Assessor do partido de Lula pede reforma das regras fiscais para aumentar gastos no Brasil

O principal assessor econômico do Partido dos Trabalhadores, de esquerda, que defende a volta ao poder nas eleições deste ano, disse que o Brasil precisa reformar suas regras fiscais e aumentar os gastos públicos para impulsionar o crescimento.

Guilherme Melo, professor de Economia da Unicamp, disse que a trilogia de leis fiscais do Brasil – há muito consideradas pilares da estabilidade para muitos nos mercados financeiros – está, na melhor das hipóteses, desatualizada e, na pior, “fora deste mundo”.

“Temos que rever as regras. A melhor coisa que podemos fazer é sentar e dizer: vamos falar sério. Precisamos de um novo conjunto de regras financeiras, pode ser uma regra, duas regras, um novo conjunto que respeite os princípios de boas regras financeiras”, disse Milo. Ele observou que líderes europeus, como Emmanuel Macron, da França, e Mario Draghi, da Itália, também estão pedindo uma nova abordagem da política fiscal.

Conhecido pelas siglas portuguesas PT, o Partido dos Trabalhadores é liderado por Luís Inácio Lula da Silva, ex-sindicalista que foi presidente do Brasil por dois mandatos entre 2003 e 2010. Prefere-se vencer o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro no eleições em outubro.

“[The new set of rules] Deve ser flexível, deve ser anticíclico, deve ajudar na estabilidade da dívida a longo prazo e deve ajudar o Estado no planejamento de gastos. Vamos alinhar as regras fiscais com a experiência global, disse Mello, que coordena a equipe de política econômica do think tank oficial do Partido Trabalhista.

Os gastos do governo brasileiro são restringidos por três regras: a Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece regras sobre transparência orçamentária; A regra de ouro, que impede o governo de contrair dívidas para pagar as despesas correntes; E o teto de gastos, que por 20 anos limita o aumento do orçamento apenas pela inflação.

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Dos três, o teto de gastos – conhecido localmente como Tito – É o mais divisivo. Para os investidores, esse é um pilar fiscal que evita gastos fora de controle em uma economia emergente, onde a dívida total atingiu quase 90% do PIB em 2020.

Mas Mello disse que o teto de gastos “não é apenas obsoleto, está fora deste mundo. Nenhum país deste mundo tem essa regra. Nenhum economista olha para isso e diz que é uma boa ideia congelar os gastos por 20 anos”.

Ele acrescentou que Tito Ele perdeu a credibilidade porque foi burlado muitas vezes no governo Bolsonaro.

Sob Lula, o mandato dos trabalhistas no governo foi marcado pelo aumento dos gastos em programas de assistência social, como o esquema de transferência de renda Bolsa Família, bem como obras significativas de infraestrutura, principalmente em transporte, energia e recursos hídricos. Grande parte foi financiada pela cobrança de impostos padrão como resultado do boom das commodities.

Após um período de profunda estagnação que durou anos sob a sucessora de Lula, Dilma Rousseff, a direção da formulação de políticas mudou, com subsequentes administrações de direita optando pela retidão fiscal na esperança de atrair investimentos privados para a maior economia da América Latina.

Essa abordagem foi um “fracasso miserável”, disse Milo, observando que o crescimento econômico desde então estagnou e que agora há “mais pobreza, miséria, inflação e mais fome”.

A tendência de 2016 a 2021 tem sido encolher o Estado e esperar que o setor privado faça tudo. Ele disse que essa estratégia não poderia ser sustentada.

“O Brasil não é assim [bankrupt]. despesa pública . . . Pode ser muito importante para criar as condições para impulsionar o crescimento, reduzir a desigualdade e criar infraestrutura. Ao fazer isso, é um investimento que ajudará a aumentar o PIB e reduzir a dívida no longo prazo.”

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A retórica provavelmente causará pânico entre os investidores, que elogiaram amplamente a postura mais conservadora do governo Bolsonaro em relação aos gastos. Mas Milo disse que os gastos são uma ferramenta eficaz se usados ​​de forma inteligente.

“O Brasil pode gastar mais se for gasto corretamente. É preciso escolher programas públicos que tenham algumas características. Devem ter um multiplicador fiscal alto, ou seja, gerar mais renda e empregos, devem ter impacto social e devem criar condições para o futuro”, argumentando, por exemplo, que investimentos em infraestrutura de energia reduzirão os custos de eletricidade e apoiarão a economia em geral.

Sergio Vall, economista-chefe da MB Associados, disse que era “inevitável” que o Partido dos Trabalhadores atacasse as bases fiscais do Brasil se voltasse ao poder devido às mudanças nas atitudes globais em relação aos gastos.

“O problema é que a situação financeira hoje é pior do que a que Lula herdou em 2003. Terminaremos o ano com uma dívida de cerca de 84% do PIB, déficit primário de mais de 1% do PIB e juros muito altos”. disse Vale. Que o governo quer gastar se o espaço destinado para isso não existir.”

Ele acrescentou que eliminar o teto de gastos seria bom se substituído por uma regra melhor, mas é improvável que isso aconteça.

“Parece que a ideia deles é derrubar a regra e aumentar o investimento público e social, mas sem um ajuste forte no restante dos gastos, isso significaria um déficit maior e uma situação mais precária.”

Para Melo, a confirmação mais clara de sua abordagem foi vista durante o primeiro ano da pandemia, quando o governo Bolsonaro lançou um estímulo de 8% do PIB, que incluiu uma doação em dinheiro de 600 reais por mês por nove meses para milhões dos mais pobres do Brasil. O programa é creditado por reduzir o tamanho da contração econômica em 2020 para menos 4%, muito melhor do que a previsão inicial de 9 ou 10%.

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“O que provamos em 2020 é que as transferências sociais funcionam. Trabalham para o PIB, trabalham para combater a pobreza e a fome.”

Reportagem adicional de Carolina Ingiza

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