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Depois de quatro meses de campanha de vacinação de Covid-19 curta e retardada, o Brasil duramente atingido ainda está lutando para encontrar doses suficientes, enquanto erros políticos e diplomáticos prolongam seu pesadelo epidemiológico.
Cerca de 33 milhões de pessoas – 15% da população – receberam pelo menos uma dose da vacina no Brasil, proporção ainda pequena para ter impacto significativo na disseminação do vírus.
O governo do presidente Jair Bolsonaro, que tem como alvo uma investigação do Senado sobre como lidar com a pandemia, está enfrentando críticas por não conseguir mais vacinas, incluindo a rejeição de ofertas para comprar milhões de doses e tensão diplomática com a China que poderia retardar a importação de ingredientes da vacina. .
“Não temos doses suficientes no momento para vacinar tão rapidamente quanto deveríamos”, disse Margaret Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora do importante instituto de saúde pública Vuecruz.
“Temos que realmente alimentar os jovens, especialmente considerando que as populações mais jovens estão atualmente conduzindo a transmissão”, disse ela à AFP.
Mas, primeiro, o Brasil ainda precisa vacinar 80 milhões de pessoas de grupos de alta prioridade, incluindo idosos, indígenas e trabalhadores da saúde.
Enquanto isso, as doses da vacina continuam chegando – embora o governo afirme que poderá vacinar todos os adultos até o final do ano.
O Brasil perdeu mais vidas para a Covid-19 do que qualquer outro país, exceto os EUA – mais de 430.000 – e tem um dos maiores índices de mortalidade per capita do mundo.
Embora a onda atual tenha diminuído um pouco desde abril, o vírus ainda está matando um número surpreendentemente grande de pessoas no país – quase 2.000 por dia.
Negociação rejeitada
Apesar de seu enorme tamanho, o país sul-americano é conhecido por realizar campanhas de vacinação com turbocompressor.
Em 2010, o Brasil vacinou mais de 80 milhões de pessoas contra o H1N1 – o vírus da gripe suína – em menos de três meses.
“Precisamos vacinar dois milhões de pessoas por dia”, disse Dalcolmo.
Da forma como está, o Brasil raramente consegue fazer mais de 1 milhão de tiros de Covid-19 por dia.
“Melhoramos desde o início do ano, mas ainda estamos longe de onde precisamos estar”, disse João Viola, presidente do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.
O Brasil começou a usar duas vacinas, as vacinas Oxford / AstraZeneca e CoronaVac, desenvolvida na China, ambas licenciadas para produzi-las no mercado interno.
A campanha ganhou impulso no mês passado com a chegada da vacina Pfizer. Mas apenas 2 milhões das 100 milhões de doses solicitadas pelo Brasil foram entregues até agora.
Três tiros requerem duas doses.
O Brasil poderia ter garantido mais doses da Pfizer com mais rapidez, mas o governo de Bolsonaro rejeitou uma oferta em agosto passado para comprar mais de 70 milhões delas.
O presidente de extrema direita, que rejeitou sistematicamente os conselhos de especialistas sobre como lidar com a pandemia, brincou que uma vacina poderia “transformá-lo em um crocodilo” – apenas para mudar de curso meses depois e permitir um acordo com a gigante farmacêutica americana.
“A demanda global por vacinas é muito alta, então aqueles que demoram a assinar acordos estão recebendo seus pedidos mais tarde”, disse Viola.
Tensão diplomática
Bolsonaro, cujas relações governamentais com a China têm sido frequentemente tensas, também se recusou a comprar CoronaVac, chamando-a de uma vacina “daquele outro país”.
Mas o adversário político, João Doria, governador de São Paulo, o maior estado do Brasil, fez um acordo pela CoronaVac de qualquer maneira.
A vacina já responde por mais de 70 por cento das doses administradas no Brasil.
No entanto, o posto de saúde que o fabrica no Brasil, o Instituto Butantan, anunciou nesta sexta-feira que terá que interromper a produção porque acabou o ingrediente ativo, que deve ser importado da China.
O Brasil deve começar a produzir o ingrediente ativo do próprio CoronaVac, mas apenas em setembro.
O Instituto Butantan disse que “problemas diplomáticos” podem impedi-lo de oferecer novas doses em junho.
Na semana passada, o Bolsonaro provocou a China dizendo que pode ter criado o novo coronavírus em um laboratório para travar a “guerra dos germes”.
“Há 10.000 litros (do ingrediente ativo do CoronaVac) prontos, apenas esperando o governo chinês aprovar o embarque”, disse Doria.
“Mas cada vez que alguém aqui faz um comentário depreciativo sobre a China, isso obviamente torna tudo mais difícil.
(AFP)