Um estudo no Brasil alerta sobre “influenciadores digitais” católicos que rejeitam bispos e estruturas eclesiais

SÃO PAULO – Um novo estudo sobre influenciadores digitais católicos encomendado por um bispo brasileiro conclui que se a hierarquia quiser combater a crescente importância das figuras de extrema direita nas redes sociais, deve formar o seu próprio quadro de evangelistas online.

O estudo, realizado por cinco pesquisadores a convite do bispo auxiliar Joaquim Mol Guimarães, de Belo Horizonte, e recentemente divulgado em português, indica que o espaço digital católico está cada vez mais sujeito ao domínio de vozes que muitas vezes estão em conflito aberto com bispos e representantes oficiais. estruturas eclesiásticas.

Desde 2018, quando o ex-presidente conservador Jair Bolsonaro concorreu pela primeira vez, grupos organizados de católicos têm como alvo direto a Conferência dos Bispos, bispos e padres individuais, e até mesmo o Papa Francisco, todos vistos como alinhados com facções esquerdistas brasileiras sob o atual presidente Luiz. Inácio Lula da Silva.

Estas campanhas incluíram, por exemplo, boicotes a iniciativas de angariação de fundos que, segundo os observadores, tiveram um impacto real na igreja local.

Algumas figuras influentes que ganharam fama nos últimos anos, como o leigo católico Bernardo Coster e o padre Paulo Ricardo, alinham-se com Bolsonaro e devem muito da sua atual notoriedade ao crescimento político do ex-presidente.

Seguidos por milhões de católicos brasileiros nas redes sociais, esses influenciadores têm conseguido influenciar “o povo de Deus com suas falsas narrativas, ideologias, dúvidas fabricadas, inquietação pastoral, polarização e inquietação dentro das famílias, comunidades e da sociedade como um todo”. diz Mol Guimarães, 64 anos. essência.

“Criaram bolhas gigantes nas redes sociais, onde os seus seguidores desempenham um papel central na determinação do alcance das suas publicações e, assim, no reforço da sua perspectiva ideológica”, disse Guimarães.

Durante um ano inteiro, a equipe de cinco pesquisadores – parte teólogos, parte comunicadores – acompanhou todas as postagens nas redes sociais de cinco influenciadores católicos brasileiros: Coster e Paulo Ricardo, os padres “apolíticos” Patrick Fernandez e Fabio de Mello, e o ativista de esquerda Pe. Júlio Lancellotti.

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Segundo Zirinha Souza, doutora. em teologia pela Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, e é um dos autores do estudo, a natureza fragmentada das mídias sociais e sua tendência de continuar oferecendo o mesmo tipo de conteúdo que agrada a um determinado usuário cria distorções de longo prazo que entram em conflito com a igreja. agenda missionária.

“O ponto de vista particular destes influenciadores – que faz parte do ensino católico – acaba por levar à criação de igrejas paralelas e de ensino paralelo”, disse ela. essência.

Em casos mais graves, como os de pessoas como Koster, as suas mensagens muitas vezes não se alinham com o Papa Francisco, ou no caso brasileiro, com a Conferência dos Bispos, disse Souza.

“Foi assim que surgiu de repente uma rede de oposição ao Papa e à Conferência dos Bispos. Estes influenciadores levaram grupos maiores de pessoas a seguir este caminho usando a sua suposta autoridade eclesiástica, disse ela.

Os autores do estudo afirmam que as chamadas “notícias falsas” são um elemento essencial nesse processo.

Em 2021, por exemplo, o teólogo Leonardo Boff processou Koster depois de este ter alegado, sem fornecer qualquer prova, que o pensador da teologia da libertação tinha desviado cerca de 2,6 milhões de dólares em fundos públicos. Bove ganhou o processo e Koster foi forçado a pagar US$ 22 mil por danos.

Na apresentação do estudo, Guimarães disse que estes influenciadores tradicionais utilizam “autoridade pedagógica manipulativa” e transmitem “opiniões pessoais e idiossincráticas” baseadas em “formulações de fé que não têm relação com a realidade, e são fortemente centradas na moralidade imbuída de princípios ideológicos e elementos políticos.”

O resultado, afirmou ele, foram “críticas injustificadas e infundadas à estrutura institucional da Igreja e à sua hierarquia”.

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“Para ganhar ampla visibilidade e engajamento, os influenciadores devem aderir às estratégias algorítmicas das plataformas. Em sua estrutura, esses elementos favorecem os elementos pessoais de conflito, de valor sensacional e de dissonância conversacional, porque servem para criar bolhas de opinião entre pessoas que pensam da mesma forma. pessoas”, disse o Bayan Mall Guimarães.

Outros influenciadores digitais católicos estão optando por uma abordagem “mais leve”, usando sua visibilidade como músicos para expandir seu alcance como celebridades, disse Alzerinha Souza. Eles postam fotos de suas viagens e shows e as combinam com conselhos globais e um tom lúdico, atitude descrita como “narcisista” no estudo.

“A verdadeira influência significa motivar alguém a mudar e alcançar algo tangível. Estes não são verdadeiros influenciadores, estão apenas interessados ​​em si mesmos”, disse ela.

O Mall Guimarães frisou que o trabalho dos influenciadores digitais é definido pelas regras das redes sociais em matéria de monetização e marketing, e não pelo Evangelho.

“É por isso que precisamos distinguir entre influenciadores digitais católicos e evangelistas digitais, cujo trabalho pode ter sucesso se seguirem o caminho conciliar da Igreja e forem guiados pelo Evangelho, mantendo ao mesmo tempo um espírito missionário que está em desacordo com os fundamentos do mercado digital.” Ele disse.

Entre os influenciadores católicos cujo trabalho a equipa de investigação analisou, o Padre Lancellotti foi o único considerado por ter seguido as directivas da Igreja nas suas iniciativas de evangelização nas redes sociais.

Lancellotti, um defensor de longa data dos direitos humanos que dirige um ministério pastoral para os sem-teto em São Paulo, não tem trabalho profissional nas redes sociais como outros católicos estudados, disse Souza. Ele não busca monetizar suas publicações e não promove suas publicações de acordo com princípios de marketing. Ele não vende aulas nem livros, como Padre Paolo Ricardo e Bernardo Coster.

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“Ao mesmo tempo, foi o único cuja influência se fez sentir fora do mundo virtual. Começou por denunciar a chamada arquitectura hostil [spikes and other devices implemented in public spaces in order to drive homeless people away] “Em novembro de 2021 e um mês depois, as pessoas já retiravam esses itens de prédios em todo o país”, disse Souza.

O governo federal aprovou uma lei contra a arquitetura hostil em seu nome em 2022.

“Seu verdadeiro objetivo nas redes sociais é destacar a situação dos sem-teto”, disse ela.

Zirinha Souza disse que as buscas continuarão. O objetivo da equipe agora é analisar o público de influenciadores digitais católicos e continuar buscando formas ideais para os católicos usarem as redes sociais para evangelização.

“As redes sociais são um ambiente para a nossa missão. Temos que estar lá, porque as pessoas estão lá.”

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