Por que FCB Brasil e Raça dizem ‘O futuro é negro’

25 anos após a primeira publicação e original dedicada à cultura afro-brasileira, a revista Raça contou com a ajuda da agência criativa FCB Brasil e do fotógrafo Roger Monteiro para produzir uma série de cartazes e artes para 12 edições mensais para celebrar este importante evento.

Apresentando uma variedade de imagens ousadas, adesivos e outras obras de arte, The Future Is Black é o Uma campanha que usa imagens poderosas do afrocentrismocomo as cores da bandeira pan-africana e as tradicionais imagens “Adinkra” da região Ashante de Gana – para onde muitos descendentes de escravos brasileiros retornaram após serem libertados do colonialismo britânico na década de 1950.

Além de utilizar a arte como propaganda da revista, para cada edição mensal da Raça durante um ano, a FCB Brasil criou artes relacionadas ao tema de cada edição, tornando esta campanha dinâmica que evolui com as conversas e o foco editorial da revista. Enquanto a campanha interage com os temas do momento, a campanha permanece em grande parte enraizada no Afrofuturismo – um movimento cultural, estético e político com uma perspectiva negra que se manifesta em todas as formas de arte. Ao celebrar a identidade e a história negra brasileira – e ao retratar um futuro para a superação da opressão racial – a campanha visa evocar o papel dos negros no discurso e no espaço midiático da nação.

Para discutir como surgiu a obra de arte da memória afrofuturista e por que é importante que o futuro do Brasil seja negro, Ben Conway, do LBB, conversou com a equipe do FCB Brasil por trás da campanha, incluindo: Luiz Augusto Barbosa Filipin, Diretor de Criação; Michel Carlos do Carmo, Supervisor de Conteúdo; Ricardo Alonso Zacharias, Diretor de Criação Associado; e Marta Cristina Silva de Carvalho, Especialista em Comunicação.

LBB> Como surgiu este projeto? A FCB Brasil já trabalhou com Raca antes?

FCB Brasil Raça é uma das primeiras e mais antigas publicações sobre cultura afro-brasileira. O projeto surgiu da necessidade e desejo de comemorar os 25 anos da revista e tudo o que ela representou na luta para que a comunidade negra ocupe um espaço maior na opinião pública no Brasil. Este projeto faz parte do plano de comunicação da FCB Brasil desenvolvido em conjunto com a Raça, e inclui também a plataforma Black Characters – uma iniciativa de afirmação que ajuda a comunidade negra a ocupar espaços na comunidade.

LBB> Qual foi sua reação inicial ao tema do “futuro africano”? O que esse termo significa para você e quais ideias criativas você teve imediatamente?

O FCB Brasil Afrofuturismo é um movimento que começou a ganhar popularidade na década de 1990 e visa aliar uma perspectiva africana com cosmologia e ficção científica, criando um futuro diferente para a população negra. O termo foi cunhado por Mark Deere em 1993 e foi popularizado por Alondra Nelson. Retrata um presente sofisticado e imagina um grande futuro, reivindicando, acreditando e viabilizando o verdadeiro lugar do negro no mundo; Na vanguarda, com agendas, histórias, ideias e criações muito à frente do seu tempo.

E a Raca faz isso há 25 anos. Ele vem tratando de temas que hoje só aparecem nos editoriais das maiores revistas do país. Por exemplo, em 1996, a revista estava discutindo maquiagem para pele negra, algo que recentemente chegou às páginas de outras revistas. Raça sempre teve uma visão de futuro. Desta simbiose perfeita entre Afrofuturismo e Revista Raça surgiu esta linda campanha de 25 anos.

LBB> Qual foi sua experiência trabalhando com o fotógrafo Roger Montero?

A FCB Brasil Roger Monteiro, além de parceiro de longa data da revista Raça, sempre trouxe uma visão diferenciada e diferenciada desse universo editorial. Roger e sua equipe colaboraram ativamente no desenvolvimento de cada personagem que criamos, ajudando-os a dar a eles essa aura que conecta o personagem da capa ao futurismo afegão. Tudo isto está presente na maquilhagem, nos acessórios e no estilo fotográfico, que nos permite incluir, na fase final, as ilustrações e símbolos necessários para acompanhar a imagem.

LBB> Cartazes em cada edição mensal da Raça “manejam as matérias de capa” de cada edição. Como você colaborou com a revista para criar esse componente que acompanha os tópicos de cada edição?

FCB Brasil > É sobre o campeonato. Quando colocamos alguém na capa de uma revista, isso tem um efeito muito poderoso. E por ser tão impactante, toda a campanha foi desenvolvida com essa linguagem. Juntamente com os editores da revista, que nos forneceram informações sobre as edições futuras, delineamos coletivamente os tópicos a serem abordados em cada nova edição.

LBB> Você poderia explicar o que são “Ananse Ntontan” e “Sankofa”? Como e por que esses códigos são usados ​​na campanha?

FCB Brasil O Brasil é o país mais negro fora da África. Para nós, fazia todo o sentido usar símbolos que remetessem ao passado antes da dor, antes do sequestro de negros da África; Ícones que saudariam as pessoas que estavam lá antes.

Ananse Ntontan e Sankofa são os símbolos Adinkra que representam a filosofia dos Ashantes – importante grupo étnico de Gana, o primeiro país africano a conquistar sua independência, e para onde voltaram os descendentes de escravos brasileiros. Ananse Ntontan representa o conhecimento, a criatividade e a complexidade da vida. Sankofa é um pássaro que tem os pés bem assentes no chão e a cabeça virada para trás. O ovo simboliza o passado, mostrando que o pássaro voa para o futuro sem esquecer o passado.

LBB> Como você incorporou as cores da bandeira africana – que outras opções de design você poderia destacar?

FCB Brasil> O design da campanha é cheio de simbolismos e foi meticulosamente pensado e estudado por uma equipe diversificada de designers da FCB que tiveram em mente que, assim como os símbolos gráficos, a cor também deve ter um papel conceitual. As cores são inspiradas na bandeira pan-africana, onde verde, preto e vermelho simbolizam o movimento político e filosófico do século XIX; O objetivo era reunir os povos do continente africano e da diáspora para combater a narrativa de muito sofrimento e necessidade – imposta pelo colonialismo. O desejo de construir novos discursos e modelos em torno da existência do negro também é obra da revista Raça.

LBB> Como a campanha foi adaptada ao estilo e ao público da revista? Como você comemora os 25 anos de criação da revista?

FCB Brasil> No Brasil, 54% da população é negra. Ou seja, celebrar a cultura negra, que a revista Raça faz há 25 anos, também significa celebrar a cultura do nosso país. Raça começou quando foi a primeira revista do país a ter uma pessoa negra em sua capa. Esta revista está à frente do resto há pelo menos 25 anos. E não apenas nas capas das revistas, mas principalmente em seus conteúdos, abrindo espaço para que a personalidade negra seja mostrada em todos os lugares, das artes ao empreendedorismo, à tecnologia, ciência etc. Campanha: Afrofuturismo.

LBB> Qual a duração do processo de produção? Você esteve em alguma das filmagens? Você tem alguma história de lições aprendidas com esse processo?

FCB Brasil > Todo o processo, da concepção à produção, durou cerca de um ano, pois cada obra tinha que estar relacionada ao tema principal daquela edição específica. Esta foi uma campanha sob demanda que evoluiu gradativamente de setembro de 2021 a setembro de 2022. À medida que a campanha avançava, também sabíamos que, por tratarmos de um tema que representava a luta secular de um povo, precisávamos de muitas sessões de intercâmbio entre membros de nossa equipe, além de momentos de aprendizado e compreensão – Parte de um processo imersivo na história. A adesão à pauta certamente contribuiu para um resultado esteticamente agradável, cheio de significado.

LBB> Para quem está fora do Brasil, talvez não conheçamos as complexidades étnicas e a história do povo brasileiro. Então, você poderia explicar por que é necessário dar uma visão para a comunidade negra no Brasil e como esta campanha apresenta um “futuro negro”?

FCB Brasil>O Brasil foi o país que recebeu o maior número de escravos negros, e foi o último país do Ocidente a abolir a escravidão em 1888. Naquela época, os negros superavam em número todas as outras raças no Brasil, e a elite branca desenvolveu uma estratégia de conciliando-se com as políticas de branqueamento dos dois séculos XIX e XX, proporcionando incentivos à emigração para brancos europeus e asiáticos, e facilitando empregos e posse de terras para esses grupos (que foram negados aos negros após a emancipação).

Essas políticas reformularam o racismo no tecido de nossa sociedade, por meio do que chamamos de “mito da democracia racial”. Isso deu origem a uma cultura enfatizada pela ideia de que somos todos misturados e que todos temos as mesmas oportunidades e direitos na sociedade, o que claramente não é verdade. Esse mito visava desmobilizar os negros no país, e foi tão eficaz que até hoje eles ainda lutam para se identificar como negros em uma estrutura social racista.

Fundada nesse contexto afro-mediterrâneo de identidade e pertencimento, The Future is Black veio para se juntar ao processo de empoderamento coletivo dos negros, que hoje estão construindo uma perspectiva diferente de vida – desde a base da comunidade social. Pirâmide para ocupar espaços de poder.

LBB> Qual foi o desafio mais difícil que você enfrentou nesta campanha – e como você o superou?

FCB Brasil > Do ponto de vista da produção e do trabalho criativo, a campanha pedia mais agilidade, tanto da agência quanto do cliente. Especialmente porque criamos recursos individuais que correspondem ao conteúdo editorial de cada edição. Assim que recebemos os temas para a próxima edição, montamos a equipe (a forma como trabalhamos aqui na FCB Brasil, que reúne diferentes áreas para trabalhar em uma ideia comum, de forma ágil e horizontal) e identificamos os temas essenciais a serem explorado nas novas apresentações. Tínhamos que ter agilidade jornalística, mas nunca perdemos de vista o artesanato e a atenção aos detalhes na direção artística que a publicidade exigia. O resultado são peças únicas que nunca se repetem e introduzem novos conceitos a cada mês.

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