Lojas europeias lembram produtos ligados ao desmatamento no Brasil

Várias cadeias de supermercados europeias estão abandonando os produtos de carne bovina brasileiros ligados à destruição da floresta amazônica e dos pântanos tropicais, disse quinta-feira o grupo ativista americano Mighty Earth.

Redes como o Carrefour Belgium se comprometeram a retirar de suas prateleiras carne bovina, bacon e cortes crus frescos que suspeitam de vacas criadas na Amazônia e nos pântanos tropicais.

A medida surgiu após uma investigação da Mighty Earth, em parceria com a Reporter Brasil, uma ONG brasileira fundada por jornalistas, destacar a ligação entre as fábricas paulistas das gigantes brasileiras de processamento de carnes JBS, Marfrig e Minerva e o desmatamento.

Os ativistas há muito criticam a pegada ecológica da indústria global de carne, culpando-a por quase dois terços da perda de biodiversidade global.

Ele também acusou os processadores de carne de não cumprir as promessas de acabar com o desmatamento em suas cadeias de abastecimento.

O Carrefour retirou o charque de Jack Link, uma promessa também feita pelo supermercado belga Delhaize, e o francês Auchan disse que removeria os produtos de charque vinculados à JBS.

“Estamos examinando a origem dos produtos que podemos ter em outros países – se houver algum – para tomar decisões semelhantes se surgir o problema”, disse a diretora de CSR do Carrefour, Agatha Grossmith, à AFP.

A Mighty Earth disse que outras redes, incluindo Albert Heijn na Holanda e Lidl, Sainsbury’s e Princes na Grã-Bretanha, estão tomando iniciativas semelhantes.

Um porta-voz da Sainsbury’s, que obtém a maior parte de seus produtos de carne bovina da Grã-Bretanha e da Irlanda, disse à AFP que a empresa estava tomando medidas para garantir que os produtos de carne bovina fossem adquiridos fora do Brasil.

“Agora tomamos a decisão de eliminar a carne bovina brasileira e estamos procurando alternativas de outros países”, disse um porta-voz de Albert Heijn à AFP.

Fornecedores indiretos na Turquia

As medidas surgem no momento em que a União Européia apresenta uma nova legislação destinada a combater o desmatamento. Niko Mozi, diretor da Mighty Earth, disse em um comunicado que viu “um nó se apertando” em volta do pescoço das pessoas envolvidas no desmatamento.

Os principais exportadores de carne bovina do Brasil têm defendido seus recordes ambientais.

A GPS, maior empresa de carnes do mundo, disse que “não tem tolerância” com o desmatamento ilegal e “bloqueou proativamente” mais de 14.000 fornecedores até agora.

No entanto, reconheceu, “o desafio da JBS e da cadeia de abastecimento das vacas em geral é garantir o mesmo controle sobre os fornecedores de seus fornecedores”.

Ela diz que está implementando uma plataforma que usa tecnologia blockchain para eliminar o desmatamento da cadeia de suprimentos indireta até 2025.

O Brasil tem lutado para lidar com a “lavagem de gado”, em que fazendas na lista negra por desmatamento vendem ilegalmente seus animais para fazendas “limpas” que depois vendem para empresas de processamento de carne.

A Minerva Foods, outra grande exportadora, disse ter “sido líder” na identificação e combate ao desmatamento e “comprometida em garantir que não haja desmatamento ilegal em toda a cadeia de abastecimento da América do Sul até 2030”.

Outra grande empresa acusada no relatório, a Marfrig, disse estar “totalmente comprometida com as questões socioambientais” e em buscar formas de “integrar sua cadeia (de suprimentos) e trazer mais transparência às suas operações”.

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo. O desmatamento, depois de cair por vários anos, aumentou desde que o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro assumiu o poder em 2019.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil disse no mês passado que o desmatamento atingiu o máximo em 15 anos este ano.

A grande maioria das terras desmatadas é usada para pecuária.

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