São Paulo: O Congresso brasileiro aprovou na segunda-feira (terça-feira em Manila) um projeto de lei abrindo caminho para a privatização da maior concessionária de energia elétrica da América Latina, a estatal Eletrobras, uma vitória da agenda de privatizações do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.
O projeto, que propõe uma emissão de ações que diluiria a participação do governo na empresa, foi aprovado na Câmara dos Deputados por 258 votos a 136.
Os legisladores ainda precisam votar uma série de emendas antes de enviá-las ao Bolsonaro. Já foi aprovado no Senado na quinta-feira.
A legislação vai reduzir a participação do governo na Eletrobras de 51,82 para 45 por cento por meio de uma emissão de ações definida para o início do próximo ano que o estado estima arrecadar 60 bilhões de reais (cerca de US $ 12 bilhões).
Os especialistas estimam que 25 bilhões de riais desse valor irão para os cofres da empresa e o restante para programas governamentais. O governo manterá a “aposta de ouro” na empresa, dando-lhe a palavra final em questões estratégicas.
Fundada em 1962, a Eletrobras é uma das “Quatro Grandes empresas” controladas pelo estado brasileiro, junto com a petroleira Petrobras, os bancos Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
Eles fornecem cerca de um terço da eletricidade consumida no Brasil, a maior economia da América Latina. Mas os críticos reclamam que ela é ineficiente, inchada e precisa de mais dinheiro para investir na modernização de seus ativos.
“Sem privatização, o sistema energético brasileiro vai acabar no caos”, alertou Bolsonaro. O ministro da Economia Liberal, Paulo Guedes, disse que a privatização economizaria aos brasileiros até 7,4% da eletricidade.
No entanto, durante um debate por vezes acalorado na Câmara dos Deputados, os oponentes alertaram que o plano de fato aumentaria as contas de luz dos consumidores e ameaçaria o controle do fornecimento de energia pelo Brasil.
Os opositores também criticaram as emendas que aumentariam a quantidade de eletricidade produzida por termelétricas altamente poluentes.
É um tema delicado para um governo que já enfrenta críticas internacionais sobre a destruição da floresta amazônica, um recurso vital na corrida para conter as mudanças climáticas.
As ações da Eletrobras subiram mais de 5 por cento na sexta-feira depois que o Senado aprovou o projeto, e subiram mais 2,21 por cento na segunda-feira. Subiu mais de 40% ao longo do ano em meio às expectativas de que a empresa fechará o capital.
Antes que isso aconteça, a Eletrobras deve primeiro transferir a propriedade da hidrelétrica de Itaipu e das usinas nucleares de Angra dos Reis para o estado, uma vez que são designadas pela constituição brasileira como ativos estratégicos.
A privatização ocorre em um momento em que o Brasil enfrenta uma crise de eletricidade causada por sua pior seca em quase um século nas principais regiões oeste e sudeste das hidrelétricas que fornecem a maior parte da eletricidade do país.