Campanha de Lula examina novas receitas de mineração no Brasil, despertando preocupações do setor Por Reuters

© Reuters. REUTERS/Carla Carnell/File Photo

Por Rafaela Barros

RIO DE JANEIRO (Reuters) – O favorito à presidência do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, está considerando aumentar royalties em certos projetos de mineração se eleito, o que pode afetar a gigante de minério de ferro Vale SA (NYSE) e outras multinacionais, disse um assessor de campanha à Reuters.

Pela proposta, elaborada por especialistas em mineração do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula, o governo imporia um aumento da taxa de royalties – conhecida como “cota especial” – sobre minerais particularmente de alto valor, seja por características geológicas ou pela demanda do mercado , de acordo com um geólogo do partido e documentos que vi.

A ideia, que não foi adotada oficialmente pela campanha de Lula, foi descrita à Reuters por Claudio Schliar, geólogo e membro da Comissão de Trabalho responsável pelos assuntos minerais e energéticos.

Não ficou claro como Lula decidiria sobre a proposta e se a aceitaria.

Esse plano de propriedade foi discutido pelo Congresso brasileiro durante o governo da presidente de esquerda Dilma Rousseff de 2011 a 2016, mas recebeu forte oposição do setor e foi suspenso.

A proposta destaca uma das principais falhas ideológicas da campanha presidencial brasileira.

Lula, o ex-líder sindical que governou o Brasil de 2003 a 2011, há muito tempo diz que o Estado deveria desempenhar um papel mais poderoso na economia. Muitas de suas propostas, como novos impostos sobre dividendos e pagamentos de juros, foram discretamente recebidas pelo mercado.

O titular de direita Jair Bolsonaro confiou fortemente no ministro da Economia, Paulo Guedes, que é visto como um pró-mercado, mesmo que as recentes vanglórias do bem-estar tenham prejudicado suas credenciais.

Lula lidera com mais de 10% na maioria das pesquisas, mas essa diferença diminui à medida que os dois candidatos se preparam para o primeiro turno em 2 de outubro.

Vários especialistas e participantes do mercado disseram que a franquia privada pode prejudicar os investimentos em mineração no Brasil, ao mesmo tempo em que impulsiona concorrentes como Canadá e Austrália.

“Estabelecer a propriedade privada da mineração vai afugentar investidores e deixar nossos concorrentes felizes, principalmente os australianos”, disse Reinaldo Mancin, chefe de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Mineração (ABRAM).

O Brasil é uma fonte física de muitos minerais, incluindo ouro e níquel, mas o minério de ferro é, de longe, sua maior exportação.

Entre os projetos que podem ser afetados se Lula vencer e impor uma taxa especial de royalties está uma série de complexos de minério de ferro operados pela Vale na região de Carajás, no norte do Brasil.

A matéria-prima ali produzida é excepcionalmente pura e geralmente merece um prêmio no mercado internacional.

A empresa sediada no Rio de Janeiro não quis comentar.

Skliar, geólogo filiado ao PT, observou que o Brasil mantém um regime diferenciado de concessão de petróleo desde 1997, com taxas mais altas sendo impostas em algumas das regiões mais produtivas. O país sul-americano é hoje o nono maior produtor de petróleo do mundo, e sua área offshore é uma das mais procuradas do setor.

“Existem algumas jazidas minerais com propriedades excepcionais e o mercado internacional quer muito”, disse Skliar. “Como os minerais pertencem ao estado, o estado deve se beneficiar.”

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