Brasil pode ser um centro para investimentos na transição climática

Se o Brasil implementar mudanças significativas em setores-chave, como o agronegócio, ao mesmo tempo que fortalece as suas reformas pró-ambientais e agendas regulatórias, poderá ser capaz de liderar a transição climática global. Empresários e investidores apoiaram a ideia na primeira Cúpula Europeia do Clima no Brasil, que nasceu do evento homônimo em Nova York, realizado segunda-feira em Paris.

eles Coletado Na Maison de L’Amérique Latine, para forjar parcerias capazes de alavancar as vantagens comparativas do Brasil e transformar as ousadas ambições climáticas do país de alcançar emissões líquidas zero de carbono até 2050 em oportunidades de negócios.

O Brasil já é conhecido por sua matriz energética, que inclui grande parcela de fontes renováveis. A vasta experiência do país em bioetanol e energia hidrelétrica pode ser uma vantagem, explicou Luciana Costa, diretora de infraestrutura, transição energética e mudanças climáticas do Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil.

Clarissa Lenz, sócia da consultoria Catavento, acredita que há um grande potencial de investimentos em fontes renováveis ​​de energia no Brasil. No entanto, tanto Lenz como Costa identificaram o “elevado custo do capital” como um grande obstáculo ao investimento nas economias emergentes.

A Sra. Lenz observou que apenas 207 mil milhões de dólares foram investidos em 2022 em energia limpa nos países emergentes, representando apenas 16% do total global. “Esta é uma enorme lacuna no acesso aos recursos financeiros”, refletiu ela. “Infelizmente, as economias emergentes ainda não são vistas como estáveis ​​nem fiáveis”, explicou ela, observando que o risco macroeconómico representa 70 a 80 por cento do custo do capital. “Precisamos de encontrar formas de reduzir estes riscos macroeconómicos para mostrar que valemos a pena o investimento”, acrescentou.

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Em abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva emitiu um decreto temporário estabelecendo as bases para o Eco Invest Brasil, um programa de hedge cambial que visa proteger os investidores em projetos sustentáveis ​​dos riscos das flutuações cambiais. A ideia, uma resposta prática às preocupações de Lenz e de outros investidores, foi anunciada pela primeira vez em fevereiro, durante uma reunião dos ministros das finanças do G20 em São Paulo. Segundo o governo, o programa visa reduzir os riscos associados às flutuações cambiais – especialmente em investimentos de longo prazo superiores a dez anos – permitindo mais investimento estrangeiro direto no Brasil.

Tal como acontece com qualquer decreto temporário emitido pelo presidente no Brasil, o Congresso deve aprovar a legislação nos próximos quatro meses para que ela permaneça em vigor. Muitos detalhes ainda precisam ser revelados pelo Ministério da Fazenda e pelo Conselho Monetário do país (CMN). No entanto, a ideia é que consiga proteger, em certa medida, os investidores da habitual instabilidade económica do país.

Em colaboração com a Eco Invest Brasil e os detalhes da reforma tributária recentemente aprovada, o Congresso está discutindo vários marcos regulatórios nos quais os investidores estão particularmente interessados, como o Programa Future Fuels e o projeto de lei que cria um mercado regulamentado de carbono no país, para citar um alguns. Avançar com esta agenda é crucial para satisfazer as expectativas dos investidores internacionais.

Caso do agronegócio

Embora o setor energético do Brasil beneficie das suas fontes renováveis, o seu estigmatizado setor agrícola enfrenta desafios significativos em termos de atratividade, uma vez que 75 por cento das emissões do Brasil estão ligadas ao uso da terra. A questão principal aqui é o desmatamento.

As novas regras da UE sobre produtos livres de desmatamento – que visam garantir que os produtos vendidos na UE não contribuam para o desmatamento global – representam um desafio para todos os principais exportadores, observou Patricia Ellen, consultora e sócia-gerente da Systemiq. . Apesar disso, o agronegócio brasileiro tem sido apresentado como uma “grande oportunidade” e “fator de desenvolvimento” para a economia do país.

Existem esforços de curto e longo prazo por parte dos governos e do sector privado para cumprir os requisitos da UE que entrarão em vigor no final de 2024, começando pela consolidação das bases de dados existentes que não comunicam entre si.

O principal objetivo de todas essas iniciativas é melhorar a rastreabilidade. Roberto Wack, membro do conselho da Mavrage, o segundo maior produtor mundial de carne bovina, destacou a heterogeneidade do agronegócio brasileiro, reconhecendo que a pecuária está intimamente ligada ao desmatamento.

“Mas é errado vincular todo o setor do agronegócio a esta situação”, acrescentou, lembrando que grande parte do setor segue práticas confiáveis. A empresa anunciou recentemente planos de investir até R$ 2 bilhões (US$ 387 milhões) na compra de novas vacas para aumentar a proporção de gado que cria, engorda e abate.

Ao aumentar a integração vertical de sua produção, a Marfrig quer acelerar o processo para atingir seu objetivo geral: ter seu gado 100% rastreável e livre de desmatamento em todos os biomas brasileiros até 2025.

O Brasil desempenha um papel crucial na transição para a agroecologia, disse Caroline Bouquet, do fundo de investimento Mirova, citando muitas vantagens decorrentes dos recursos naturais do país. Embora reconheça que bilhões de hectares devem ser transferidos para sistemas agrícolas regenerativos com ecossistemas diversos, ela destacou que muitas empresas estabelecidas no Brasil já estão bem integradas no cenário internacional.

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“Penso que as oportunidades neste país são enormes. Isto é crucial porque os investidores internacionais não procuram projetos-piloto de pequena escala, querem investir em escala em empresas com um historial comprovado”, disse ela.

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A diplomacia também foi destacada como uma ferramenta para aumentar a atratividade do Brasil, especialmente neste ano, quando o país ocupa a presidência do G20. A liderança brasileira gera grandes expectativas, segundo Lawrence Tubiana, presidente e CEO da European Climate Foundation, e Michel Fredo, consultor sênior do Boston Consulting Group.

“O modelo do Brasil poderia encorajar outros países emergentes e em desenvolvimento a seguirem o exemplo”, disse Tubiana, um dos principais arquitetos do Acordo de Paris.

Isabella Teixeira, ex-ministra brasileira do Meio Ambiente, observou que o contexto geopolítico não é mais semelhante ao que era quando o Acordo de Paris foi assinado. “Precisamos de mudar a forma como exploramos soluções” e “trazer países que possam produzir soluções nos próximos cinco anos”, disse ela.

Tubiana concorda: “Não podemos repetir o que vimos em Glasgow e Dubai, onde os planos e os investimentos não avançaram”.

O Brasil demonstrou tremenda liderança no G20 em finanças. Tubiana observou que a ideia de um imposto sobre a riqueza, embora difícil, destaca que não podemos ter uma ação coletiva com desigualdades tão grandes, ressaltando que além de superar o desafio de redesenhar os investimentos e melhorar a atratividade, o Brasil precisa fazer isso enfrentando suas dificuldades. Problemas sociais.

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