Dilema de combustível de Bolsonaro coloca chefe da Petrobras em terreno instável

Há um ano, Jair Bolsonaro provocou uma crise no grupo estatal de energia Petrobras ao substituir seu presidente-executivo tecnocrático por um oficial militar. Agora, o futuro do general nomeado pelo presidente brasileiro está cada vez mais em dúvida.

Com as eleições se aproximando em outubro, o líder populista de direita atacou nas últimas semanas a empresa de capital aberto Petrobras depois que ela se recusou a conter o aumento dos preços da gasolina e do diesel, uma dor para os eleitores.

Uma pesquisa publicada pelo BTG Pactual nesta semana descobriu que um em cada três entrevistados culpou o governo – uma proporção maior do que aqueles que culparam outros fatores, como a Petrobras ou a guerra na Ucrânia – pelo aumento dos custos de combustível. Nas bombas, o diesel aumentou um quarto e a gasolina 10% desde o início deste ano, prejudicando os padrões de vida, principalmente nas comunidades mais pobres.

Bolsonaro está rastreando nas pesquisas seu rival de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, um defensor declarado dos preços mais baixos dos combustíveis. Muitos esperam que o líder brasileiro lide com esse problema removendo o general Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras e instalando uma alternativa mais flexível, ou usando seus poderes presidenciais para criar um programa de subsídio aos combustíveis.

Ambas as opções trazem riscos potenciais para a maior empresa do Brasil e para a economia em geral. Quando Silva e Luna foi indicado no ano passado, as ações da Petrobras em São Paulo caíram 21 por cento e a moeda brasileira caiu em relação ao dólar em meio a preocupações de que o governo interfira na política de preços da empresa, que acompanha os mercados internacionais de preços domésticos de combustíveis.

No entanto, Silva e Luna até agora resistiu à pressão, o que levou a uma discussão no governo sobre quem poderia substituí-lo.

“No Brasil, a questão dos preços dos combustíveis é sempre uma questão política. Sempre foi ao longo da história da Petrobras”, disse Roberto Castelo Branco, que foi demitido por Bolsonaro como CEO no ano passado.

“Existe o risco de que a Petrobras sofra pesadas perdas com qualquer intervenção de preços”, disse ele, o que teria “repercussões negativas na economia brasileira”. Isso se soma às repercussões de curto prazo que ocorrem no mercado de ações, nas taxas de câmbio, nas taxas de juros.”

Claudio Porto, fundador da consultoria de energia Macroplan, vislumbra dois cenários. A primeira é uma “troca de tokens” onde Silva e Luna são trocados mantendo a política de preços. Por outro lado, o general é removido e a política de mensagens e preços da empresa é corrigida.

“Neste caso, o impacto no mercado de ações será mais longo com a Petrobras perdendo valor. Enquanto a Petrobras estiver sob controle estatal, estará sob ataque durante todo o ciclo da campanha.”

Por sua parte, Silva e Luna até agora se recusou a recuar. “O campo de batalha é minha zona de conforto”, disse ele à Reuters. “Eu não estou fugindo disso. Um homem deve fazer o que um homem deve fazer.”

No entanto, seu foco no valor para o acionista provavelmente ficará sob pressão contínua nas próximas semanas, à medida que políticos de todos os matizes se unirem contra ele.

Assim como Bolsonaro, Lula questionou a prática de reajustar os preços domésticos dos combustíveis em linha com as taxas globais do dólar. O esquerdista, que foi presidente de 2003 a 2010, prometeu “tornar os preços da Petrobras brasileiros” se vencer a eleição. Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, disse que a Petrobras tem uma “função social” de reduzir o impacto dos preços dos combustíveis.

No entanto, alguns observadores veem o discurso como pouco mais do que posições políticas. A reforma da governança corporativa na Petrobras depois de se envolver em um escândalo de corrupção de lavagem de carros de anos, juntamente com outras reformas legais, significa que agora é difícil para a administração e o governo agir de uma maneira que prejudique os negócios.

“Os regulamentos internos da empresa foram muito aprimorados, pois não permitiam que funcionários ou qualquer um dos diretores ou executivos fizessem qualquer coisa que pudesse prejudicar financeiramente a empresa. Essas pessoas podem ser responsabilizadas pessoalmente”, disse Luis Carvalho, analista do UBS.

O destino de Silva e Luna provavelmente será decidido em uma assembleia especial de acionistas da Petrobras em meados de abril. Seu atual mandato está programado para continuar em fevereiro próximo, embora ele possa ser demitido antes disso se o governo remover seu nome de uma lista para formar o conselho de administração da empresa. O CEO deve ser membro do conselho de administração, de acordo com as leis da empresa.

Para lidar com o aumento dos preços dos combustíveis, o governo também pode criar subsídios específicos. Paulo Guedes, ministro da Fazenda, disse este mês que o governo estuda a possibilidade, já tendo cortado uma série de impostos governamentais sobre os combustíveis.

Mas os críticos argumentam que é improvável que o impacto dos subsídios atinja as pessoas mais carentes do Brasil, que tendem a não possuir carros, e o programa, em vez disso, levará a melhores margens de lucro para os empresários da cadeia de abastecimento de combustível.

Eles também apontam que o governo já está limitado no que pode fazer, dadas as restrições legais aos gastos em ano eleitoral.

“Muitos afirmam que criar um determinado programa de apoio ou programa social seria classificado como crime eleitoral”, disse Adriano Perez, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Ele disse que a maneira de contornar isso seria Bolsonaro emitir uma ordem executiva declarando circunstâncias excepcionais ou um desastre público. Acho que se o preço do barril continuar em uma trajetória de alta. . . É provável que o governo o faça.”

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