Muito gado, demanda doméstica estável e preços de barganha na China – MercoPress

O desafio para o mercado brasileiro de carne bovina: abundância de gado, demanda interna estável e preços de barganha na China

Quarta-feira, 26 de outubro de 2022 – 07:37 UTC

Preços da carne bovina caíram no Brasil devido à chegada de mais gado ao mercado
Preços da carne bovina caíram no Brasil devido à chegada de mais gado ao mercado

Os preços do gado brasileiro caíram este ano e a forte demanda pelas exportações de carne bovina do país ampliará as margens para os processadores brasileiros de carne no curto prazo, segundo analistas, embora a fraqueza no mercado doméstico possa prejudicar esses ganhos.

Cerca de 30% da produção de carne bovina do Brasil é destinada ao exterior, enquanto o restante é consumido em casa. Mas a alta inflação no país reduziu o poder de compra dos consumidores, diminuiu a demanda interna por carne bovina e levou as empresas a buscar mercados de exportação.

Os preços do gado vivo no mercado de São Paulo estão caindo, com o “Aruba” – uma medida padrão de 15 quilos usada como referência – sendo negociado no final da semana passada a uma média de 278,79 reais (US$ 52,87), um grande desconto para 332,23 reais no primeiro trimestre, segundo a Scot Consultoria, consultoria de agronegócios.

“As margens dos frigoríficos que estão sendo exportados melhoraram”, disse Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria. Ele acrescentou que a conversão dessas margens maiores em lucros será diferente de uma empresa para outra.

Os preços da carne bovina caíram no Brasil devido à chegada de mais gado ao mercado, além de posições negociais mais agressivas de compradores estrangeiros, especialmente da China.

O enfraquecimento do yuan levou a China, que respondeu por cerca de 52,8% das compras brasileiras de carne bovina em setembro, a pressionar por descontos dos vendedores do país sul-americano, disse Fernando Iglesias, analista da Savras e Mercado. Em setembro, o Brasil exportou 231,4 mil toneladas de proteína bovina para o exterior, um resultado recorde.

Segundo dados do governo, as exportações brasileiras de carne bovina em outubro já superaram as do mesmo mês de 2021.

Empresas como Minerva, JBS e Marfirig devem conseguir traduzir esse forte desempenho em números positivos em seus balanços, ainda que as duas últimas enfrentem um cenário mais negativo nos EUA.

“O recorde de exportações de carne bovina em agosto e setembro deve ser favorável aos resultados do terceiro trimestre dos frigoríficos listados”, disse Marie Silva, analista do BB Investimentos, acrescentando que o Minerva provavelmente foi o maior beneficiado devido ao seu negócio intensivo em exportação.

De acordo com o BB Investimentos, Marfrig e JBS, embora favorecidos no Brasil, também tendem a reportar menores volumes e maior pressão sobre as margens unitárias de carne bovina dos EUA devido ao aumento do custo do gado e um potencial arrefecimento da demanda por carne bovina em meio a pressões inflacionárias entre os americanos.

Além da melhora no ciclo da pecuária, com certa ampliação da oferta de animais disponíveis para abate, o baixo consumo interno contribui para o achatamento do valor da pecuária no Brasil.

De acordo com o Centro de Pesquisas de Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo, as vendas de carnes no mercado interno ainda não se recuperaram, como esperado para o último trimestre, com base no aumento típico de aquisições para formação de estoques no final do ano .

“Assim, embora as exportações de carne bovina permaneçam densas, as fracas vendas domésticas estão limitando potenciais aumentos no valor do gado vivo”, disse o Cepea em comunicado.

Outro fator que pressiona as últimas quedas de preço de Aruba são as negociações de exportação de carne bovina com seu maior comprador, a China.

Rodrigo Brolo, sócio da Criteria Investimentos, alertou que “os chineses estão buscando renegociar o preço pago por tonelada de carne importada, fazendo com que os fabricantes de carne baixem o preço padrão arubano aqui”.

Segundo Fernando Iglesias, da Safras & Mercado, a desvalorização do yuan no mercado internacional mudou o comportamento dos importadores chineses, que passaram a renegociar contratos de exportação em busca de preços mais vantajosos.

“Desvalorizar o yuan significa importações mais caras, e a China está se tornando um importador menos competitivo. Por isso, o país está buscando renegociar contratos e, de fato, conseguiu baixar os preços da carne no mercado internacional.”

Dados do governo mostram que o valor de uma tonelada de carne bovina in natura exportada pelo Brasil até a segunda semana de outubro foi de US$ 5.931, acima dos US$ 5.166 do ano anterior, mas abaixo dos US$ 6.132 registrados em agosto deste ano, por exemplo.

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