Lula incomoda investidores que tentam estimular o crescimento no Brasil e aumentar a aprovação

(Bloomberg) — Dentro do palácio presidencial do Brasil, a ansiedade aumenta à medida que a economia vacila, produzindo números de crescimento mornos mês após mês. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva está a aumentar a pressão sobre os seus principais assessores para aumentarem os gastos, alcançarem um crescimento mais rápido e reverterem os seus baixos índices de aprovação.

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Pessoas próximas a ele dizem que isso ajuda a explicar a decisão deste mês de ordenar que a petrolífera estatal Petróleo Brasileiro SA retenha US$ 9 bilhões em dividendos aos investidores. Isto explica a pressão para destituir o presidente da gigante mineradora Vale SA. O governo poderia pedir à Petrobras que injetasse 9 mil milhões de dólares em projetos energéticos prioritários, pensa-se, e poderia nomear um novo líder na Vale que se concentrasse mais na criação de empregos e menos nos retornos para os acionistas.

Esses movimentos chocaram os investidores. Em 2023, o primeiro ano de Lula no cargo desde que deixou o poder, há uma década, habituaram-se a um presidente comedido, até mesmo cauteloso, que resistiu às tentações de inflacionar o orçamento.

Assim, quando surgiram as notícias dos dividendos da Petrobras, as ações caíram 11% em poucas horas. A maior questão agora nas mesas de operações de São Paulo é se essas medidas anunciam uma abordagem política nova e mais arriscada ou se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, será capaz de persuadir Lula a manter a postura mais cautelosa que fez com que as ações, os títulos e a moeda brasileiras preços subindo. Em 2023.

Lula convocou uma reunião de gabinete na manhã de segunda-feira para pedir a todos os seus ministros propostas e projetos mais concretos para impulsionar o crescimento.

“Tudo o que fizemos até agora é apenas o começo e não é suficiente”, disse ele na abertura da reunião. “Teremos que fazer mais.”

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Lula assumiu o cargo pela primeira vez em 2003, quando o Brasil beneficiava de um superciclo de matérias-primas que proporcionou um crescimento explosivo, orçamentos equilibrados e tirou milhões de pessoas da pobreza. Isso ajudou a aumentar sua popularidade no país e no exterior.

Avançando para 2024, o presidente de 78 anos encontra-se numa posição ainda mais difícil. Uma colheita abundante em 2023 levou a um declínio nos preços de exportação agrícola, pelo que muitos agricultores correm o risco de perder as suas terras para os credores. Os elevados custos dos empréstimos causaram pressão sobre o sector industrial e as sondagens de opinião mostram um declínio na sua popularidade. O crescimento deverá desacelerar este ano.

Os investidores questionam-se se isto eliminará mais os instintos intervencionistas de Lula e levará o líder a exercer maior pressão sobre outras empresas ligadas ao Estado, o banco central e o Ministério das Finanças.

“Os riscos políticos foram reacendidos nas últimas semanas pela Petrobras e pela Vale”, disse Priscilla Araujo, gestora de portfólio da O3 Capital. “Estávamos em um cenário mais positivo e está ficando mais nublado. Ainda não sabemos se vai virar uma grande tempestade.”

Reação dos mercados

A reacção nos mercados financeiros à abordagem intervencionista de Lula tem sido negativa, pelo menos até agora.

Os ativos ligados à Petrobras e à Vale caíram após a intervenção governamental, mas o mesmo aconteceu com o mercado brasileiro mais amplo. As fracas taxas de juros reais para swaps de longo prazo subiram e o índice de ações Ibovespa caiu para seu nível mais baixo em mais de três semanas.

O rial caiu em relação ao dólar até agora neste mês, e o índice de ações está fresco após uma segunda semana consecutiva de quedas.

“Os mercados de ações globais estão atingindo máximos históricos, enquanto o Brasil continua a declinar”, disse Araujo. “Esse tipo de ruído não sustenta o sentimento do mercado.”

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Foi difícil livrar-se desse mau humor, principalmente com a renúncia de um membro do conselho de administração da Vale em protesto contra a crescente influência do governo. Lula também levantou questões na Braskem, maior produtora petroquímica da América Latina, ao pressionar para que seu aliado de longa data, Guido Mantega, fosse nomeado para o conselho. A empresa disse não ter conhecimento da intenção do governo de indicar Mantega para o conselho de administração.

As preocupações dos investidores em relação ao banco central também estão aumentando, com o mandato de Roberto Campos Neto terminando ainda este ano. O ex-comerciante era um queridinho do mercado, tendo domesticado a inflação com um ciclo precoce e forte de aumentos de juros, que levou os juros ao nível mais alto em seis anos – para grande desgosto de Lula.

Embora as nomeações do presidente para o conselho de administração da autoridade monetária tenham sido bem recebidas pelos investidores, permanecem dúvidas sobre um substituto mais leal politicamente no comando da instituição.

“O que pode nos fazer mudar a nossa tese de investimento é a discussão sobre o banco central”, disse Daniela da Costa Bulthuis, gestora de carteiras da Robico Institutional Asset Management em Rotterdam. “É mais importante para o investidor internacional do que o que está acontecendo com a Petrobras.”

Independentemente de quem Lula nomeie, o próximo presidente do banco central herdará o desafio de conter a inflação em meio à pressão para reduzir ainda mais as taxas de juros. Será duplamente difícil se Haddad perder a disciplina financeira e desperdiçar a sua confiança arduamente conquistada junto da comunidade financeira.

Embora Haddad tenha conseguido até agora corrigir o défice e aumentar as receitas, o seu desafio agora é convencer Lula de que o dinheiro extra precisa de ajudar a equilibrar o orçamento – e não de o canalizar para despesas públicas inflacionárias.

O presidente disse recentemente que o governo iria discutir os atuais limites de gastos com os legisladores para ver “como podemos usar mais dinheiro para o benefício do povo”.

O potencial de deterioração financeira já está a infiltrar-se nos mercados. Os investidores esperam um défice primário de 0,8% em 2024, de acordo com um inquérito semanal do banco central. Haddad está claramente sob pressão para libertar dinheiro, cancelando mesmo uma recente viagem à Alemanha para discutir medidas económicas de emergência com o Gabinete.

“Qualquer pessoa que esteja no Brasil há algum tempo está bem ciente do risco da intervenção de Lula”, disse Greg Lesko, gestor de portfólio da Deltec Asset Management em Nova York. “A questão será quanto latido e quanta mordida.”

-Com assistência de Giovanna Bellotti Azevedo e Martha Beck.

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