Brasil pode perder as metas do Acordo de Paris em 137% se Bolsonaro permanecer no cargo

  • O Brasil pode falhar as metas de emissões de gases de efeito estufa estabelecidas no acordo climático de Paris em 137% em 2030 se as políticas ambientais do presidente Jair Bolsonaro persistirem, de acordo com um novo estudo.
  • Até 23% da Amazônia brasileira poderia ser desmatada, transformando a maior parte da área em uma savana se a tendência atual não for revertida.
  • Com Luiz Inácio Lula da Silva entrando no segundo turno contra Bolsonaro no final de outubro, especialistas dizem que os resultados podem marcar o início de uma nova era para a política ambiental, mas que será necessária uma intensa mobilização da sociedade civil para uma grande mudança.

Em um mundo civilizado, as obrigações devem ser mantidas. Às vezes, isso é impossível devido a fatores incontroláveis, como uma pandemia ou um evento grave. Mas no que diz respeito ao Brasil e à redução das emissões de gases de efeito estufa, o governo de Jair Bolsonaro tem demonstrado que o desrespeito aos compromissos internacionais é uma política governamental intencional e regulamentada.

Desmatamento na Amazônia em 56% Desde que Bolsonaro assumiu o cargo, um novo estudo mostra que o Brasil pode deixar de cumprir as metas de emissões de gases de efeito estufa estabelecidas no acordo climático de Paris em 137% se suas políticas ambientais persistirem nos próximos anos. O relatório também prevê que a Amazônia atingirá um ponto de inflexão nesta década, após o qual o bioma começará a fazer a transição de uma exuberante floresta tropical para uma savana.

O estudo intitula-secenário de continuidade, encomendado pelo Instituto Clima e Sociedade (Institute for Climate and Society, iCS), uma organização sem fins lucrativos que apoia iniciativas climáticas, e o Instituto Talanoa, um think tank de políticas climáticas. Análise de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que o Brasil deixará de cumprir seu compromisso com a comunidade internacional pela primeira vez se não reverter a atual política ambiental. Se a atual tendência de aumento das taxas de desmatamento continuar, os pesquisadores dizem que terá um impacto econômico negativo que pode levar a mais desemprego, desigualdade e pior qualidade de vida para os moradores do Brasil.

Imagem de sobrevoo do desmatamento na Amazônia.
Imagens de sobrevoo de Porto Velho (RO) mostram uma área de cerca de 8.000 hectares (19.770 acres) de desmatamento, a maior em 2022. De acordo com um novo estudo, até 23% da Amazônia brasileira será removida inalterada na atual situação. politica ambiental. Foto © Nilmar Lage/Greenpeace.

Em setembro de 2016, o Brasil ratificou o Acordo de Paris, comprometendo-se a reduzir as emissões em 1,2 bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente até 2030 (redução de 43% com base nas emissões de 2005) e apresentar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) atualizadas a cada cinco anos ao acordo • Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Contribuições Nacionalmente Determinadas são planos e estratégias nacionais desenvolvidos pelos países para manter o aumento da temperatura global abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais com uma meta de 1,5°C para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. Em sua última contribuição atualizada da NDC, apresentada em abril, o Brasil confirmou sua meta de reduzir 37% dos gases de efeito estufa até 2025 e 50% até 2030, com base nas emissões de 2005.

Ao contrário de outros grandes poluidores, como Estados Unidos e China, onde a maioria das emissões vem da queima de combustíveis fósseis para eletricidade, aquecimento e transporte, um dos principais fatores de emissão de gases de efeito estufa no Brasil é devido ao desmatamento. Perdas significativas na cobertura florestal resultam da demanda nacional e global por madeira, carne bovina, soja, algodão, milho e outras commodities agrícolas e, em menor grau, agricultura de subsistência de corte e queima.

Desde que Bolsonaro assumiu o cargo no início de 2019, seu governo desmantelou a agência federal de proteção ambiental, IBAMA, e prometeu abrir a Amazônia para a agricultura e a mineração. Desde então, a taxa de desmatamento dobrou anualmente na maior floresta tropical do mundo. dados A partir do Sistema de Estimativa SEEG do Observatório do Clima, sem fins lucrativos, divulgado no ano passado, mostrou que em 2020, enquanto as emissões mundiais caíram 7% como resultado das medidas domésticas da COVID-19, no Brasil elas cresceram 9,5% O desmatamento foi o principal fator.

Desmatamento na Amazônia
O desmatamento na Amazônia aumentou 56% desde a posse do presidente Jair Bolsonaro. Foto © Nilmar Lage/Greenpeace.

“A política ambiental do atual governo é um desastre em termos de uso de recursos naturais, emissões de gases de efeito estufa e compromissos internacionais”, disse Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), à Mongabay por telefone. “Governo Bolsonaro contra tendência mundial de redução de gases poluentes. O pior uso de um rico recurso natural como a floresta amazônica é queimá-lo e transformá-lo em gás de efeito estufa.

No estudo, os pesquisadores usaram modelos matemáticos para simular dois cenários hipotéticos. Para o Cenário de Continuidade 1, eles consideraram mais quatro anos com a mesma política ambiental (que é a extensão dos estados no Brasil), com o desmatamento crescendo no ritmo de 2018-2021 na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, estabilizando a partir de 2026 . Nessa previsão, o Brasil chegará a 2030, emitirá 2,4 bilhões de toneladas métricas de CO2 equivalente e não cumprirá a meta de 91% de emissões.

Para o “Cenário de Continuidade 2”, os pesquisadores analisaram mais oito anos com a política ambiental de Bolsonaro. Até 2030, o país emitirá 3,0 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente, e a meta será perdida em 137%.

“O Brasil precisa de uma mudança fundamental para que possa retornar a um caminho de transição que levará a uma economia de baixo carbono”, disse Natalie Unterstil, presidente do Instituto Talanoa, por telefone à Mongabay.

Imagem de sobrevoo do desmatamento na Amazônia.
Desde que Bolsonaro assumiu o cargo no início de 2019, o desmatamento na maior floresta tropical do mundo aumentou de 754 mil hectares (1,86 milhão de acres) para 1,3 milhão de hectares (3,2 milhões de acres). Foto © Christian Braga/Greenpeace.

destruição irreversível

Emilio Lèbre La Rover, professor da UFRJ e um dos autores do estudo, disse que a análise é um alerta sobre o quão perto a política ambiental atual está do ponto de inflexão que impulsiona a Amazônia. Segundo La Rover, a floresta amazônica já perdeu cerca de 17% de sua cobertura, e o “ponto sem retorno” será cerca de 20-25% da perda de cobertura florestal.

No cenário de Continuidade 1, a floresta chegará a 2030 com um nível de destruição de 22,5%, segundo La Rovere. Ele acrescentou que no cenário de continuidade 2, mais de 23% da floresta seria perdida.

A floresta atingirá uma destruição irreversível em menos de uma década em ambos os cenários. Para Unterstell, isso afetará o mundo inteiro.

“O que pode acontecer é uma mudança ecológica geral para a Amazônia, com impactos muito além da própria América do Sul”, disse ela. “Estamos falando de efeitos sistêmicos na regulação global do clima e da precipitação, especialmente na América do Sul. E em termos econômicos, pode afetar a capacidade de produção agrícola do Brasil e da América do Sul, com implicações para a balança comercial global e a segurança alimentar.”

Em 2 de outubro, os brasileiros foram às urnas no primeiro turno das eleições presidenciais e parlamentares, em um momento crítico para o destino da Amazônia no Brasil, dizem especialistas. O ex-presidente de esquerda Luis Inácio Lula da Silva recebeu 48,43% dos votos, e Bolsonaro ficou em segundo lugar com 43,2%.

Imagem de sobrevoo do desmatamento na Amazônia.
Sem uma mudança radical na política ambiental, a Amazônia chegará a um ponto de inflexão nesta década, após o qual o bioma começará a fazer a transição de uma exuberante floresta tropical para uma savana. Foto © Christian Braga/Greenpeace.

Segundo a cientista política Nervia Ravenna, professora do Centro de Estudos Avançados da Amazônia da Universidade Federal do Pará, se Bolsonaro for reeleito, os cenários previstos no estudo podem ser piores.

“O que podemos esperar é que a atual política ambiental só piore”, disse Ravina à Mongabay por telefone. De fato, isso já está em andamento, pois as multas ambientais em 20 de setembro somaram R$ 16,2 bilhões [$3.1 billion] Ela disse.

A professora disse acreditar que a eleição de Lula pode marcar o início de uma nova era para a política ambiental, mas que será necessária uma mobilização massiva da sociedade civil para uma mudança tangível e significativa.

“Lula assumiu compromissos internacionais para atingir as metas de redução do desmatamento na Amazônia”, acrescentou Ravenna. No entanto, também estará sob pressão do setor do agronegócio, que quer se expandir para commodities como soja e óleo de palma. O apoio da sociedade civil será essencial em níveis subnacionais para proteger o meio ambiente e as terras indígenas e para alcançar os objetivos do Acordo de Paris.”

De acordo com o estudo, o Brasil poderá atingir suas metas do Acordo de Paris se as taxas de desmatamento começarem a cair em 2023, e se o governo também adotar estratégias de mitigação em vários setores da economia (como transporte, indústria e energia). “Se chegarmos a zero no desmatamento até 2030, também será possível reduzir a destruição da Amazônia em 18,5%, menos do que o limite que levaria a um ponto de inflexão”, disse La Rovere.

Imagem da bandeira: Processo de registro na Amazônia. Fonte da imagem: Fabio Nascimento para Mongabay.

a citação:

Centro Clima/COPPE/UFRJ. (2022, setembro). As Emissões de Gases de efeito estufa do Brasil em um cenário de Continuidade até 2030. recuperado de https://clima2030.org/wp-content/uploads/2022/09/Cenario-Continuidade.pdf

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