Projeto trabalha com fazendeiros para restaurar o pinhal brasileiro

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  • Um projeto no sul do Brasil visa restaurar 335 hectares (827 acres) de florestas úmidas de Araucária e plantar 250.000 mudas de espécies nativas em unidades de conservação e áreas de conservação permanente em pequenas propriedades.
  • A árvore de Araucária é um símbolo do estado brasileiro do Paraná, mas apenas 0,8% de suas florestas naturais ainda estão em boas condições – apenas 60.000 hectares (150.000 acres) dos 8 milhões (20 milhões de acres) que já existiram. Aqui.
  • Além de reverter a tendência da exploração madeireira no Paraná – estado com maior índice de desmatamento na Mata Atlântica – o projeto espera transformar áreas naturais em ativos econômicos por meio de programas de compensação que pagam aos agricultores por seus serviços ambientais para preservar a floresta em pé.

Por Louis Patriani

Esta história foi produzida em colaboração com a Mongabay para aumentar a conscientização sobre tópicos relevantes para o próximo Fórum Mundial da Paisagem Amazon Digital Conference: o ponto de virada (21 a 23 de setembro de 2021). Junte-se aqui.

As árvores de araucária têm crescido desde o período Jurássico, sobrevivendo por muitas eras geológicas e eventos como a divisão do supercontinente Gondwana. Mas as Araucárias de hoje não resistem a mãos e serras humanas.

A árvore também conhecida como pinheiro-brasileiro tem seu habitat na Floresta Ombrófila Mista, um dos ecossistemas da Mata Atlântica que já cobriu grandes áreas do sul do Brasil. Mas mais de um século de extração não regulamentada reduziu a floresta a pedaços esparsos.

No estado brasileiro do Paraná, onde as árvores são o símbolo do estado e até mesmo seu nome para a capital Curitiba (que em tupi guarani significa “floresta de pinheiros”), resta apenas 0,8% da floresta original – meros 60.000 hectares (150.000 acres) de 8 milhões (20 milhões de acres)) o original que uma vez cresceu aqui.

Mas hoje, muitas organizações estão trabalhando contra a situação de desmatamento que empurrou a araucária para a lista de espécies ameaçadas de extinção.

Uma das coisas mais inspiradoras é Araucária A Conexão, que atua desde 2018 no sul do Paraná pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), que desenvolve um projeto baseado em um modelo de conservação em que uma floresta indígena bem preservada pode impulsionar a economia local, trazendo benefícios financeiros igual à agricultura.

A meta inicial do projeto é restaurar 335 hectares (827 acres) de floresta mista erodida e plantar 250.000 mudas nativas até maio de 2023. As mudas são distribuídas para unidades de conservação e áreas de conservação permanente (APPs) em pequenas propriedades, que são a base para a maioria áreas. O restante da floresta está no Planalto do Paraná.

“Além de oferecer aos agricultores uma estratégia de recuperação por meio do Programa de Melhoria de Terras Degradadas (PRAD), nossa proposta visa restabelecer os serviços ecossistêmicos”, diz Vitória Yamada, bióloga que coordena o projeto. “Esses são os benefícios da natureza e da vitalidade para o bem-estar humano e as atividades econômicas. Um exemplo disso são os recursos hídricos que são gerados na restauração de nascentes em uma área bem protegida.

“Sabemos que o projeto por si só não mudará o cenário que ameaça as florestas de Araucária”, continua. “Mas é um passo no processo de sensibilizar agricultores, empresários e políticos para o tema e conscientizar sobre a importância de uma floresta bem preservada para a economia e a sociedade em termos de qualidade de vida”.

Além de implantar projetos de restauração, a SPVS também financia iniciativas de conservação, como a proteção de áreas naturais adjacentes em serras costeiras nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Yamada diz que a conservação e restauração são componentes vitais da gestão da natureza na área. A SPVS também oferece atividades de educação ambiental e informações sobre o valor intrínseco da natureza.

O agricultor Pedro Michalski, do município brasileiro de São João do Triunfo, acompanha o crescimento de uma muda com um especialista do projeto Conexão Araucária.  Foto de Marina Siwato
O agricultor Pedro Michalski, do município brasileiro de São João do Triunfo, acompanha o crescimento de uma muda com um especialista do projeto Conexão Araucária. Foto de Marina Siwato

Estratégia 250.000 mudas

A estratégia por trás Araucária A comunicação é o plantio de mudas e construção de cercas para evitar que as mudas sejam pisoteadas por animais nas matas ciliares e próximas a nascentes. Isso cria as condições para reconectar as manchas remanescentes do ecossistema por meio de pequenos corredores ecológicos dentro das APPs.

O objetivo de longo prazo é o retorno da biodiversidade local, e esse fluxo gênico aumentará por meio da continuidade das populações de plantas e animais.

“Apresentamos o plano de recuperação e implementamos [to farmers] Yamada diz. “Em contraste, os agricultores normalmente aumentam a quantidade de espaço de conservação em suas propriedades além do limite exigido por lei, que é de 5 a 30 metros ao longo das margens dos rios, e mantêm cercas para proteger as árvores ao longo dos anos.”

O projeto Araucária é financiado pela Japan Tobacco International, que também fornece suporte operacional. A empresa, que compra o fumo dos produtores parceiros da região, está facilitando o contato entre os produtores e os biólogos do projeto e os convida a aderir à iniciativa. As mudas são cedidas pelo Instituto da Água e da Terra (Agência Ambiental do Estado do Paraná) em conjunto com a Associação Chauá, que trabalha com espécies raras e ameaçadas de extinção na Floresta Ombrófila Mista.

Nesta área, os agricultores relatam que em pouco mais de três anos de trabalho, o projeto se mostrou eficaz: cerca de 240 hectares de terras foram restaurados. Graças ao projeto, Geraldo Motem, dono de um imóvel no município de Rio Azul, lembra o renascimento de duas nascentes que haviam sido assoreadas pelo pisoteio constante de rebanhos de gado. “Os especialistas vieram e plantaram as áreas ao redor das nascentes com plantas locais e então cercaram a área”, diz ele. “Já vi um aumento no volume de água e espero que o fluxo dentro de nossa propriedade seja muito mais forte nos próximos quatro anos.”

Claver João Antochen, que cultiva fumo, milho, soja e feijão em sua fazenda no município de Paulo Frontin, mais do que dobrou suas matas ribeirinhas depois de aderir ao programa e plantar símio florido, nogueira, mirpa mate, cedro brasileiro e araucária. “Como a restauração não nos custou nada, decidimos aumentar a área de vegetação ao redor da nascente de 7 para 15 metros, o que é exigido por lei.”

No futuro, a Conexão Araucária visa expandir o projeto para além das distintas regiões sudeste e centro-sul do estado do Paraná para atingir o planalto sul do Brasil.

Uma muda é monitorada próxima a um córrego no município de Paolo Frontan.  Foto via sala de imprensa do Conexão Araucária
Uma muda é monitorada próximo a um riacho no município de Paulo Frontin. Foto via sala de imprensa do Conexão Araucária

Economize com compensação

Clovis Ricardo Scrapi Borges, cofundador e CEO da SPVS, critica a atual política ambiental do Brasil, mas acredita que mais pessoas ingressariam no programa se houvesse dinheiro envolvido.

“Nossa comunidade ainda não vê a conservação da natureza como uma parceria. Esses remanescentes florestais são importantes para o interesse público em relação aos proprietários de terras privadas porque eles devem cumprir a legislação florestal”, explica Sharabi. “Projetos como o Conexão Araucária são os primeiros passos que vão levar a resultados em maior escala. Temos a oportunidade de reverter essa tendência de degradação da natureza, transformando áreas protegidas em ativos econômicos que podem ser gerados com a boa conservação.”

Segundo Schrappe, o mecanismo financeiro pode ser criado evitando o desmatamento, por meio do qual os proprietários de florestas preservadas recebem pagamentos na forma de serviços ambientais em troca da manutenção de florestas permanentes. Uma dessas ferramentas é o ICMS Ecológico, que entra em vigor quando os municípios que mantêm áreas naturais bem protegidas recebem uma parcela maior da receita do ICMS de um estado.

“O Paraná é o estado que derrubou a maior parte da Mata Atlântica do Brasil nos últimos 20 anos”, diz Sharabi. “Continuamos destruindo as poucas florestas virgens remanescentes. É uma cultura ultrapassada em que a natureza é vista como um obstáculo ao desenvolvimento. Nosso desafio é conscientizar e aumentar o apoio da comunidade para a proteção da floresta – criar uma perspectiva que enxergue a natureza como parte integrante do negócio. ”

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