ELEIÇÕES BRASILEIRAS: Lula da Silva retorna à presidência do Brasil em uma reviravolta impressionante


São Paulo
CNN

Luiz Inácio “Lula” da Silva foi eleito o próximo presidente do Brasil, em uma virada impressionante ainda tenso Desempate no domingo. Sua vitória anuncia uma mudança política para o maior país da América Latina, após quatro anos de governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro.

A vitória do político de 76 anos marca o retorno da esquerda ao poder no Brasil e conclui o retorno triunfal pessoal de Lula da Silva, após uma série de denúncias de corrupção que o levaram à prisão por 580 dias. As decisões foram posteriormente anuladas pela Suprema Corte, abrindo caminho para que ele concorresse à reeleição.

“Eles tentaram me enterrar vivo enquanto estou aqui”, disse ele em um discurso jubiloso para apoiadores e repórteres na noite de domingo. Ele descreveu a vitória como sua “missão” política.

“A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar 215 milhões de brasileiros, não apenas aqueles que votaram em mim. Não há brasileiros. Somos um país, um povo e uma grande nação”, disse Lula da Silva.

E ele assumirá o comando de um país que sofre com uma grande desigualdade e ainda luta para se recuperar da pandemia do COVID-19. Quase 9,6 milhões de pessoas caíram abaixo da linha da pobreza entre 2019 e 2021, e as taxas de alfabetização e matrícula escolar caíram. Ele também enfrentará uma nação profundamente fraturada e questões ambientais prementes, incluindo o desmatamento em larga escala na Amazônia.

Este será seu terceiro mandato, tendo governado o Brasil por dois mandatos consecutivos entre 2003 e 2010.

Apoiadores de Lula da Silva reagem enquanto aguardam resultados na Avenida Paulista, São Paulo, Brasil, 30 de outubro de 2022.

A vitória do ex-líder no domingo foi a mais recente de uma onda política na América Latina, com vitórias de políticos de esquerda na Argentina, Colômbia e Chile. Mas Lula da Silva – um ex-líder sindical com antecedentes de colarinho azul – procurou tranquilizar os moderados ao longo de sua campanha.

Ele construiu uma ampla coalizão que inclui muitos políticos de centro e centro-direita, incluindo adversários históricos do PSDB, o Partido Social Democrático do Brasil. Entre esses políticos estava seu vice, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alcmene, que o campo de Lula citou como garantia de moderação em seu governo.

Durante a campanha eleitoral, Lula da Silva relutou em mostrar as cartas na hora de definir uma estratégia econômica – tendência que gerou duras críticas de seus rivais. Quem é o outro candidato, Ministro da Economia? Não há nenhum, ele diz. Qual será sua trajetória política e econômica? Mais estado? estado inferior? “Não sabemos…”, disse Bolsonaro durante uma transmissão ao vivo no YouTube em 22 de outubro.

Lula da Silva disse que pressionaria o Congresso a aprovar uma reforma tributária que isentaria os trabalhadores de baixa renda do pagamento do imposto de renda. Sua campanha recebeu apoio da ex-candidata presidencial de centro Simone Tebbit, que terminou em terceiro lugar no primeiro turno no início deste mês e deu apoio a Lula da Silva no segundo turno. Tebet, que é conhecida por seus laços com a indústria agrícola brasileira, disse em entrevista coletiva em 7 de outubro que Lula da Silva e sua equipe econômica “receberam e integraram todas as propostas de nosso programa ao programa de seu governo”.

Ele também tem o apoio de muitos economistas famosos e muito respeitados pelos investidores, incluindo Arminho Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil.

Lula da Silva recebeu mais de 60 milhões de votos, o maior da história do Brasil, quebrando seu próprio recorde desde 2006.

Mas, apesar do alto comparecimento de seus apoiadores, sua vitória foi estreita – Lula da Silva venceu com 50,90% dos votos e Bolsonaro obteve 49,10%, De acordo com a autoridade eleitoral brasileira.

O maior desafio que ele enfrenta agora pode ser unificar um país politicamente fraturado.

Horas após a divulgação dos resultados, Bolsonaro não admitiu a derrota nem fez qualquer declaração pública. Enquanto isso, vídeos nas redes sociais mostraram seus apoiadores bloqueando rodovias em dois estados para protestar contra a vitória de Lula da Silva.

“Não vamos embora até que o exército assuma o controle do país”, disse um apoiador anônimo de Bolsonaro em um vídeo gravado em Santa Catarina.

Carlos Melo, professor de ciência política do Insper, uma universidade em São Paulo, disse que Lula da Silva precisará buscar o diálogo e reconstruir as relações. “O presidente pode ser uma ferramenta importante para isso, desde que não se preocupe apenas em abordar sua base de eleitores”, afirmou.

Apoiadores de Lula da Silva reagem enquanto se reúnem no dia do segundo turno da eleição presidencial brasileira, em Brasília, Brasil, 30 de outubro de 2022.

Com mais de 58 milhões de votos em seu rival Bolsonaro – que foi endossado pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump – Lula da Silva será forçado a formar “alianças pragmáticas” com setores de centro e direita que compraram as políticas de seu antecessor, acrescenta Tiago Amparo, professor de direito e direitos humanos da Faculdade FGV para Negócios em São Paulo.

Ao mesmo tempo, acrescentou Amparo, terá de corresponder às expectativas dos adeptos. “Muitos eleitores foram às urnas esperando, não apenas se livrar de Bolsonaro, mas com lembranças de tempos econômicos melhores durante os governos anteriores de Lula”.

Muitos estarão de olho na possível mudança na Lei de Reforma Trabalhista de 2017, que sujeitou mais direitos e benefícios dos trabalhadores à negociação com os empregadores e tornou as contribuições sindicais opcionais. Lula da Silva havia dito anteriormente que revogaria a lei, mas recentemente mudou a lei para “revisão” após críticas do setor privado.

Amparo adverte que a implementação de sua agenda pode ser uma batalha difícil, especialmente com um Congresso hostil. As cadeiras que eram da direita tradicional agora são ocupadas pela extrema direita, que não está aberta a negociações e nem é fácil de lidar, afirma Amparo.

Nas últimas eleições, o Partido Liberal de Bolsonaro aumentou de 76 para 99 o número de deputados na Câmara dos Deputados, enquanto no Senado dobrou de sete para 14. O Partido dos Trabalhadores de Lula da Silva também aumentou o número de deputados de 56 para 68 e seus senadores de sete para oito – mas, no geral, os políticos de tendência conservadora controlarão a próxima legislatura.

Essa discordância exigirá algumas concessões, observa Camila Rocha, cientista política do think tank Ciprap. “[Bolsonaro’s] O Partido Liberal terá o maior número de representantes e aliados importantes e apresentará oposição real ao governo, [Lula da Silva’s] O Partido Trabalhista terá que forjar uma aliança com [traditional rightwing party] A União Brasil está para governar, o que significa negociar os principais ministérios e cargos”, disse Rocha à CNN.

Um apoiador de Lula da Silva interage enquanto se encontra com outros apoiadores no dia do segundo turno da eleição presidencial brasileira, em Brasília, Brasil, 30 de outubro de 2022.

O governo Lula da Silva, por sua vez, será observado de perto pelos ambientalistas, pois assume o controle não apenas da nação brasileira, mas das maiores reservas florestais do planeta.

Com a destruição da vasta floresta amazônica atingindo níveis recordes sob a presidência de Bolsonaro, Lula da Silva disse repetidamente durante sua campanha que buscará reduzir o desmatamento. Ele argumentou que proteger a floresta pode render alguns lucros, apontando as indústrias cosmética e farmacêutica como potenciais beneficiárias da biodiversidade.

Em entrevista à imprensa estrangeira em agosto, Lula da Silva pediu uma “nova governança global” para enfrentar as mudanças climáticas e destacou que o Brasil deve ter um papel central nessa governança, dados seus recursos naturais.

Segundo o plano do chefe do governo Lula da Silva, Aloisio Mercadante, outra tática seria criar um grupo com Brasil, Indonésia e Congo antes da Conferência das Partes liderada pela ONU em novembro de 2022. O grupo pretende pressionar os países ricos a financiar a proteção florestal, bem como definir estratégias para o mercado global de carbono.

Vários especialistas disseram à CNN que acreditam que sua postura sobre o meio ambiente e a questão climática pode marcar um novo começo nas relações internacionais do Brasil.

Para Amparo, a proteção ambiental pode de fato ser um trampolim para a liderança global do Brasil, uma grande mudança depois que Bolsonaro alertou o mundo para não interferir na destruição da floresta amazônica. “Lula vai tentar, quase como um rebrand, o Brasil no cenário internacional como uma força a ser reconhecida”, afirmou.

“Podemos esperar que o governo volte a conversar com o mundo, principalmente com uma nova postura em relação ao meio ambiente”, disse Milo, pesquisador do Insper.

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