Presidente do Banco Central do Brasil indica que não há espaço para corte de juros em meio a temores de inflação

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, descartou um corte iminente na taxa de juros ao afirmar que a taxa de referência do país para custos de empréstimos é apropriada para lidar com as atuais preocupações com a inflação.

Falando em uma audiência altamente antecipada do Comitê de Assuntos Econômicos do Senado, ele também disse que os formuladores de políticas precisam garantir que as expectativas de inflação caiam dentro das metas oficiais, observando que as perspectivas estão piorando há mais de 14 semanas.

“As taxas de juros atuais são consistentes com o nosso tipo de problema”, disse ele.

Seus comentários vêm em meio a repetidas críticas do presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva e de aliados políticos sobre a taxa básica de juros do banco, que os formuladores de políticas têm mantido estável em 13,75% desde setembro.

A próxima reunião do banco central sobre a definição das taxas de juros será realizada nos dias 2 e 3 de maio.

Campos Neto afirmou que o BC tem uma “posição muito técnica” na fixação dos juros.

Disse que a flexibilização monetária deve ser feita “em tempo útil” e com “credibilidade” para continuar a baixar a taxa de juro na curva de rendimentos, acrescentando que não sabe quando é que as taxas de juro vão ser cortadas, porque se trata de um “desvio técnico processo que leva seu tempo.”

Também contrariando a posição de Lula, que argumentou que o país não vive uma inflação impulsionada pelo aumento do consumo, Campos Neto disse que há componentes puxadores da demanda na inflação e que o núcleo da inflação está “muito alto” em 7,8%.

A inflação acumulada em 12 meses até março caiu para 4,65%, mas economistas privados esperam que ela atinja 6,04% este ano e 4,18% em 2024, acima das metas oficiais de 3,25% e 3,0%, respectivamente, segundo pesquisa semanal do banco central.

Campos Neto reiterou que a tão esperada revelação das regras fiscais pelo governo eliminou a possibilidade de uma deterioração significativa na trajetória da dívida pública. No entanto, sublinhou que não existe uma ligação automática entre o novo quadro orçamental e as decisões de política monetária.

(Reportagem de Marcella Ayres; Edição de Andrew Heavens e Jonathan Otis)

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