Explicação – O que Lula e Bolsonaro sugerem para a política fiscal brasileira?

Escrito por Bernardo Kram

BRASÍLIA (Reuters) – Os dois candidatos presidenciais do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, propuseram mudanças no limite constitucional de gastos que definiu a política fiscal na maior economia da América Latina nos últimos seis anos.

Aqui estão algumas variações da proposta de política.

Qual é a política atual?

O Brasil alterou sua constituição em 2016 para criar um “teto” fiscal que só permite que os gastos do governo federal cresçam tanto quanto a inflação do ano anterior.

Os mercados financeiros têm tratado o teto constitucional de gastos como o principal pilar fiscal do Brasil nos últimos anos, mas políticos de todo o espectro político os criticam como restrições orçamentárias durante crises econômicas.

O Congresso fez isenções e ajustes no teto de gastos seis vezes sob o presidente Jair Bolsonaro, corroendo a credibilidade da regra, segundo vários economistas.

O que Bolsonaro sugere?

O presidente apoiou repetidas exceções ao atual teto de gastos e disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está trabalhando em alternativas a serem implementadas em um segundo mandato.

“Há algumas mudanças que você pode fazer no teto de gastos, como sugerido pela equipe de Paulo Guedes. Mas vamos deixar isso para ser discutido após a eleição”, disse ele em entrevista em junho.

Geddes disse no mês passado que o teto de gastos deveria ser ajustado para permitir, por exemplo, que as receitas da privatização de empresas estatais financiem programas de assistência social expandidos.

Duas grandes propostas estão em desenvolvimento no Ministério da Economia, de acordo com funcionários que pediram anonimato para a discussão. Ambas as propostas visam a dívida pública sobre o PIB como um pilar fiscal de médio prazo para permitir mais flexibilidade fiscal de curto prazo.

De acordo com a proposta apresentada pelo pessoal do Tesouro, os gastos públicos podem aumentar em um valor especificado acima da inflação, desde que a dívida pública total permaneça abaixo de um determinado percentual do PIB.

A consultoria privada para estudos econômicos forneceu ao ministério uma alternativa mais flexível em que os gastos do governo poderiam crescer acima da taxa de inflação, dependendo tanto da taxa de crescimento econômico quanto da relação dívida total em relação ao PIB. A regra também abrirá espaço para mais gastos em uma recessão, independentemente dos níveis de dívida pública.

O que você sugere Lola?

Lula, rival esquerdista de Bolsonaro, tem sido mais veemente em suas críticas ao atual teto de gastos. Mas ele era tímido quando pressionado por detalhes das novas regras financeiras que poderia propor.

“Sou contra o teto de gastos”, disse ele em uma reunião de economistas no mês passado. “Se você é responsável, não precisa de um teto de gastos.”

Economistas do Partido Trabalhista de Lula argumentaram que os gastos públicos devem estimular o crescimento econômico, o que, por sua vez, aumenta a arrecadação tributária. Alguns sugerem compromissos de médio e longo prazo para estabilizar a dívida pública em vez de estabelecer um teto orçamentário anual.

Em 2020, o Partido Trabalhista propôs um sistema fiscal alternativo que trataria o investimento público de forma diferente de outras formas de gastos do governo.

Lula responde a perguntas sobre responsabilidade financeira apontando sua trajetória como presidente. O Brasil teve superávits orçamentários todos os anos durante sua presidência de 2003-2010, em parte devido aos preços mais altos de suas exportações de commodities.

No entanto, os gastos do setor público acabaram excedendo as receitas sob seu sucessor no Partido Trabalhista, a ex-presidente Dilma Rousseff. A onda de empréstimos dos bancos governamentais também prejudicou a credibilidade financeira, levando a uma profunda recessão.

Dilma Rousseff foi acusada de quebrar as regras financeiras. Seu substituto, o ex-presidente Michel Temer, aprovou o teto constitucional de gastos do país para restabelecer a política fiscal.

(Reportagem de Bernardo Karam; Redação e reportagem adicionais de Marcela Ayres; Edição de Brad Haynes e Bill Bercrot)

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