Investidores estão comprando ações de shoppings brasileiros, mas evitando varejistas em dificuldades

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1º de janeiro de 2024

Os centros comerciais brasileiros regressaram ao mercado de consumo, recuperando de anos de perdas, enquanto os retalhistas do país lutam para sobreviver aos elevados encargos da dívida e à feroz concorrência online.

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As ações da Allos SA subiram quase 60% este ano, a caminho de seu maior salto anual desde 2019. As pares Multiplan Empreendimentos Imobiliarios SA e Iguatemi SA ganharam cerca de 30%, superando o índice de ações de referência Ibovespa.

Estes ganhos resultam de uma recuperação dos lucros, que deverá continuar à medida que o crescimento económico acelera e as taxas de juro caem. A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, conhecida como Alshop, afirma que as vendas de Natal devem atingir 70 bilhões de reais (US$ 14,5 bilhões) em 2023, um aumento de 5,6% em relação ao ano passado.

É uma reviravolta para um sector que foi duramente atingido pelos confinamentos pandémicos, pelo aumento do comércio electrónico e pelo aumento dos preços – factores que pesam sobre o desempenho de alguns dos maiores retalhistas do país. É também uma história diferente da dinâmica que temos visto nos EUA, onde os hábitos de consumo mudaram para serviços e experiências como férias e concertos de Taylor Swift, abrandando o tráfego nos centros comerciais.

“Há uma divisão entre o desempenho dos varejistas e dos shoppings”, disse Thiago Lima, gestor de fundos de dívida e chefe de imóveis da gestora de ativos JGP SA, que tem negócios com a Allos e a Multiplan. “Um shopping center é um mercado físico onde o desempenho do varejista individual não importa. O que importa é a combinação de ofertas e serviços”.

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Os gigantes varejistas do Brasil têm enfrentado dificuldades com taxas de juros mais altas e maior escrutínio após o súbito colapso da Americanas SA em janeiro. A Casas Bahia, anteriormente conhecida como Via e uma das redes de varejo mais populares do país, foi forçada a vender ações com grandes descontos em setembro para ajudar a pagar dívidas. Suas ações deram aos investidores os piores retornos este ano entre o índice de referência do Brasil, ao despencarem 81%. As ações da concorrente Magazine Luiza SA caíram 21% no acumulado do ano.

A divisão também se aplica à renda fixa, onde os investidores se sentem mais confortáveis ​​em manter dívidas do que os operadores de shoppings, que possuem imóveis que podem servir de garantia caso a empresa precise de mais financiamento, disse Lima. Os comerciantes retalhistas, na sua maior parte, possuem relativamente poucos activos físicos.

Certamente, alguns retalhistas de moda brasileiros – que podem ser encontrados em centros comerciais – estão a ter um desempenho melhor do que os seus congéneres tradicionais. Tanto a Vivara Participações quanto a C&A Modas superaram o índice Ibovespa, com este último subindo quase 250% este ano em meio a um desempenho “impressionante” no setor de vestuário.

A Allos, a ação com melhor desempenho no setor, embarcou numa série de vendas de ações para aumentar o caixa que pode ser usado para financiar expansões. A empresa – fruto da fusão entre Aliansce Sonae e BR Malls Participações SA – investiu cerca de 1,8 bilhão de reais desde setembro.

Espera-se que os shoppings brasileiros continuem reportando fortes lucros em 2024, escreveu Natalia Brandão, analista sênior da Fitch Ratings, no início de dezembro. Com aluguéis ajustados pela inflação, altas taxas de ocupação e poucas inadimplências, as empresas conseguirão manter altas margens de lucro e aumentar a geração de caixa, disse a empresa de classificação.

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Oferecer não apenas lojas de departamentos, mas tudo, desde salões de beleza a academias, também traz um benefício para o setor, segundo Fanny Oring, analista do Banco Santander.

“Os shoppings nos Estados Unidos são muito focados no varejo, por isso se tornam um destino de compras e não uma opção de entretenimento”, disse ela. “Em um país como o Brasil, onde a economia é muito cíclica, as operadoras de shopping sempre tiveram que adaptar seu mix e se reinventar.”

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