Bolsonaro insta Senado brasileiro a impugnar juiz da Suprema Corte

BRASÍLIA, Brasil (AFP) – O presidente Jair Bolsonaro pediu na sexta-feira ao Senado brasileiro que impugnasse um juiz da Suprema Corte – um movimento amplamente simbólico que mostra que ele não está disposto a aliviar as tensões com o judiciário.

João Marques, Secretário de Gabinete do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, confirmou à Associated Press ter recebido o pedido do presidente para impugnar o Juiz Alexandre de Moraes. Pacheco agora terá que decidir se há uma justificativa para a abertura de investigações que possam levar à responsabilização. Na terça-feira, Pacheco fez declarações a jornalistas que foram amplamente interpretadas como uma indicação de que ele não via tais motivos.

Bolsonaro se preocupa com as decisões da Suprema Corte desde o início da pandemia, quando os juízes determinaram que prefeitos e governadores – não apenas o presidente – têm jurisdição para impor restrições para retardar a disseminação do vírus. Recentemente, a polêmica atingiu seu clímax, Com o presidente alvo de duas investigações decorrentes de seus contínuos ataques à integridade do sistema de votação eletrônica do país.

“Por muito tempo, os juízes Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso cruzaram as fronteiras constitucionais entrando em ação”, escreveu Bolsonaro em 14 de agosto no Twitter. Ele citou o artigo 52 da Constituição brasileira, que estabelece que os juízes podem ser julgados por crimes e, eventualmente, destituídos do cargo.

O pedido de impeachment de 18 páginas acabou tendo como alvo apenas De Moraes, não Barroso. Alega que de Moraes conduziu investigações partidárias e antidemocráticas enquanto trabalhava como investigador, juiz e censor da liberdade de expressão.

Paulo Calmon, professor de ciência política da Universidade de Brasília, disse que o Senado nunca invocou o artigo 52 contra um juiz do Supremo Tribunal Federal, e as evidências sugerem que não há vontade de fazê-lo neste caso.

Ainda assim, disse ele, o pedido está funcionando para manter a base de Bolsonaro reunida.

“Isso tem um efeito simbólico na base dele, mostrando que o presidente é um lutador e está sempre pronto para responder com força”, disse Calmon.

Com seus índices de aprovação baixos, Bolsonaro insistiu que o sistema de votação eletrônica do país era vulnerável a fraudes – mas sem fornecer qualquer evidência. Isso gerou temores de que poderia abrir caminho para que os resultados eleitorais fossem rejeitados. Pesquisas recentes indicaram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve desafiar o titular na disputa do ano que vem, vencerá facilmente o segundo turno.

Em 3 de agosto, o Tribunal Eleitoral anunciou uma investigação sobre o Bolsonaro Em seus comentários sobre o sistema de votação, de Moraes incluiu o presidente na investigação da Suprema Corte sobre a disseminação de supostas notícias falsas.

Em 13 de agosto, de Moraes também ordenou a prisão de Roberto Jefferson, um aliado linha-dura de Bolsonaro e chefe do Partido dos Trabalhadores Brasileiros, sob a acusação de fazer ameaças à democracia nas redes sociais.

“Se não houver voto impresso e sem contagem de votos públicos, não haverá eleição no próximo ano”, disse Jefferson em um vídeo postado em 10 de agosto, ecoando os comentários anteriores de Bolsonaro. Suas postagens nas redes sociais frequentemente o mostram brandindo armas de fogo.

Em um comunicado, o partido negou a Jefferson qualquer irregularidade e disse que sua prisão resultou em perseguição e censura.

Ao tentar impeachment de Bolsonaro, ele negou qualquer ofensa sendo investigada e disse que exerceu seu “direito fundamental à liberdade de pensamento”.

Legisladores semana passada Eles votaram contra a moção para adotar recibos de votação impressos. Alguns dos aliados de Bolsonaro imploraram que ele deixasse de lado seu descontentamento com o resultado da votação e prendesse Jefferson, a fim de parar de hostilizar a Suprema Corte e colocar sua agenda legislativa de volta nos trilhos. Sua influência foi limitada. ___ A redatora da Associated Press Deborah Alvares relatou essa história em Brasília e a redatora da AP Silva de Sousa é carioca. O redator da Associated Press, David Beller, no Rio, contribuiu para este relatório.

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