Animação brasileira em 2018: crescimento exponencial

A animação brasileira apresenta uma gama completa de obras, desde obras-primas de autores até sucessos de bilheteria de grande orçamento

Há duas décadas, não havia nenhuma indústria brasileira de animação digna de nota. Há dez anos, um pequeno grupo de diretores poderosos lutava para ganhar exposição internacional e causar impacto na televisão, nos festivais e nas bilheterias no país e no exterior, com orçamentos baixos e muito trabalho duro. Hoje, a animação brasileira prospera em todas as frentes e, em alguns casos, supera a ação ao vivo em termos de orçamento e ambição.

Em 1951, foi lançado o primeiro longa-metragem de animação do Brasil, “Sinfonia da Amazônia”. Desde então, 43 outros recursos se juntaram a ele. Um filme a cada ano e meio dificilmente é algo digno de nota, mas de acordo com Marta Machado, da casa de animação brasileira Otto Decinhos, 19 desses filmes foram lançados nos últimos cinco anos e outros 25 estão atualmente em produção.

A indicação mais clara da ascensão do Brasil como uma potência internacional de animação veio em 2013, quando Annecy, um dos festivais e mercados de animação mais importantes do mundo, concedeu o Prêmio Cristal de Melhor Animação a “Rio 2096 – Uma História de Amor e Raiva”, de Luiz Bolognesi. ” Esse alcance foi ainda maior no ano seguinte, quando “O Menino e o Mundo”, de Ale Abreu, foi exibido com sucesso pela Cristals no Brasil, ganhando uma indicação ao Oscar.

A agência brasileira de cinema e televisão Ancine tem sido o motor financeiro que impulsionou grande parte do crescimento do cinema brasileiro na última década. Contudo, não é o único financiamento do sector público.

“Grande parte do crescimento veio de uma combinação de ajuda federal, bem como de um forte apoio regional, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro”, diz Fabiano Golan, produtor do filme de animação “A Arca de Noé”. “Um arsenal de incentivos à nossa disposição que fez a diferença.”

O impacto económico que uma forte indústria de animação tem numa região pode motivar os governos – federais e provinciais – a estimular a acção.

“A maioria das instituições tem apoio específico para animação”, explica Leila Burducan, ex-diretora executiva do Cinema do Brasil. “Os ministros da cultura e os governos estaduais do Brasil fornecem apoio específico para animação. A animação é uma atividade de mão-de-obra intensiva que fornece trabalho para os jovens.”

Segundo Burdakan, a escolha da produção foi a chave para o crescimento. O diretor Luiz Bolognesi concorda.

“Uma coisa que fizemos de diferente das outras áreas de animação é que decidimos não atuar como indústria de serviços, mas como produtores”, afirma. “Optamos por contar nossas histórias no nosso estilo sul-americano e foi uma lufada de ar fresco para a indústria. Arriscamos e vencemos.”

O maior filme brasileiro a chegar a Cannes este ano – na verdade, um dos filmes brasileiros de maior orçamento de todos os tempos – é Arca de Noé, uma releitura da história bíblica ao som da bossa nova, produzida por Golan e Walter. Salis. O filme, baseado nas músicas do letrista de “The Girl From Ipanema”, Vinicius de Moraes, foi vendido pelo Cinema Management Group (CMG) de Edward Noeltner.

No período que antecedeu Cannes, “Arca de Noé” fechou pré-vendas ativas na Rússia, China, grande parte do Oriente Médio e Sudeste Asiático, entre outras regiões.

No entanto, o Brasil não se concentra em grandes orçamentos, na comercialização convencional ou em filmes independentes dirigidos por autores. A animação brasileira hoje representa muitos gêneros diferentes e tem como alvo diferentes grupos demográficos. As linhas divisórias estão começando a ficar confusas.

Caso em questão: “Tito e os Pássaros”, de Gustavo Steinberg. Filme de animação inspirado em pinturas impressionistas, Tito segue um menino de 10 anos que se une a pombos locais para combater uma pandemia de medo. Foi selecionado pela Indie Sales, com sede em Paris, agente de vendas dos principais filmes de animação europeus, como My Life as a Zucchini e Another Day of Life, que está sendo exibido fora de competição em Cannes.

De acordo com Martin Gounder, Diretor de Marketing e Festivais da Indie Sales, suas experiências com o Zucchini, vendido em mais de 80 territórios, mostram que a animação dirigida pelo autor – quando combinada com o orçamento certo, potencial comercial e público-alvo – tem forte apelo internacional. Potencial comercial.

Este ano, o animador brasileiro Otto Guerra finalmente verá o lançamento de um filme em que trabalha há mais de duas décadas, intitulado “Cidade Pirata”. Um filme maluco dentro de um filme que apresenta uma combinação do cartunista e seus personagens, e que estreará na exibição à meia-noite do Festival de Annecy.

The Alien é uma das produções iniciais mais emocionantes do cenário de animação internacional, com os vencedores do Crystal Bolognese e Abreu colaborando na direção e produção, respectivamente. Programado para ser exibido no Annecy Mifa Pitches deste ano, o filme acompanha Helena, de 13 anos, que foi sequestrada em 1936 pelos indígenas Yanomami na Amazônia. Ela vive com eles há 20 anos, mas nunca supera a luta diária para conciliar as diferenças entre sua fé católica e a cosmologia mística Yanomami.

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