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Sobre o autor: Desmond Lackman Membro sênior do American Enterprise Institute. Anteriormente, ele foi Diretor Adjunto do Departamento de Revisão e Desenvolvimento de Políticas do Fundo Monetário Internacional e Economista-Chefe para Mercados Emergentes na Salomon Smith Barney.
Geralmente não é uma boa idéia roer a mão que logo será necessária para alimentá-lo. É claro que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro não compartilha dessa visão. No momento em que o Federal Reserve estava prestes a iniciar seu ciclo de aperto da política monetária, Bolsonaro optou por travar uma batalha com o Fundo Monetário Internacional, o credor de última instância efetivo de seu país.
Na corrida para as eleições presidenciais do próximo ano, Bolsonaro optou por fechar o escritório de representação do Fundo Monetário Internacional em Brasília em resposta às críticas do FMI sobre a política ambiental do Brasil. O governo Bolsonaro também fez uma declaração em voz alta reclamou Sobre as críticas feitas por Ilan Goldfein, ex-presidente brasileiro do Banco Central do Brasil e atual diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional, sobre a falta de âncora para a política fiscal no país.
O Brasil tem uma longa história de necessidade de programas de resgate em grande escala do Fundo Monetário Internacional. Isso torna a escolha de lutar com o FMI uma proposta arriscada na melhor das hipóteses. No entanto, este não parece ser o melhor momento para o Brasil. As condições de liquidez global estão prestes a apertar e a economia chinesa parece estar desacelerando. Isso pode levar a um ambiente econômico internacional mais desafiador para o Brasil.
Mesmo antes de o Federal Reserve anunciar recentemente que iria acelerar o ritmo de queda nas compras de títulos, os influxos de capital para os mercados emergentes estavam diminuindo. Se a experiência anterior servir de guia, assim que o Fed começar a aumentar as taxas de juros, o capital será trazido de volta das economias de mercado emergentes em um ritmo rápido. Isso deve colocar uma pressão adicional sobre o real brasileiro, que já se desvalorizou cerca de 25% desde o início da pandemia no ano passado, tornando-se uma das moedas de pior desempenho nas economias de mercado emergentes.
O balanço de pagamentos do Brasil pode ficar sob pressão adicional devido à atual desaceleração econômica da China, na esteira dos problemas no setor imobiliário daquele país. Qualquer desaceleração desse tipo no maior consumidor internacional de commodities e no maior parceiro comercial do Brasil poderia lançar uma sombra sobre as perspectivas de exportação de longo prazo do Brasil.
No ambiente de liquidez global mais desafiador, a verdadeira fraqueza da economia brasileira é o estado extremamente precário de suas finanças públicas. Não apenas a proporção da dívida pública em relação ao PIB do país aumentou para um ponto mais alto de quase 100% do PIB, uma taxa incomumente alta para uma economia de mercado emergente. Mas este ano, na esteira da pandemia, seu déficit orçamentário também explodiu para quase 10% do PIB. Em um ambiente de liquidez global menos benigno do que é hoje, é de se esperar que novas questões sejam levantadas sobre a sustentabilidade da dívida pública brasileira.
É difícil imaginar como o Brasil sairá do problema da dívida no momento em que o Banco Central do Brasil é forçado a frear a política monetária para conter a inflação acima de 10%. Na verdade, devemos esperar que as taxas de juros mais altas do banco central aumentem os pagamentos de juros do governo, enquanto a estagnação econômica afetará negativamente a arrecadação de impostos.
A próxima eleição presidencial em outubro parece lançar dúvidas sobre as perspectivas de qualquer retorno antecipado à retidão fiscal brasileira. Essa eleição provavelmente será uma disputa entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os quais não são conhecidos por seu compromisso com a ortodoxia econômica. Também é difícil encorajar a intenção de Bolsonaro de romper o teto de gastos públicos do país antes das eleições, enquanto ele busca fortalecer sua base política aumentando a assistência social.
Rudi Dornbusch, o falecido economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, não se cansa de dizer que as crises dos mercados emergentes demoram muito mais do que você imagina, mas acontecem em um ritmo muito mais rápido do que você imagina. Com o ambiente econômico internacional do Brasil começando a se deteriorar em um momento de verdadeira fragilidade orçamentária, Bolsonaro faria bem em considerar o sábio aviso de Dornbusch. Talvez então ele não seja tão arrogante quanto a alienar o FMI, uma organização da qual ele pode precisar desesperadamente de um resgate financeiro no próximo ano.
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