De fato, o Brasil pode estar no início de um ciclo virtuoso: condições internacionais favoráveis, inflação e taxas de juros em queda e um ambiente político mais positivo.
Comece com o setor externo. Com a reabertura da China, as exportações brasileiras, como soja e açúcar, estão prosperando, saltando para um recorde de quase US$ 340 bilhões nos últimos 12 meses e registrando seu maior superávit comercial de todos os tempos. “Nenhum outro mercado emergente mudou nem perto disso”, diz Robin Brooks, economista-chefe do Institute of International Finance, economista sênior de longa data no Brasil.
Brooks há muito argumenta que o valor justo do real brasileiro é de 4,5 por dólar – e os investidores começaram recentemente a acreditar em sua tese, com a valorização da moeda para 4,81 por dólar na quarta-feira, o maior valor em mais de um ano. Uma perspectiva econômica mais positiva nos Estados Unidos, como escreveu meu colega Jonathan Levin, ajudaria muito o Brasil.
Depois, há a inflação, que vem caindo significativamente, para espanto dos analistas. Sim, há ressalvas sobre o impacto dos cortes de impostos, e a leitura subjacente ainda é alta (que eu recomendo que você leia minha colega da Bloomberg Economics, Adriana Dubetta). Mas a verdade é que a taxa de inflação no Brasil, de 3,9%, é menor do que na maioria dos países comparáveis ou mesmo em países ricos como Estados Unidos, Canadá ou Austrália. É responsável por dois terços da taxa básica de inflação na zona do euro. As expectativas de inflação também melhoraram significativamente: o IPC agora deve encerrar o ano em 5,42%, ante 6,05% no final de abril.
Portanto, o banco central, que conseguiu domar os ganhos das cotações após terem saltado para mais de 12% em abril de 2022, deve reduzir o preço das ações. Atualmente está em 13,75%, tornando o Brasil o país com a maior taxa de juros real do mundo, quase 10%.
A redução das taxas será crucial para ajudar a acelerar a demanda e aliviar os consumidores superendividados. O mercado de trabalho também se fortaleceu, com a taxa de desemprego caindo para 8,5% em abril, próximo aos níveis de 2015.
Ao contrário de outras empresas da região, as empresas brasileiras são muito sensíveis a movimentos de preços, então esse aperto monetário excessivo prejudica seus balanços – e se os custos de empréstimos caírem, será uma fonte de crescimento adicional. Tomemos, por exemplo, a Yduqs Participações SA, com sede no Rio de Janeiro, uma empresa privada de educação que oferece ensino presencial, ensino híbrido e ensino a distância.
A empresa observa uma recuperação na demanda, principalmente entre os clientes de baixa renda, e espera um ambiente muito melhor quando o banco central começar a cortar as taxas, diz o CEO Eduardo Parente. As ações da empresa subiram mais de 70% desde o início do ano devido à expectativa de recuperação dos consumidores e maiores lucros.Parenti diz que cada ponto percentual do corte na taxa de juros significa 28 milhões de riais (US$ 5,8 milhões) em caixa adicional. “Estamos muito animados com as perspectivas do país para 2024”, afirma.
A evidência dessa situação fiscal e monetária melhorada levou a S&P Global Ratings na quarta-feira a elevar a perspectiva da dívida do Brasil de estável para positiva.
Finalmente, também há motivos para otimismo na frente política. Enquanto Lula III parece ser menos paciente e um líder mais dogmático do que Lula I, as tendências esquerdistas do presidente Luís Inácio da Silva são maculadas pelo congresso de centro-direita. Como disse recentemente à CNN Brasil o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o Congresso não é de esquerda, mas “reformista, liberal, falador, com posições próprias”.
Tradução: para ter alguma chance de avançar em sua agenda, Lula teria que fazer o tipo de barganha política que todos os presidentes tiveram que fazer. Felizmente para ele, a nova estrutura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve ser aprovada pelo Congresso, removendo uma grande nuvem sobre o horizonte financeiro do Brasil. Portanto, mesmo que Lula avance com seus planos de enfrentar as antigas desigualdades e imperfeições sociais do Brasil – algo que deve ser enfrentado, para ser claro – a posição fiscal do país deve ser protegida.
Como indiquei em outro lugar, o Brasil se beneficiou nos últimos anos de sua abertura a novas tecnologias, projetos de infra-estrutura moderna, mercados de capitais em expansão e um ambiente de negócios mais desenvolvido. Tudo isso sustenta a economia, que está pronta para uma recuperação.
Claro, posso estar errado. Continuo lembrando que (numa) capa de economia popular de 14 anos atrás, a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, aparece decolando como um foguete – a que se seguiu a pior recessão do país em décadas. As previsões sobre a economia brasileira são arriscadas tanto para jornalistas quanto para economistas ouvidos pelo Banco Central em janeiro. No entanto, parece um bom momento para o Brasil.
Em outro lugar na opinião de Bloomberg:
• Lula precisa de um abraço, não de exigências de Biden: Eduardo Porter
• Mídia social falhou novamente no Brasil: Parme Olson
• Brasil, sim Brasil, aponta saída para a inflação: David Vikling
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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.
Juan Pablo Spinito é editor-chefe da Bloomberg News para economia e governo da América Latina.
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