Fonte: Agência France-Presse
Rafael Brandão sorri com orgulho ao descrever o café brasileiro premium que produz com grãos provenientes exclusivamente de agricultores negros em um país onde muitos ainda associam o produto à escravidão.
O jovem de 31 anos só compra grãos de café de plantações pertencentes a descendentes de africanos e diz que o seu objetivo é “inverter esta lógica de que pessoas negras” como ele são “apenas trabalhadores”.
“À minha maneira, estou tentando fazer reparações históricas”, disse Brandão à AFP em sua torrefação em Nova Iguaçu, um subúrbio pobre do Rio de Janeiro.
Há quatro anos lançou sua marca Café di Preto.
Em 2022, ele vendeu 800 quilos (cerca de 1.700 libras) e, no ano seguinte, 1,4 toneladas. Este ano, ele espera aumentar esse número para mais de duas toneladas, depois de aumentar as vendas em 20% apenas no primeiro trimestre.
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O logotipo do Café di Preto é um punho negro levantado segurando um ramo de café, e todas as diferentes linhas de sabores levam nomes de mulheres negras importantes da história brasileira.
O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravatura, em 1888, e a desigualdade racial continua elevada num país onde mais de metade da população se identifica como “negra” ou mestiça.
“Mudar o mundo”
Fonte: Agência France-Presse
Brandão disse à AFP que através de seus esforços ele quer lembrar ao mundo que o Brasil se tornou um dos principais produtores de café
Nas costas de escravos da África, de onde é originário o café.
Ele também busca “quebrar o estigma de que os negros não produzem qualidade”.
“Portanto, meu trabalho também destaca isso”, disse ele. “Hoje tenho seis tipos de café produzidos por negros, todos…de ótima qualidade.”
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Ele acrescentou que muitos de seus clientes procuram qualidade, mas também um produto que “mude o mundo”.
Brandão é o líder da chamada onda de negócios negros no Brasil, que incentiva o comércio entre pessoas de ascendência africana como uma ferramenta para o progresso social.
Fonte: Agência France-Presse
Inicialmente, ele teve dificuldade em encontrar fornecedores negros, já que a grande maioria das fazendas de café no Brasil ainda pertencia a famílias brancas.
“Os fornecedores negros com quem negocio são a primeira geração a produzir nas suas próprias terras, muitas vezes apenas em alguns hectares”, disse ele.
Brandão foi forçado mais de uma vez a defender a cruzada escolhida.
“Às vezes me perguntam: e se fosse o contrário, se torrefadores de propriedade de brancos comprassem café de agricultores brancos?” Mas não é isso que realmente acontece?
Da fazenda para a xícara
A cerca de 500 quilômetros (311 milhas) de Nova Iguaçu fica a fazenda de café de 19 hectares (47 acres) de Neide Peixoto, uma das primeiras fornecedoras de Brandão.
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Fonte: Agência France-Presse
“Tenho contato com o café desde criança. Meus pais trabalhavam na lavoura e muitas vezes eu os acompanhava”, disse Peixoto, 49 anos, à AFP em sua fazenda no sudeste de Minas Gerais, onde se produz café.
Ao contrário dos pais, ela cultiva café em terras de propriedade da família, compradas pelo marido e irmãos, também ex-trabalhadores.
“Significa muito para mim ser um produtor negro de cafés especiais, porque nós, negros, temos uma história muito difícil e dolorosa”, disse Peixoto.
A maior parte da produção da fazenda é destinada à exportação, mas os grãos destinados ao Café Di Brito têm especial importância para Peixoto.
“É emocionante saber que o café que produzo, o café produzido pelos negros, também é torrado pelos negros”, disse ela.
“Fico muito feliz em saber que estamos fazendo essa conexão, desde a produção aqui na fazenda até a xícara.”
Fonte: Agência France-Presse
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