Carga da síndrome congênita do vírus Zika no Brasil e sua associação com dados socioeconômicos

Em março de 2015, o sistema de vigilância brasileiro detectou o primeiro caso de febre ZIKV no Brasil24enquanto os primeiros possíveis casos de microcefalia associada ao ZIKV foram registrados no Brasil em outubro do mesmo ano25,26; Desde então, vários estudos foram realizados para melhorar a compreensão dos eventos relacionados à infecção pelo ZIKV27,28. No entanto, ainda existem poucos estudos que investigaram a magnitude e a carga da CZS ou da microcefalia relacionada ao ZIKV.29, bem como possíveis fatores socioeconômicos associados à doença. Nosso estudo demonstrou uma perda significativa de 30.027,44 DALYs no período cumulativo de seis anos avaliados no estudo, além de demonstrar associação da doença com indicadores socioeconômicos, principalmente escolaridade.

A epidemia de ZIKV continua sendo um grave problema de saúde pública para crianças com SCZ. Apesar da queda acentuada no número de casos desde 2018, o Brasil, como país continental com clima predominantemente tropical, apresenta condições ambientais favoráveis ​​para novas epidemias causadas por arboviroses como o ZIKV.30.

O número de nascidos vivos com microcefalia no Brasil aumentou drasticamente em 2015, número que foi nove vezes o registrado de 2000 a 201431. Esse pico também foi observado em muitos outros países durante a epidemia, como a Colômbia32Estado unido33Polinésia Francesa34 e Costa Rica35o que aumentou em quatro vezes a prevalência de microcefalia.

Um relatório anterior documentando padrões regionais na distribuição espacial do risco de microcefalia relacionada ao ZIKV no Brasil mostrou alta variabilidade espacial entre as regiões e destacou o Nordeste como a região desproporcionalmente afetada.29, o que está de acordo com nossos resultados. Esses achados reforçam os dados relatados por Marinho et al.36, na medida em que a região Nordeste tem a maior carga de doenças de muitas doenças, incluindo doenças infecciosas. Por outro lado, o estado do Rio Grande do Sul, localizado no sul do Brasil, sofreu pouco impacto da pandemia. Por outro lado, o estado do Rio Grande do Sul, localizado no sul do Brasil, sofreu pouco impacto da pandemia. Essa disparidade pode ser atribuída ao clima da região, caracterizado pelas temperaturas mais baixas do Brasil, o que cria um ambiente desfavorável para a disseminação e persistência do mosquito vetor responsável pela transmissão de alguns vírus artrópodes.31, 37.

Como já demonstrado em estudos anteriores, o pico de casos de SCZ ocorreu em 2016, com rápido declínio da incidência nos anos seguintes.5,38. Podemos relacionar essa diminuição de casos às medidas de controle e prevenção contra o ZIKV que foram aplicadas principalmente no controle do ZIKV Flor. egípcioo principal portador do vírus5, 17, 30, o que levou a uma diminuição não apenas nos casos de febre Zika, mas também nos casos de SCZ ao longo dos anos. O comportamento cíclico de alguns arbovírus também deve ser considerado39E4041, o que também pode explicar a baixa circulação do vírus ZIKV no Brasil. Apesar da queda nas notificações de novos casos de infecção por ZIKV e casos de SCZ, 5.699 casos prováveis ​​de infecção por ZIKV foram notificados entre janeiro e junho de 2022 no Brasil16.

A taxa de mortalidade por SCZ foi maior em 2016 em todas as regiões, principalmente na região Nordeste, que também apresentou maior taxa e perda de DALYs. Durante os seis anos observados neste estudo, observou-se que a taxa de mortalidade apresentou uma queda significativa em relação a 2018. O ano de 2017 também apresentou uma alta taxa de mortalidade, mas ainda é baixa em comparação com 2016.

Não foram encontrados na literatura estudos específicos sobre carga de doença por CZS, mas há dois estudos sobre microcefalia associada ao ZIKV12, 19. Moore-Salamanca et al.19, uma estimativa de 9,48 DALYs perdidos por caso de microcefalia associada ao vírus Zika na Colômbia de 2015 a 2016, valor superior ao estimado neste estudo, que foi de 8,36 DALYs perdidos por caso de 2015 a 2020. Essa diferença pode ser atribuída ao fato de nosso estudo focar apenas nos casos confirmados de SCZ, enquanto o estudo de More-Salamanca et al.19 Incluiu casos prováveis ​​e confirmados de microcefalia associada ao ZIKV. É provável que a inclusão de casos prováveis ​​em sua análise tenha contribuído para uma maior carga geral de doenças na Colômbia em comparação com nossa análise de casos confirmados de SCZ no Brasil. É importante considerar essas diferenças ao interpretar e comparar os resultados entre os dois estudos, Alfaro-Murillo et al.12 também realizaram um estudo sobre a carga de doenças associadas à microcefalia, conforme já discutido por More-Salamanca et al.19; Os valores estimados por esses autores foram muito elevados, com perda de 29,95 DALYs por caso de microcefalia. Essa diferença pode ser decorrente dos diferentes parâmetros utilizados para estimar os DALYs, sendo o peso da incapacidade o mesmo utilizado em ambos os estudos.

A carga da doença CZS em 2015 estimada em nosso estudo (7.506,82 DALYs) foi maior quando comparada com outras malformações congênitas (no mesmo ano) de acordo com estimativas globais da OMS (649,2 DALYs), com 59,7 DALYs atribuíveis a defeitos da mama e do tubo neural e 300 DALYs a outras malformações congênitas não especificadas.42. Para fins de comparação, a estimativa de CZS em 2019 foi de 1.072,4 DALYs, inferior à estimativa da OMS para anomalias congênitas no mesmo ano (1.158,8 DALYs).42. Finalmente, com base nos resultados obtidos neste estudo, podemos sugerir que, se a CZS fosse considerada nas análises de carga de doença realizadas pela OMS, ela seria responsável pela maior parte do valor obtido.

Vale ressaltar que a febre do ZIKV e, portanto, a SCZ são doenças relativamente novas e nossos dados referem-se apenas a 6 anos desde o surgimento da doença no Brasil. Nesse sentido, a idade máxima para crianças é de 6 anos, o que destaca a necessidade de estudos futuros para verificar a sobrevida e a carga de doença (em termos de DALY) dos indivíduos acometidos pela SCZ.

O ZIKV, assim como outros arbovírus, é transmitido por Flor. egípcioTem maior risco de transmissão em regiões tropicais, onde as condições de saneamento básico são precárias e a renda familiar é baixa43. Considerando que o Brasil é um país com grande desigualdade social, estudos têm mostrado que a falta de acesso à educação e oportunidades de trabalho e a pobreza são fatores determinantes quando nos referimos à epidemia de ZIKV e crianças nascidas com SCZ no país44. O fato de nossos resultados mostrarem que a SCZ está diretamente associada ao analfabetismo, menor renda e más condições de saneamento básico confirma que quanto mais vulnerável for uma família, maiores serão as chances de a mãe ser infectada pelo ZIKV e, portanto, o risco de transmissão vertical do ZIKV e o surgimento da SCZ. Durante a epidemia de 2015-2016, metaestudos relataram que mães de crianças com ZC tinham menor escolaridade e estavam desempregadas, principalmente após o nascimento de seus filhos.45,46.

Tendo em vista que o início da epidemia de SCZ no Brasil começou em 2015, nossa análise incluiu apenas crianças até seis anos de idade. Portanto, estudos longitudinais abrangentes que investiguem a progressão do desenvolvimento de crianças afetadas pela SCZ são necessários. Por meio desses esforços de pesquisa, torna-se possível obter informações valiosas sobre as trajetórias de desenvolvimento dessas crianças e os desafios específicos enfrentados por suas famílias.

Como um dos principais estudos realizados no Brasil para avaliar a carga geral da CZS, nossa pesquisa fornece informações valiosas sobre o impacto potencial da doença no país. Além disso, nossos resultados sugerem fortemente que os esforços coletivos para combater a epidemia de CZ no Brasil resultaram em uma diminuição sustentada de novos casos de CZ desde 2017. Com acesso a todos os resultados de casos notificados e confirmados e mortes por CZ, foi possível obter uma visão geral da situação da doença no Brasil. Nossos resultados também podem ajudar na compreensão de estudos futuros. Embora um relatório anterior tenha mapeado o risco de microcefalia associada ao ZIKV no Brasil29,44Nosso estudo avança na análise da associação de fatores socioeconômicos com a SCZ, reforçando a hipótese de que as desigualdades em saúde atuam como determinantes do processo saúde-doença e incidência da SCZ. Uma limitação importante do nosso estudo é o uso de dados sociodemográficos do censo de 2010, uma vez que o censo brasileiro de 2020 não foi realizado devido ao COVID-19. No entanto, deve-se notar que, como nosso estudo analisou os dados do CZS desde 2015, os dados do censo de 2010 podem não ter sofrido mudanças repentinas e significativas no período intermediário. Embora essa limitação afete a abrangência de nossa análise, acreditamos que ela não afeta significativamente os resultados gerais e as conclusões do estudo. Outra limitação é que, como a CZS é uma doença nova, ainda não há um valor de peso de incapacidade definido para a CZS.

Até o momento, este é o primeiro estudo realizado para estimar a carga de doença da SCZ no Brasil e um dos poucos na América do Sul. Com nossos resultados, foi possível constatar que a região Nordeste foi responsável pela maior taxa de AVAIs perdidos durante 2015-2020 e que 2016 teve a maior perda entre todos os anos. Com base nas fragilidades do nosso estudo, vemos que ainda existem problemas que podem ser resolvidos por estudos futuros, como a avaliação da qualidade e expectativa de vida de pessoas nascidas com SCZ e também um estudo realizado para avaliar o peso da incapacidade por SCZ e ZIKV. É possível que nossos resultados e metodologias no processo auxiliem em novos estudos e comparações futuras.

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