Em São Paulo, um novo nascimento da “Hollywood Brasileira”

Uma mensagem de São Paulo

O interior do Soberano Bar em São Paulo, Brasil, em 12 de março de 2024.

“Soberano.” O nome está escrito em letras douradas na fachada de uma casinha em Santa Efigênia, no centro de São Paulo. Numa tarde quente de Março, nesta área da classe trabalhadora apelidada de “paraíso da electrónica” pela sua abundância de lojas especializadas em áudio e iluminação, não havia sinal de um grande evento a acontecer. Porém, foi o local do renascimento da “Hollywood brasileira”.

A ideia partiu de dois entusiastas: Renata Forato, que usa óculos redondos e cílios pretos, e Marcelo Colaiacovo, um homem alto, barbudo e com camisetas coloridas. Aos 41 anos, eles se propuseram a reabrir o Bar Soberano, espaço lendário da Rua do Triunfo onde se reunia o crème de la crème do cinema brasileiro. A dupla afirmou: “A ideia é reviver o local que abrigou muitos gênios do cinema popular e democrático”.

“Nas ruas não há pinturas ou monumentos que nos lembrem da história desta região”, disse Renata, produtora cultural de São Paulo. Entre as décadas de 1960 e 1980, foi o centro nevrálgico do cinema local, com mais de 1.000 filmes produzidos. Na época, a área de “Hollywood” ou “Cinecita Brasileira” era conhecida em todo o país por um nome estranho: Boca do Lixo, literalmente “boca de lixo”.

“Cure essa perda de memória.”

Na Rua do Triunfo e nas avenidas vizinhas, os cineastas conviveram com prostitutas e moradores de rua numa extraordinária onda criativa. “Drama, fanfarrão, kung fu, detetive, terror, experimental: produzimos tudo em La Boca!” lembra Marcelo, diretor e pesquisador apaixonado. A região era conhecida por seu “cinema marginal” focado na contracultura, “faroestes de feijoada” (a versão brasileira dos filmes de cowboy) e “com.ponochanchadaComédias de suspense de baixo orçamento.

Diretores, atores e produtores se reuniram em Os Sopranos, sede deste cinema maluco e extravagante. O prédio de três andares foi reaberto no dia 13 de março e agora abrigará um bar e restaurante de zinco, completo com pôsteres nas paredes, além de salas de projeção e exibição de filmes. “Precisamos resolver essa amnésia”, insistiram Renato e Marcelo, que, após 20 anos de pesquisa, hoje possuem um enorme arquivo.

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Andrea Ormond, escritora e crítica de arte especializada nesse movimento, disse: “Boca do Lixo foi o período mais rico do cinema brasileiro”. Isso se deveu à proximidade do bairro com a grande estação ferroviária da Luz: “Essa proximidade facilitou o transporte de rolos para o interior”, lembrou. A partir da década de 1920, dezenas de distribuidores e produtoras instalaram-se em Santa Ifigênia. Entre eles estavam gigantes como Paramount, Fox, MGM e Columbia Pictures.

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