 mil hectares de florestas no Brasil até 2030.

Os pesquisadores coletaram amostras de solo e, em laboratório, conseguiram mapear o DNA e as proteínas presentes. Segundo o coordenador do estudo Rafael Valadares, já foram feitas pesquisas em solos naturais, sistemas agroflorestais e solos afetados pela mineração. O estudo começou na selva amazônica, com análise de solo na Serra de Carajás, área de atuação da Vale, principalmente em campos rupestres enferrujados e na Floresta Nacional de Carajás.

Valadaris explicou ainda que nas áreas restauradas pelo Vale na floresta amazônica, “conseguimos demonstrar avanços na recuperação do ponto de vista da bioquímica do solo – que é o coração da floresta”. Ele explicou à agência de notícias brasileira Agência Brasil.

“A capacidade dos sistemas agroflorestais, que são sistemas mais conservadores que utilizam o cultivo de árvores frutíferas, é avaliada correlacionada com as espécies arbóreas. Em Linhares avaliamos a capacidade dos sistemas agroflorestais de armazenar mais carbono e se um sistema agroflorestal é ou não solo saudável. O objetivo é descobrir o sistema que contribui para um solo mais saudável”, disse à Agência Brasil.

O estudo é distribuído aos produtores rurais para que possam conhecer melhor o solo em que trabalham. “Com informações sobre o que está indo bem ou mal no solo, o produtor pode orientar técnicas de manejo para corrigir o erro. Da mesma forma, podemos comparar diferentes sistemas de cultivo, diferentes fazendas e indicar qual sistema contribui para a melhoria da solo em geral e que é degradante”.

Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas mostram que os solos respondem por cerca de 70% do carbono armazenado na Terra na forma de matéria orgânica. Isso é quase três vezes o que é armazenado na vegetação e cerca do dobro do que é armazenado na atmosfera.

Atualmente, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 33% dos solos do mundo e 52% dos solos agrícolas estão degradados, devido à erosão, pressão e poluição.

Segundo o especialista em solos e microbiologista Igor Assis, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o solo é fundamental para a vida na Terra. “O solo tem muitas funções, como produzir alimentos, fibras e combustível, mas também como sequestro de carbono, purificação da água – a água que sai da nascente costuma ser limpa porque o solo faz essa purificação; os poluentes degradam – muitos deles acabam no solo, e as próprias bactérias decompõem esses poluentes”, explicou.

Assis também enfatizou a importância do solo na regulação das cheias. Quando o solo é bem manejado e organizado, ele armazena uma enorme quantidade de água da chuva. Quando o solo se deteriora, fica compactado e não consegue armazenar essa água da chuva, que acaba indo até os rios, daí ocorrem as grandes enchentes que vemos hoje. A função do solo é ser fonte de recursos genéticos e farmacêuticos, que são utilizados diretamente pela população em nosso cotidiano.”

Para o cientista, a educação sobre os solos é essencial para a sobrevivência da raça humana.

“Temos um crescimento exponencial da população mundial e a quantidade de solo degradado está aumentando muito. Então, recebemos uma conta que não se acumula: a população está crescendo, precisamos produzir mais alimentos que o solo nos fornece como eles estão se degradando, e em um futuro não muito distante, muitos desses serviços vão trabalhar para ser feito, reduzindo-os drasticamente e isso afeta diretamente nossas vidas.”

Outro ponto de destaque é a recente discussão sobre a economia de baixo carbono, que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Este tema vem ganhando cada vez mais espaço ao redor do mundo.

Segundo o professor, solos bem manejados são uma forma eficaz de manter o carbono na forma orgânica, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e contribuir para o mercado de crédito de carbono.

“A questão das mudanças climáticas, relacionada à economia de baixo carbono, teve inicialmente a ideia de reduzir a emissão de dióxido de carbono na atmosfera, e hoje estamos trabalhando com duas áreas relacionadas a isso: reduzir emissões e sequestrar e esgotar o carbono que está na atmosfera. E o único componente que conseguimos fazer isso. O caminho mais fácil é o solo.”

Nesse sentido, para a precificação de mercado, os países criaram o chamado mercado de carbono, mecanismo que permite a venda de empréstimos de países que reduzem suas emissões desses gases para países que têm maiores dificuldades em atingir metas de redução.

No Brasil, o tema foi discutido na Câmara dos Deputados com o PL 528/2021, que levou à criação do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE). A proposta visa garantir a redução das emissões de gases de efeito estufa, a redução do aquecimento global.

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