Arte rupestre ‘fantástica’ encontrada ao lado de pegadas de dinossauros de 145 milhões de anos no Brasil

A paleontologia e a arqueologia combinaram-se no Nordeste do Brasil, onde foi descoberto um sítio “magnífico” com pegadas de dinossauros ao lado de antigas esculturas rupestres.

O sítio Cerote do Letrero, no município de Sousa, na Paraíba, abriga três grandes afloramentos rochosos, onde foram descobertas pegadas fossilizadas de dinossauros terópodes, saurópodes e iguanodontes do Cretáceo Inferior (145 a 100,5 milhões de anos atrás). Além disso, a área também abriga pinturas rupestres – um tipo de arte rupestre feita batendo diretamente na superfície da rocha – criadas pelo homem no período pré-colonial.

Num novo estudo, os investigadores descrevem esta intersecção “inestimável” de elementos fósseis e arqueológicos, nunca antes vistos tão próximos.

Vestígios de dinossauros e arte rupestre associada já foram encontrados antes – na Austrália, Polônia e Utah, por exemplo – mas “em nenhum desses casos os petróglifos mostraram uma relação tão estreita com pegadas como no Cerote do Letrero”. Os pesquisadores escrevem em seu estudo.

“Não há dúvida de que os gravadores reconheceram as pegadas e executaram deliberadamente pinturas rupestres em torno delas, criando uma conexão simbólica entre a expressão gráfica humana e o registro fóssil.”

Vestígios de rochas e dinossauros no Brasil

Petróglifos e Pegadas de Dinossauros no Afloramento 1. Pegadas de terópodes estão em branco e os petróglifos estão em laranja.

Crédito da imagem: Troiano et al., Scientific Reports, 2024 (PCC 4.0)

As primeiras menções de pegadas de dinossauros na área datam do início de 1900, e os aspectos paleontológicos do local foram estudados várias vezes nos anos seguintes. No entanto, os petróglifos têm recebido muito menos atenção, pois não foram analisados ​​de forma abrangente ou considerados em conjunto com as pegadas.

Para corrigir isso, a equipe pesquisou o local, identificando três grandes afloramentos onde foram observadas pegadas de dinossauros e pinturas rupestres. No primeiro afloramento foram descobertos mais 22 clados, juntamente com a maior concentração de terópodes – o clado ao qual pertencem. Tiranossauro Rex Pertencer – Faixas.

Pegadas de terópodes

Pegadas de terópodes (AF) estão intimamente relacionadas com os petróglifos (D e F).

Crédito da imagem: Troiano et al., Scientific Reports, 2024 (PCC 4.0)

O segundo contém apenas dois petróglifos, embora pareça haver muitos mais que desde então ficaram ilegíveis. No terceiro e último afloramento, foram identificados 30 petróglifos, bem como extensas marcas de perfurações e rastros deixados em grande parte por dinossauros saurópodes.

Os pesquisadores descobriram que os petróglifos são em sua maioria circulares e apresentam linhas radiais e outras decorações. Embora seu significado não seja claro, elas podem ser interpretadas como formas geométricas e apresentam uma notável semelhança com gravuras rupestres encontradas em outras partes da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Alguns designs se destacam, incluindo padrões de malha retangular e outros que lembram estrelas e cobras.

Petróglifos

Petroglifos do Afloramento 3.

Crédito da imagem: Troiano et al., Scientific Reports, 2024 (PCC 4.0)

A diferença de estilo sugere que vários indivíduos estavam por trás da arte rupestre. Podemos não saber quem eram, mas sabemos que tiveram muito cuidado ao esculpir junto às pegadas dos dinossauros.

“Em nenhum dos casos foi constatado que a criação dos petróglifos resultou em danos às pegadas existentes, o que indica a consideração dos criadores desses petróglifos”, explica a equipe.

A “justaposição distinta” de Serote do Letrero entre paleontologia e arqueologia, segundo os pesquisadores, sugere que os humanos no Brasil pré-colonial se envolveram com o registro fóssil, incorporaram-no ativamente em suas expressões gráficas e usaram-no para ajudar a definir sua identidade cultural.

Como tal, os autores do estudo apelam à sua preservação, apelando a “medidas de mitigação imediatas para evitar maiores danos”, para que possamos continuar a apreciar este local único nos próximos anos.

O estudo é publicado em Relatórios científicos.

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