A Comissão de Inquérito das Nações Unidas descobriu que a corrupção brasileira violou os direitos de Lula

GENEBRA (Reuters) – O Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) disse nesta quinta-feira que investigadores de corrupção no Brasil violaram processos legais ao abrir um processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que resultou em sua prisão e proibição de concorrer ao cargo em 2018.

A descoberta segue uma decisão do Supremo Tribunal do Brasil no ano passado que anulou sua condenação por corrupção, permitindo que ele concorresse à presidência novamente nas eleições de outubro.

Lula, que passou um ano e meio na prisão, chamou a decisão da ONU de “purificação extraordinária da alma” enquanto se prepara para disputar uma disputa contra o atual presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.

Pesquisas de opinião mostram o ex-líder sindical de esquerda atualmente liderando a disputa, com 41% das intenções de voto no primeiro turno, ante 32% para Bolsonaro.

“Violações processuais tornaram arbitrária a desqualificação de Lula para concorrer à presidência (em 2018) e, portanto, uma violação de seus direitos políticos, incluindo seu direito de concorrer”, disse um comunicado do painel de especialistas independentes.

Lula, que foi presidente de 2003 a 2010, apresentou uma queixa à comissão em 2016 sobre como foi levado a julgamento na maior investigação de corrupção do Brasil, chamada Operação Lava Jato.

O painel das Nações Unidas, que supervisiona o cumprimento do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos pelos países, pediu ao Brasil que permita que Lula concorra à presidência em 2018.

O painel de 18 especialistas concluiu que as escutas telefônicas durante a investigação e sua divulgação à mídia violavam seu direito à privacidade, enquanto as ações do juiz e dos promotores violavam seu direito de ser presumido inocente.

A comissão instou o Brasil a “garantir que quaisquer outros processos criminais contra Lula cumpram as garantias do devido processo e evitem que violações semelhantes ocorram no futuro”.

Durante seu mandato, Lula supervisionou um período de crescimento econômico explosivo – alimentado por um boom de commodities – que ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza. No entanto, seu próprio Partido Trabalhista posteriormente drenou uma extensa investigação de lavagem de carros, que indiciou vários de seus aliados por corrupção recorde.

O advogado de Lula, Cristiano Zanin, disse que a decisão do painel da ONU sustenta argumentos de que as condenações do ex-juiz Sergio Moro, que supervisionou a maior parte das investigações da lavagem de carros, foram politicamente motivadas.

“Tudo o que fizeram com Lula foi ilegal e arbitrário”, disse Zanin a repórteres em São Paulo.

Ele observou que a comissão deu ao governo brasileiro 180 dias para dizer como abordaria a violação dos direitos de Lula e tornar suas descobertas amplamente conhecidas dos brasileiros.

Moro, que atuou como ministro da Justiça de Bolsonaro até abril de 2020, negou que Lula tenha sido submetido a perseguição política durante uma extensa investigação sobre suborno e contratos exagerados com a petroleira Petrobras e outras empresas estatais.

Ele disse em nota que a revogação da condenação de Lula foi um “grande erro” do STF e afetou a decisão do painel da ONU.

“De qualquer forma, nem mesmo a comissão negou a existência de corrupção na Petrobras ou disse que Lula é inocente”, disse Moreau.

(Reportagem de Emma Farge; reportagem adicional de Anthony Buddle e Lisandra Paraguaso em Brasília; edição de Brad Haines, John Stonestreet e Frances Kerry)

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