Lula brasileiro visita a Europa em meio a polêmica sobre comentários da Ucrânia

O veterano esquerdista deve visitar Portugal e Espanha com o objetivo de “reavivar as relações do Brasil com a Europa”, segundo a ministra de Assuntos Europeus do Itamaraty, Maria Luisa Escoril de Moraes.

O ministério disse que Lula está pressionando pela formação de um grupo de países para mediar as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia, e que o assunto estará na pauta da viagem.

Mas o ex-metalúrgico de 77 anos, que já liderou o Brasil de 2003 a 2010, pode enfrentar alguma confusão diplomática após comentários recentes criticando a União Europeia e os Estados Unidos sobre o conflito.

Lula, durante sua visita à China na semana passada, disse que Washington deveria parar de “incentivar” a guerra e que os Estados Unidos e a União Européia “precisam começar a falar em paz”.

Ele também irritou a Ucrânia nos últimos dias, dizendo que ela compartilha a culpa pelo conflito e sugerindo que ela concorde em desistir da Crimeia, que a Rússia anexou à força em 2014 como precursora de sua invasão da Ucrânia no ano passado.

Após uma enxurrada de críticas da Europa, Ucrânia e Estados Unidos – incluindo a Casa Branca, que o acusou de “ecoar a propaganda russa e chinesa” – Lula recuou do que alguns viram como sua retórica antiocidental, dizendo na terça-feira que o Brasil havia “condenado” a invasão russa.

Lula, que foi nomeado para a lista da revista Time das pessoas mais influentes do mundo na semana passada, tem desfrutado dos holofotes do cenário internacional desde sua volta à presidência.

Mas o incidente na Ucrânia pode ter prejudicado seu capital diplomático enquanto ele se dirigia para reuniões com os primeiros-ministros português e espanhol, Antonio Costa e Pedro Sanchez.

“Desequilibrado” na Ucrânia

Lula voltou à presidência, prometendo “devolver o Brasil” ao cenário internacional após quatro anos de relativo isolamento sob o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro (2019-2022).

Buscando reavivar o papel do Brasil como negociador e mediador, ele se comprometeu a cultivar relações cordiais com todos os países e resistiu a tomar partido dos Estados Unidos e da Europa, de um lado, ou da China e da Rússia, do outro.

Sua visita ao presidente chinês, Xi Jinping, na semana passada, seguiu-se a uma visita de alto nível à Casa Branca com Joe Biden em fevereiro.

“Mas agora a escala está um pouco desequilibrada”, disse o especialista em relações internacionais Pedro Brights, da Fundação Getulio Vargas do Brasil.

A mini-turnê europeia de Lula será uma oportunidade para “fazer as pazes” e “demonstrar sua crença na visão de democracia global que a Europa representa”.

relações ibéricas

Em Lisboa, o presidente português Marcelo Rebelo de Souza receberá Lula com honras no sábado.

Após o almoço com Costa, Lula e o primeiro-ministro terão uma reunião de alto nível onde os dois países assinarão uma série de acordos sobre energia, ciência, educação e outros setores.

Portugal, que foi uma colônia do Brasil até 1822, disse Moraes, o funcionário do Ministério das Relações Exteriores, é a “porta de entrada do Brasil para a União Européia”.

O Brasil está particularmente interessado em garantir um acordo comercial há muito parado entre a UE e o bloco sul-americano Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).

O acordo foi retido por preocupações europeias com questões ambientais, particularmente a destruição da floresta amazônica pela indústria agrícola brasileira – algo que Lula prometeu impedir.

Na segunda-feira, Lola e Costa deslocam-se à segunda cidade do Porto para discursar num fórum empresarial.

De volta à capital, presidirão a solenidade de entrega do Prêmio Camões, a mais alta honraria da língua e literatura portuguesas, ao consagrado cantor e compositor brasileiro Chico Buarque.

A agenda de Lula em Portugal será encerrada, terça-feira, com um discurso ao Parlamento marcando o aniversário da Revolução dos Cravos em 1974, que pôs fim à última ditadura militar em Portugal.

Ele então voará para a Espanha na terça e quarta-feira, disse o Ministério das Relações Exteriores, onde se encontrará com o rei Felipe VI e o primeiro-ministro Sanchez.

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