Presidente do Brasil pela terceira vez Lula sofre com novos problemas econômicos | notícias de negócios e economia

No início de outubro, o desempenho desafiador de Jair Bolsonaro no primeiro turno da eleição presidencial do Brasil revigorou sua campanha vacilante.

No final, foi Luís Inácio Lula da Silva (ou Lula) quem venceu o duro segundo turno. A contagem foi apertada, com Lula vencendo por apenas 1,8 ponto percentual.

As tensões estão altas desde então e permanecerão altas até 1º de janeiro, quando Lula toma posse.

Em uma eleição profundamente dividida e violenta, a promessa de Lula de proteger a democracia e reduzir a pobreza galvanizou os eleitores de esquerda. Ele também conseguiu atrair os moderados ao contratar seu companheiro de chapa centrista, Geraldo Alcmene.

Enquanto isso, a má gestão de Bolsonaro da pandemia do COVID-19 e os ataques infundados à legalidade do sistema eleitoral do Brasil alienaram grandes setores da população do país.

Descontente com o resultado, o partido liberal de Bolsonaro recentemente fez uma petição ao Tribunal Eleitoral do Brasil para rejeitar cédulas de 280.000 urnas. O pedido foi rejeitado por falta de provas e as atenções agora se voltam para as muitas tarefas que o próximo presidente enfrenta.

“Acho que a economia brasileira terá um grande desafio em 2023”, preocupa Ernesto Picalletto, enfermeiro que trabalha no bairro do Brooklyn Novo, em São Paulo.

Em comparação com os dois primeiros mandatos de Lula, de 2003 a 2010, as perspectivas econômicas atuais são sombrias. A inflação paira em 6 por cento, apesar da decisão do banco central de aumentar as taxas de juros para 13,75 por cento em agosto, estendendo um ciclo de aperto de 18 meses.

O aumento dos custos dos empréstimos parece estar restringindo o investimento e o consumo, assim como os temores de uma recessão global iminente estão começando a enfraquecer os mercados de commodities. Os preços das principais exportações brasileiras (soja, petróleo e minério de ferro) devem cair no próximo ano.

Por outro lado, a presidência anterior de Lula coincidiu com um aumento prolongado nos preços globais das commodities. Juntamente com outros países ricos em recursos naturais da região, a economia do Brasil disparou. Os altos superávits orçamentários facilitaram o investimento em larga escala em infraestrutura. Os programas de bem-estar (como o esquema de transferência de renda Bolsa Família) foram expandidos e o desemprego diminuiu.

Devido à dinâmica de crescimento favorável, a dívida total do Brasil em relação ao PIB caiu de 77 para 62 por cento durante o mandato de Lula.

Mas depois da crise financeira global, a atividade econômica e a disciplina fiscal diminuíram. Isso foi especialmente verdadeiro durante a presidência de Dilma Rousseff – sucessora de Lula.

Base econômica instável

No final de sua presidência, a decisão de Bolsonaro de arrecadar ajuda em dinheiro e reduzir impostos sobre gasolina e eletricidade (para combater a crise do custo de vida) aumentou o peso da dívida do Brasil.

Economia Brasileira - Cálculo de Custos
O novo governo terá que lidar com custos de empréstimos mais altos e uma desaceleração econômica global que está atingindo os preços das commodities, uma das principais fontes de receita do Brasil. [File: Vanderlei Almeida/AFP]

Hoje, a relação dívida/PIB do país é de cerca de 90%. Altos encargos de dívida carregam uma alta carga de juros, o que limita os gastos públicos em coisas como educação e saúde.

É certo que a inflação diminuiu nos últimos meses. No entanto, a base econômica do Brasil ainda não é estável. O presidente eleito precisará caminhar sobre uma linha tênue entre buscar reformas de crescimento e cortar gastos públicos.

O Partido Trabalhista (PT) de Lula já deu indícios de manter o recém-aprovado subsídio à previdência social.

“Mas isso não vai durar para sempre”, adverte Nelson Barbosa, ministro da Fazenda do Brasil de 2015 a 2016.

“Assumindo uma retomada do crescimento no final do próximo ano, as medidas de apoio devem ser revertidas. No entanto, o foco será estimular o crescimento e depois a redução da dívida.”

Com o foco de Lula no investimento público, os economistas do PT levantaram objeções às atuais regras fiscais do Brasil. Em particular, o teto de gastos do governo, que limita os aumentos orçamentários à inflação, atraiu fortes críticas.

Este protocolo financeiro não é adequado para o propósito. Barbosa disse que deve ser substituída por uma nova regra que permita o crescimento dos gastos em termos reais e se baseie em um cenário fiscal de longo prazo para a dívida pública.

O PT também destacou a necessidade de simplificar o labiríntico sistema tributário brasileiro. Alguns analistas esperam que Lula mantenha partes das propostas políticas de Bolsonaro, como unir as taxas regionais de vendas em um único imposto nacional sobre valor agregado. e

Em outros lugares, acredita-se que o PT esteja considerando um regime tributário mais progressivo que expandiria as isenções para indivíduos de baixa renda.

Além das finanças públicas, o PT prometeu anteriormente revogar a lei de reforma trabalhista de 2017 do Brasil, que enfraqueceu o poder de barganha dos trabalhadores. Mas nos últimos meses, o partido suavizou sua postura.

Segundo Marcus Casarin, economista-chefe para a América Latina da Oxford Economics, “Lula pode tentar emendar a lei reintroduzindo o financiamento obrigatório para os sindicatos. Ele também pode tentar aumentar o salário mínimo, mas isso lhe custará politicamente”.

Durante a campanha eleitoral, outros pontos de discussão incluíram aumentos salariais para trabalhadores “gig”. Para a vasta economia informal do Brasil, estimada em cerca de 40% da força de trabalho empregada do país, a COVID-19 agravou as vulnerabilidades sociais.

Para ajudar esses trabalhadores, Marcus observou que “um imposto indexado sobre a receita para empresas de aplicativos poderia ser explorado”, mas enfatizou que “embora essas medidas forneçam um impulso fiscal, elas não são uma prioridade para o Congresso”.

terreno traiçoeiro

Apoiadores do ex-presidente brasileiro e candidato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva
É amplamente esperado que as forças parlamentares pró-Bolsonaro tentem bloquear a agenda de Lula [File: Amanda Perobelli/Reuters]

Nas eleições de primeiro turno, em 2 de outubro, a extrema-direita consolidou sua presença no Congresso Nacional do país. Os eleitores renomearam todos os membros da Câmara dos Representantes e um terço do Senado.

Anteriormente, o PL de Bolsonaro conquistou 99 cadeiras, a maior bancada unipartidária. Neste último, o Hizb ut-Tahrir e seus aliados de direita conquistaram 19 das 27 cadeiras.

Agora é amplamente esperado que as forças parlamentares pró-Bolsonaro tentem atrapalhar a agenda do Partido dos Trabalhadores nos próximos anos.

Alfredo Saad Filho, professor de desenvolvimento internacional do King’s College London, observou que “o terreno é muito traiçoeiro para qualquer líder político… Aprovar reformas econômicas será uma batalha difícil”.

A política de Lula, por sua vez, pode ter que se deslocar mais para o centro.

“Lula é o político mais talentoso de sua geração, e se alguém pode curar as divisões do país é ele. Mas, dado o cenário político, ele terá que fazer concessões significativas nos próximos quatro anos”, acrescentou Saad Filho.

“Não estou otimista sobre a reforma gradual.”

Até agora, os mercados financeiros estão otimistas com o retorno de Lula. Em 14 de dezembro, o novo ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, acalmou as tensões do mercado minimizando a possibilidade de gastos públicos excessivos.

Ao mesmo tempo, Lula foi obrigado a construir uma ampla igreja política contra Bolsonaro.

Isso, juntamente com a forte oposição parlamentar, provavelmente se refletirá em uma abordagem moderada da política econômica.

O resultado é que Lula não conseguirá aproveitar o surto de crescimento dos anos 2000. Também enfrenta uma pressão crescente para descarbonizar o modelo de crescimento do Brasil e reafirmar um maior controle do governo sobre a Petrobras, a empresa estatal de energia.

Em suma, enfrenta enormes desafios.

Mas, segundo Picleto, enfermeiro paulista, o legado mais duradouro de Lula não será econômico. Seria um “triunfo da democracia”.

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