Carlos Vieira, um carpinteiro de São Paulo, esperava que a hiperinflação voltasse ao passado do Brasil.
Agora, com o custo de seus materiais dobrando em apenas três anos, ele teme que esses dias voltem. “Desde que montei o workshop em 1998, nunca vi nada assim antes… o homem de 57 anos disse, referindo-se à guerra na Ucrânia e à pandemia: “Sempre houve altos e baixos, mas agora nós temos esta crise e a que a precedeu”, disse o homem de 57 anos, referindo-se à guerra na Ucrânia e à pandemia.
Em 12%, a inflação anual no Brasil está agora em seu nível mais alto em duas décadas. Com os crescentes custos globais de alimentos e combustíveis, as autoridades estão cada vez mais preocupadas com o fato de as pressões sobre os preços estarem se arraigando em toda a economia.
Roberto Campos Neto, presidente do banco central, disse a repórteres em abril que o forte aumento no custo de itens como roupas e alimentação nos últimos meses “foi uma grande surpresa”.
A inflação não era nem de longe tão ruim quanto nas décadas de 1980 e 1990, quando os supermercados monitoravam os preços duas vezes ao dia para acompanhar o aumento dos preços. Depois de atingir um recorde de 4.500% no ano até junho de 1994, medidas que vão desde a introdução de uma nova moeda, o rial, até a concessão de independência ao banco central, ajudaram a controlar as pressões sobre os preços.
Mas o espectro da hiperinflação brasileira não foi totalmente banido. Muitos contratos – abrangendo tudo, desde aluguel de imóveis até o fornecimento de matérias-primas – ainda contêm ajustes automáticos, um legado de tempos em que preços e salários subiam rotineiramente de 30% a 40% ao mês.
Alguns contratos, como aluguéis e tarifas de telefone e eletricidade, usam a medida proxy da inflação no atacado, que está 15% bem acima do índice de preços ao consumidor.
A medida grossista, que é ponderada a favor dos preços ao produtor, esteve acima dos 40 por cento durante a maior parte do ano passado, pressionando empresas como a oficina de carpintaria em Fira. Ele disse que suas margens encolheram quase um terço nos últimos três anos.
A proliferação desses contratos indexados à inflação dificulta os esforços do Banco Central do Brasil para controlar a inflação e aumenta o risco de alta de preços. “A batalha é muito mais dura e o banco central tem que ser mais agressivo”, disse Alessandra Ribeiro, economista da Tendências, consultoria de São Paulo.
Livrar-se da inflação era uma batalha que o banco central parecia ter vencido até recentemente. Os formuladores de políticas no Brasil, que foram os primeiros a adotar metas de inflação, ganharam credibilidade suficiente para reduzir a taxa básica de juros para apenas 2% em 2020. Essa tendência agora está se invertendo.
As ações da Selic aumentaram 10 vezes desde março do ano passado, para 12,75%. A décima primeira taxa deve subir para 13,25% no próximo mês.
Para piorar as coisas, os aumentos do banco central ameaçam sufocar a demanda e causar uma recessão. O crescimento já é fraco e há uma grande probabilidade de um grave surto de estagflação, com a inflação subindo e a produção estagnada. A produção deve crescer este ano em apenas 0,7 por cento, de acordo com uma pesquisa do banco central com economistas de mercado. As perspectivas para o próximo ano não são melhores, com apenas 1%.
Enquanto isso, parece que os movimentos de seus colegas dos EUA colocarão os formuladores de política monetária no Brasil em uma situação difícil, pois pouco podem fazer para recuperar o crescimento. E embora o rial tenha se fortalecido em relação ao dólar este ano, um aumento da taxa do Federal Reserve nos próximos trimestres ameaça minar esses ganhos.
Nesse clima, a redução das taxas de juros corre o risco de depreciar a moeda, aumentar o custo das importações e levar os investidores a abandonar os ativos.
“Em algum momento, os bancos centrais [in the region] “Vamos ter que cortar as taxas”, disse Alberto Ramos, chefe de pesquisa econômica da América Latina do Goldman Sachs em Nova York. Mas em algum momento de 2023 [Fed] Estará em modo de caminhada total. Será muito difícil para esses bancos centrais cortar dinheiro enquanto o Fed estiver avançando.”
Embora os problemas do Brasil sejam exacerbados por seu histórico de alta inflação, não é único. Os preços estão subindo rapidamente nos mercados emergentes a uma média anual de quase 14%, o dobro da taxa das economias avançadas. A principal taxa de inflação da Argentina é de quase 60% ao ano.
A dor é particularmente aguda para os pobres, que gastam uma parcela relativamente grande de sua renda em alimentos e estão expostos a picos em produtos como combustíveis domésticos usados para cozinhar e aquecer, que aumentaram mais de 30% no Brasil.
O aumento dos preços da energia também causou agitação. Em março, o governo brasileiro reduziu rapidamente os impostos sobre combustíveis depois que caminhoneiros realizaram uma série de protestos contra o aumento dos preços do diesel, bloqueando estradas com pneus em chamas.
“Não há dúvida de que a inflação é um imposto, um imposto socialmente regressivo, que atinge desproporcionalmente as famílias de baixa renda”, disse Ramos. “É um problema sério em toda a América Latina.”