O Brasil está procurando novos fornecedores de fertilizantes, já que a guerra na Ucrânia ameaça cortar os embarques para um dos celeiros do mundo, com potenciais repercussões para a já disparada inflação global dos preços dos alimentos.
O país latino-americano é o maior produtor de café, soja e açúcar, e o mais dependente das superpotências agrícolas mundiais de fertilizantes importados. O Brasil importa cerca de 85% de seus fertilizantes, e cerca de um quinto dessas importações vem da Rússia. O Ministério do Comércio russo pediu uma suspensão em larga escala das exportações de fertilizantes, informou a agência de notícias russa TASS na sexta-feira.
“O Brasil depende de fertilizantes… é um assunto sagrado para nós”, disse o presidente Jair Bolsonaro a repórteres no início desta semana, defendendo sua decisão de manter relações amistosas com Moscou enquanto a Rússia ataca a Ucrânia. O Sr. Bolsanaro foi um dos últimos líderes mundiais a visitar o presidente russo Vladimir Putin antes do início da invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, encontrando-se com ele no Kremlin em 16 de fevereiro.
Se os agricultores brasileiros tiverem que pagar muito mais por fertilizantes ou se não puderem produzir muitas colheitas, o custo de seus produtos agrícolas provavelmente aumentará, elevando os preços globais dos alimentos.
O Brasil também é um importante fornecedor de milho e carne bovina. Os preços mais altos dos grãos aumentam os custos da alimentação animal, que são repassados aos consumidores, que têm que pagar mais pela carne e outros produtos de origem animal.
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Antes do conflito na Ucrânia, agricultores de todo o mundo lutavam para comprar fertilizantes suficientes, alguns dos quais dobraram de preço no ano passado. Os altos preços do gás natural prejudicaram a produção de amônia necessária para fertilizantes nitrogenados, enquanto os apagões nas fábricas de fertilizantes chinesas e o furacão Ida nos Estados Unidos reduziram a produção global.
Analistas do setor disseram que a guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia pioraram a situação, levantando a possibilidade de uma prolongada crise de oferta global que aumentaria a inflação e a fome entre os pobres do mundo.
A Rússia, que produz cerca de dois terços da produção mundial de nitrato de amônio, de acordo com analistas de commodities da S&P Global, interrompeu as exportações até abril para garantir o abastecimento dos agricultores em casa. O aumento dos preços do gás natural em decorrência do conflito também levou a um aumento nos preços do produto que é usado para aumentar a produtividade de culturas como milho e trigo.
“Ninguém sabe o que vai acontecer”, disse Ricardo Arioli, um produtor de soja do estado de Mato Grosso, centro-oeste, no Brasil. “A guerra significa uma completa falta de certeza. O custo de produção torna-se amplamente desconhecido”, disse ele.
A ministra da Agricultura brasileira, Teresa Cristina Dias, disse que planeja viajar para o Canadá este mês para garantir mais suprimentos. O Canadá é o maior produtor de fertilizantes à base de potássio do mundo, seguido pela Rússia e pela Bielorrússia.
A Sra. Dias disse que o Brasil tinha estoques suficientes para os agricultores até outubro. Nem todos concordam.
A Associação Nacional de Fertilizantes do Brasil, que representa as empresas de fertilizantes naquele país, alertou que os estoques locais de fertilizantes durarão apenas mais três meses. A organização disse que sanções e restrições de viagem prejudicaram os embarques para o Brasil.
“Agora estamos testando em primeira mão o que significa depender de fertilizantes importados”, disse Jefferson Souza, analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, uma corretora no Brasil. Ele disse que a baixa produtividade impediu o Brasil de desenvolver uma indústria nacional de fertilizantes maior.
O governo brasileiro disse que lançará um plano nacional de fertilizantes para estimular o investimento em minas de potássio e fósforo. Analistas disseram que levaria anos para os agricultores colherem quaisquer benefícios.
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Os preços globais dos alimentos já estavam em seu nível mais alto em 10 anos antes da invasão russa da Ucrânia, já que a pandemia de coronavírus prejudicou os embarques e as chuvas torrenciais em algumas regiões em desenvolvimento reduziram a produção. Governos nacionais e grupos de ajuda alertaram que isso se traduz em taxas mais altas de fome entre as famílias mais pobres do mundo, que também estão lidando com o impacto econômico da pandemia.
O problema é particularmente grave em países latino-americanos como o Brasil, onde a inflação está elevando os custos diários, incluindo aluguel e eletricidade, deixando as famílias com menos dinheiro para alimentação. Até o final de 2020, uma em cada três pessoas na América Latina e Caribe – 226 milhões – não tinha condições de pagar uma dieta nutritiva ou estava pulando refeições para alimentar seus filhos, disse Giulio Berdighi, representante regional para América Latina e Caribe da Food Food e Organização da Agricultura das Nações Unidas.
Isso foi antes da inflação de alimentos varrer a região. “Seria um milagre se a situação não piorasse”, disse Berdigy.
Os altos custos dos fertilizantes também impedem os agricultores brasileiros de aumentar a produção de grãos para compensar as deficiências na Ucrânia e na Rússia, uma importante região agrícola.
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“O Brasil tem tecnologia para produzir”, disse Antonio Galvan, agricultor e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja. “Agora, com essa proibição, os preços dos fertilizantes podem subir tão drasticamente que nem vale a pena cultivar.”
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