Apoio, risco, experimentação e mercado: resenha de “Petite Galerie, Franco Terranova e a vanguarda brasileira” em Superfície

Instalação “Petite Galerie, Franco Terranova e a Vanguarda Brasileira” / Cortesia da galeria

A exposição na Galeria Superfície assinala os 100 anos de Franco Terranova (Nápoles, 1923), marchand e fundador da Petite Galerie. Em atividade de meados da década de 1950 até o final da década de 1980, Terranova e Petit tornaram-se figura e contexto essenciais no apoio aos novos movimentos artísticos emergentes no cenário brasileiro.

A exposição está dividida em três seções, abrangendo os principais períodos em que a galeria atuou: Abstração Geométrica na década de 1960; A Nova Figuração Brasil – movimento que investigou novas vertentes da pintura e do objeto artístico e cujo envolvimento político fomentou a produção de obras de forte e contencioso caráter político diante do contexto ditatorial e censitário dos anos 1970 no Brasil; E a seção final trata de arte conceitual e novas mídias, que inclui obras em papel e uma coleção inédita de filmes Super8 de Anna Maria Maiolino, Marcello Nicchi e Mira Schindel. A galeria também apresenta obras de artistas como Carlos Zélio, Regina Vater, Wanda Pimentel, Wilma Martins, Celdo Meirelles, Antonio Manuel, entre outros.

A mostra apresenta algumas peças históricas e icônicas de artistas que nem sempre são contempladas de forma programática ou mesmo permanente nos acervos dos museus brasileiros, ou se o são, de forma muito tímida. Esta é talvez uma das características mais marcantes da exposição: trata-se da criação – ainda que temporária e em pequena escala – de uma curta excursão histórica e narrativa por desenvolvimentos particulares da arte brasileira. E se considerarmos que a maioria das instituições do país carece de recursos (principalmente manuais e materiais) para preservar, valorizar e criar as narrativas culturais que vão moldar a produção da história, o valor educativo e patrimonial da exposição como documento histórico certamente supera o valor de mercado. Também podemos notar na maioria das obras uma ligação com ideias e características que são comumente associadas à pop art, mas essa característica é um elemento que não é claramente assumido na mostra embora seja predominante na maioria das obras. Podemos até pensar em “Popcritico” (referindo-se às obras “Popcretos” de Valdemar Cordero) como o termo mais adequado para abordar obras associadas a essa característica.

Tendo em conta que a exposição decorreu em estreito contacto com o arquivo Terranova, foi também útil destacar documentos que alargassem a compreensão do âmbito e complexidade da atividade e da história da Petite Galerie (1). E talvez esta seja uma boa oportunidade para outras instituições museológicas começarem a olhar para o passado e a história da arte brasileira de forma mais ativa, escrevendo e reescrevendo a história da arte nacional incluindo seus fracassos, perigos, questões não resolvidas e perenidade. Dilemas, uma história ainda cheia de lacunas, esquecimentos e focos.

“Petit Gallery, Franco Terranova e a vanguarda brasileira”
Galeria Superfície
Rua Oscar Freire 240, São Paulo
Em exibição até 27 de maio de 2023

(1) Refiro-me, por exemplo, ao término da exposição e ao plano da Terranova de abrir uma nova sede na Barra da Tijuca onde os artistas possam utilizar o espaço da galeria para realizar novas produções e também com a integração de outras linguagens ​​em seu programa (por exemplo, música, teatro, dança…). Veja: Arte é um investimento, 12/07/1988, entrevista de Soraya Kals a Franco Terranova. youtube.com/watch?v=7zvuXbIY9UY

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