Inflação no Brasil em 2022 desacelera acentuadamente, aquém da meta do governo pela Reuters

© Reuters. Consumidores fazem compras em feira semanal no Rio de Janeiro, Brasil, 2 de setembro de 2021. REUTERS/Ricardo Moraes

Escrito por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) – A inflação no Brasil encerrou 2022 com forte desaceleração em relação às duas dezenas de máximas registradas ao longo do ano devido a medidas fiscais e aperto na política monetária, mas mais uma vez não atingiu a meta oficial do governo.

A agência de estatísticas IBGE disse na terça-feira que seu índice de referência de preços ao consumidor (IPCA) subiu 5,79% no ano passado, acima da previsão mediana de 5,60% em uma pesquisa da Reuters com economistas.

O resultado ficou abaixo da meta anual do banco central de 3,5% e da faixa de tolerância máxima de 5%, o segundo ano consecutivo em que o banco conseguiu isso.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que é legalmente obrigado a publicar uma carta justificando o descumprimento da meta de inflação, disse que o resultado foi afetado pela inflação contida em 2021 e alta nos preços das commodities, apontando também desequilíbrios entre oferta e demanda e choques nos preços dos alimentos e nas pressões. decorrentes da recuperação dos serviços e do emprego.

Ele disse que os formuladores de políticas tomaram as medidas necessárias para garantir que a inflação atinja suas metas até 2025, reforçando que permanecerão vigilantes para ver se manter as taxas de juros no nível atual de 13,75% por tempo suficiente garantirá essa convergência.

O IBGE informou que o índice subiu 0,62% somente em dezembro, superando as expectativas de 0,45% em pesquisa da Reuters.

Andres Abadia, economista-chefe para a América Latina da Pantheon Macroeconomics, observou que a inflação continua no Brasil, auxiliada por condições financeiras difíceis, crescimento econômico vacilante e amplas isenções fiscais para preços mais baixos.

“A inflação deve continuar em queda nos próximos três a seis meses, ainda que em ritmo mais modesto do que no segundo semestre, apoiada pela queda recente dos preços do petróleo”, escreveu em nota aos clientes.

Em 2022, o banco central continuou seu aperto monetário agressivo para combater a inflação, elevando a principal taxa de juros de uma baixa recorde de 2% em março de 2021. Desde setembro, os formuladores de políticas deixaram as taxas inalteradas nas máximas do ciclo.

William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, disse que a inflação acima do esperado em 2022 coincidiu com o aumento das preocupações fiscais depois que o presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva garantiu a aprovação do Congresso para aumentar os gastos com assistência social.

Jackson disse que isso daria ao banco central “mais motivos para atrasar o início do ciclo de flexibilização”.

Segundo o IBGE, a inflação do ano passado foi influenciada principalmente pelo aumento nos custos com alimentação e bebidas (+11,64%) e saúde e cuidados pessoais (+11,43%).

A taxa de inflação geral para os 12 meses ficou em dois dígitos até julho do ano passado, prejudicada pelos preços mais altos das commodities devido à guerra na Ucrânia.

Mas o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro tomou medidas para reduzir os preços antes das eleições presidenciais de outubro, incluindo uma dispendiosa redução de impostos sobre o combustível que Lula estendeu recentemente.

No ano passado, o Congresso também aprovou cortes de impostos do governo para uma série de itens importantes, incluindo energia, telecomunicações e combustível.

Com isso, o grupo transportes teve contribuição negativa de 1,29% para a inflação em 2022, impulsionado pela queda do preço da gasolina em 25,78%.

A gigante estatal do petróleo Petrobras contribuiu para a tendência oposta da inflação, adotando uma série de cortes de preços quando os preços globais do petróleo se estabilizaram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *