Disputa política no Brasil por causa do filme distópico ‘Ordem Executiva’

No Brasil, em um futuro próximo, o governo encontrou o que chama de resposta para corrigir os erros da escravidão: trazer os negros de volta para a África.

Essa premissa distópica é o ponto de partida para o novo filme “Ordem Executiva”, que hoje suscita polêmica no Brasil devido às denúncias de que está sendo censurado pelo governo do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.

O filme, a estreia na direção do famoso ator Lazaro Ramos (“Madame Sata”), foi elogiado em uma série de festivais internacionais, de Moscou a Memphis.

Mas a data de lançamento ainda não foi definida no Brasil, onde crescem as acusações contra a Agência Nacional de Cinema (Ancine) de não ter feito filmes verdes considerados incômodos para o governo Bolsonaro.

“Não sei dizer se é burocracia ou censura, mas ambos são uma barreira para a cultura”, disse Ramos quando a foto foi exibida no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, que termina no domingo. Ele está definido para jogar no Brasil.

“Ordem Executiva”, estrelando a esposa de Ramos, Tais Araujo, o famoso ator e cantor Sue Jorge (“Cidade de Deus”, “A Vida Aquática com Steve Zissou”) e a estrela anglo-brasileira Alred Enoch (“Franquia Harry Potter,” “ Como se livrar do assassinato. ””).

Araujo e Enoch interpretam Capito e Antonio, um médico e advogado com as armadilhas do sucesso profissional.

Araujo disse que Capito é “uma mulher negra que não quer falar de racismo no começo – ela só quer viver”.

“Mas então a vida vem como um chamado, e ela tem que mergulhar fundo” na questão.

– ‘Melanina prolongada’ –

A “Ordem Executiva” para o título do filme exige que todos os negros – ou pessoas com “melanina proeminente” no texto orwelliano – se entreguem às autoridades para serem deportados para a África.

Por meio de Capitu, Antonio e seu primo André (Seu Jorge), os telespectadores veem como os afro-brasileiros organizam a resistência a essa deportação em massa enquanto as forças de segurança começam a prender as pessoas nas ruas.

O filme é repleto de referências ao racismo estrutural no Brasil atual, último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888.

Algumas autoridades em seu governo fictício também têm uma forte semelhança com membros reais da administração de Bolsonaro.

Em abril, o aliado de Bolsonaro, Sergio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares, convocou o boicote ao filme.

“É uma mentalidade de vítima pura e um ataque difamatório ao nosso presidente”, disse Camargo, um brasileiro negro que gerou polêmica no passado.

Não está claro quando Ancine terminará o filme que será lançado no Brasil.

A equipe de produção disse que concluiu seu pedido de fundos para distribuir o filme em novembro de 2020 e ainda não recebeu uma resposta oficial.

Unsin diz que o aplicativo está “sob análise” e que segue o “procedimento padrão”.

– ‘Marigella precedente’ –

Não é o primeiro caso desse tipo a provocar polêmica.

Outro filme brasileiro aclamado em festivais internacionais de cinema, “Marigella”, enfrentou atrasos semelhantes.

O filme é dirigido pelo astro de Narcos Wagner Moura, que é uma biografia sobre um líder guerrilheiro de esquerda que lutou contra a ditadura militar brasileira (1964-1985).

Bolsonaro, um ex-capitão do exército, é um admirador fervoroso do antigo regime militar, apesar de seus abusos generalizados dos direitos humanos.

O pedido de Marighella foi recusado duas vezes em 2019, antes de finalmente ser aprovado para uma estreia no Brasil no mês passado.

Pouco depois de assumir o cargo em 2019, Bolsonaro disse que queria “liquidar” a produção cinematográfica brasileira.

“Se não houver filtro, nos livraremos do Ansen”, disse ele.

Ramos não se intimidou.

“Não vamos parar de discutir esse assunto ou pensar em como construir este país”, disse ele.

“A arte é poderosa, não podemos desistir disso.”

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