Esperança para o retorno do Carnaval em meio ao sucesso do COVID-19 no Brasil | América Latina | DW

O Brasil vacinou mais de 75% de sua população pelo menos uma vez, a taxa de incidência em sete dias caiu para apenas 30 e algumas unidades de terapia intensiva (UTIs) nas principais cidades não têm um único paciente com COVID-19. Tudo isso ocorre em um momento em que as comemorações do Carnaval devem começar em fevereiro, com a pressão sobre o governo para não pular o evento icônico depois que ele foi cancelado no ano passado.

A luta do Brasil contra o coronavírus é impressionante e mostra que países como a Alemanha podem aprender muito com ela no enfrentamento da pandemia. Isso apesar do fato de o Brasil ter sido mais atingido pelo coronavírus do que quase qualquer outro país, com mais de 614.000 mortes por COVID-19 – o terceiro maior número de mortes no mundo depois dos EUA e da Índia.

Um homem recebendo uma injeção

Homem recebe terceira dose da vacina em salão comunitário no Rio de Janeiro

Primeiros cancelamentos de carnaval, outros ainda esperançosos

É por causa dessa dolorosa experiência que 58 cidades do estado de São Paulo já desligaram e cancelaram as celebrações do Carnaval mais uma vez por medo de surtos de COVID-19. São Salvador, Botucatu, Sorocaba e Poá e Suzano.

Mas muitos brasileiros ainda esperam que nem tudo esteja perdido. Em Recife, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um comitê recém-criado deve tomar uma decisão final nas próximas semanas sobre a continuidade das comemorações do destaque anual do Brasil.

“Em países como a Alemanha, a vacina chegou muito rápido e agora há problemas para chegar a toda a população. Aqui foi o contrário: não tínhamos acesso à vacina no Brasil no início e depois uma população que queria ser vacinados o mais rápido possível”, disse o epidemiologista Ricardo Palacios. “Mas estamos assistindo os protestos anti-vacinação na Europa com muita preocupação, porque eles podem nos apresentar uma nova onda quando vierem ao Brasil para o Carnaval.”

Mais de dois milhões de turistas costumam descer ao Rio para as festividades, festejando de perto.

Epidemiologista Ricardo Palacios em São Paulo

O epidemiologista Ricardo Palacios é um dos principais cientistas na luta do Brasil contra a COVID-19

Altos níveis de confiança na vacina

Palacios, que nasceu na Colômbia, é um dos principais epidemiologistas da América Latina e é conhecido por seu trabalho no Instituto Butantan, um importante centro de pesquisa estatal. Palacios também liderou o internacionalmente aclamado “Projeto S”. O título refere-se a um experimento na pequena cidade de Serrana, no sul do Brasil – população de 45.000. No início do ano, Serrana se tornou a primeira cidade do mundo a ser completamente vacinada.

Agora, todo o Brasil está em processo de se tornar um modelo – com uma taxa de 98% de vacinação pela primeira vez entre adultos em São Paulo e 95% no Rio. Além disso, nenhuma das duas megacidades registrou uma única morte por COVID-19 em dias.

“O Brasil tem um programa de vacinação há mais de cinco décadas que entrega uma quantidade invejável de vacinas à população”, disse Palacios. “O sucesso do Brasil tem a ver com instalações governamentais de pesquisa, como Butantan ou Fiocruz, de um lado, e uma população que confia na vacina, de outro. E temos aqui uma sociedade que pensa mais coletivamente do que individualmente, como é o caso na Europa.”

Sucesso da vacina apesar de Bolsonaro

O sucesso da vacinação no Brasil é ainda mais surpreendente, já que seus 212 milhões de habitantes têm um dos maiores céticos do mundo em relação ao COVID-19 como presidente, Jair Bolsonaro. Ele minimizou a pandemia, disse que o COVID-19 é uma “fungadela”, zombou dos usuários de máscaras e alegou seriamente que as vacinas podem transformar as pessoas em crocodilos. O presidente de extrema direita também bloqueou contratos com a fabricante de vacinas Pfizer por meses.

“Desde o início da pandemia, infelizmente, o coronavírus está politizado aqui”, disse o epidemiologista Julival Ribeiro. “Fizemos grandes melhorias na vacinação nos últimos meses, mas também temos um presidente e muitas autoridades e médicos que ainda duvidam da eficácia da vacina”, disse.

Jair Bolsonaro

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro fez ondas com suas declarações banalizando a pandemia e as vacinas

Especialista pede cautela

O epidemiologista trabalha na Sociedade Brasileira de Doenças Infecciosas (SBI) e luta incansavelmente contra negadores da ciência como Bolsonaro desde o início da pandemia.

Ribeiro parece ter vencido a batalha: no Brasil, até teatros, museus e supermercados estão sendo convertidos em postos de vacinação e estradas estão sendo fechadas para isso. Com uma taxa de mortalidade de uma para cada 350 habitantes, quase todo brasileiro já perdeu alguém próximo. Em última análise, isso levou até os apoiadores do presidente a agora buscarem a vacinação em massa.

“Agora precisamos que a vacina seja rapidamente aprovada para crianças de 5 a 11 anos”, disse Ribeiro. O Brasil, diferentemente da Alemanha, planeja vacinas de reforço há muito tempo e problemas com agendamento são inéditos.

Ano após ano, o país consegue vacinar 80 milhões de pessoas contra a gripe em um recorde de seis semanas. Mas o epidemiologista, no entanto, alerta que o Carnaval não deve arruinar os sucessos duramente conquistados na luta contra a pandemia.

Juliv Ribeiro

O epidemiologista Julival Ribeiro está preocupado em realizar eventos de massa e diz que seu maior medo é uma nova variante que foge de todas as vacinas

Festa só se estiver vacinado

“Enquanto todos os países deste mundo não entenderem o controle da pandemia como uma tarefa conjunta, sempre teremos que responder às novas ondas do coronavírus”, disse Ribeiro. pode fugir das nossas vacinas. E então teremos que começar tudo de novo.”

O futuro do Carnaval do Rio em 2022 está por um fio, mesmo que políticos como o ministro da Saúde da cidade, Daniel Soranz, estejam determinados a manter a esperança. Ele anunciou recentemente a maior festa de carnaval da história.

Mas Soranz deixou uma coisa inequivocamente clara: se a festa realmente acontecer, todo visitante precisará de algo mais do que uma fantasia – um certificado de vacinação.

Este artigo foi traduzido do alemão

Editado por: Jon Shelton

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